Presidente da Comissão Permanente de Educação releva insatisfação dos professores com reajuste e aponta défict no ensino infantil de 10 mil vagas

Foto: Valentin Manieri/O Estado MS
Foto: Valentin Manieri/O Estado MS

“Assim como o Estado está cumprindo a lei do piso, o município também deveria cumprir”

As últimas sete semanas foram intensas para a classe dos professores na briga pelo reajuste de 33,24% definida pela lei federal. A proposta da Prefeitura de Campo Grande de escalonar o aumento em 67% até 2024 não atendeu às expectativas, porém, foi aceita como uma das formas de não prejudicar os alunos com mais paralisação neste início do ano letivo.

O vereador Juari Lopes Pinto, o Professor Juari (PSDB), presidente da Comissão Permanente da Educação, disse que o sindicato, entendendo talvez a Lei da Responsabilidade Fiscal, fechou o acordo até de maneira democrática, mas ficou longe de deixar os professores felizes. “Assim como o Estado está cumprindo a lei do piso, o município também deveria cumprir”, comparou.

O parlamentar demonstrou insatisfação com o prefeito Marquinhos Trad, no episódio em que gravou um vídeo ameaçando descontar o dia trabalho de quem participou da paralisação, realizada no último dia 11, na Capital.

“Aquele vídeo que ele gravou foi mais um desabafo, uma vontade de dizer que ia perseguir aqueles que estavam paralisando. E a questão de descontar mostra que ele não entende de educação e que deveria estudar um pouco mais. Porque se fecha o ano letivo com 200 dias e não pode fechar com 199 dias letivos?”, questionou Juari.

O parlamentar detalha que a Comissão Permanente de Educação da Câmara Municipal de Campo Grande vem recebendo diversas demandas de pais reclamando por falta de vaga na rede pública. “Existe uma deficiência de escolas do ensino infantil muito grande hoje. No nosso gabinete, se eu fosse elencar os pedidos de vaga, nós teríamos que abrir de 10 a 15 mil vagas para resolver o problema de Campo Grande”, aponta.

Juari está em seu primeiro mandato. Ele é concursado na rede estadual de ensino como professor de História, mas já exerceu outros cargos dentro da SES (Secretaria de Estado de Educação). Quinto mais votado a vereador nas eleições de 2020 em Campo Grande, o parlamentar não tem medo das urnas e se coloca à disposição do PSDB para concorrer a uma das cadeiras na Câmara Federal. “Meu carro-chefe é a educação, tenho sido porta-voz da categoria em relação ao executivo, mas também tenho outras bandeiras. A educação meu deu muita base para o meu mandato, principalmente quando fui superintendente das regionais na rede estadual de ensino”, declarou.

O Estado: Por que o acordo entre a Prefeitura de Campo Grande e representantes da categoria não agradou totalmente aos professores que estão em sala de aula?

Profº Juari: Para ter uma ideia, eu que não estou em sala não me senti agraciado. Porque a lei 11738, que é a Lei do Piso, determina que o reajuste seja de 33,24% no ano de 2022. Se você olhar na negociação, nós vamos ter 21% no ano de 2022 e parcelando o restante até 2024.. Aí é um jogo de números. Se olharmos de 2013, quando não houve reajuste no salário do professor, ele está defasado em 67%. Então, o que o prefeito fez, ele parcelou até 2024. Isso para dizer que vai integralizar, porque temos a Lei 5411, que é a integralização de 40 em 20, ou seja, o professor ganha o salário no valor de 40, mas em 20 horas trabalhadas.

O prefeito fez um cálculo de integralização para até 2024. O sindicato, talvez entendendo a questão da Lei de Responsabilidade Fiscal, não sei, nem posso falar, não tenho procuração para isso. O sindicato fechou o acordo de maneira até democrática, que foi em uma assembleia. Os professores participaram e votaram por aceitar. Eu particularmente não fiquei feliz. Acredito que assim como o Estado está cumprindo a Lei do Piso Nacional, o município também deveria cumprir os 33,24% em 2022.

O Estado: Tivemos um dia de paralisação, que foi visto como indicativo de greve. Proporcionou algum dano ao ano letivo?

Profº Juari: Os alunos ficaram dois anos sem ir à escola, então um dia vai mudar o quê? Nada. Foi mais um desabafo do prefeito dizendo que ia perseguir os que estavam paralisando.

O Estado: Sobre a ameaça do prefeito Marquinhos Trad de descontar o salário dos professores que participaram da paralisação, como a Câmara vai se posicionar?

Professor Juari: Aquele vídeo infeliz que ele gravou foi um desabafo. A questão de descontar o dia paralisado mostra também que ele não entende de educação. Você não desconta, porque você só fecha o ano letivo com 200 dias letivos, não pode ter 199? Então vai ser reposto, e repondo não tem desconto. Isso mostra que de educação ele (o prefeito) tem de estudar um pouquinho mais.

O Estado: No momento de negociação, os professores receberam apoio dos pais de alunos?

Profº Juari: Os pais, geralmente, querem que o filho vá para escola. Eles querem que o filho aprenda. Sobre a questão salarial, eu tenho até por indicadores que os pais não se envolvem e, se a categoria parar, eles ficam contra. Os pais não olham o aspecto financeiro, o que o professor está passando. Mobilizar a comunidade é a coisa mais difícil que tem.

O Estado: Eles procuram os vereadores para resolverem problema por falta de vagas? E o que fazer neste momento?

Profº Juari: Todo dia tem pai procurando por nós na Câmara por falta de vaga na rede pública. Existe uma deficiência de escolas do ensino infantil muito grande hoje. No nosso gabinete, se eu fosse elencar os pedidos de vaga, nós teríamos que abrir de 10 a 15 mil vagas para resolver o problema de Campo Grande. Já quando se trata de ensino fundamental, não tem tanta procura, até porque o Estado doou quatro escolas para prefeitura, o Demóstenes Martins, no Pécora; Hilda de souza Ferreira, no Cophatrabalho; Nicolau Fragelli, no São Francisco; e Henrique Schrader, no Tiradentes.

Eram prédios do Estado que foram doados à prefeitura. Espaço físico tem, porém as escolas que existem devem ter manutenção. E recebo muita denúncia sobre o aspecto físico das escolas, que não têm ventilação, muito aluno em sala de aula. Existe lei sobre questão de metragem. Só que o poder público pensa que, se fizer duas salas, serão dois professores. Ter 40 estudantes em uma sala é melhor que duas de 20, na visão deles. Para nós, professores, é o contrário: com menos alunos, você corrige tarefa, acompanha mais individualizado o aluno e dá uma educação de qualidade.

Inclusive sugeri ao prefeito que fosse criada uma superintendência ou diretoria de obras dentro da Semed (Secretaria Municipal de Educação), para que a secretaria possa atacar aqueles pontos mais urgentes e resolver com praticidade. O fluxo hoje é o seguinte, o senhor é o diretor, tem o secretário de educação, e de finanças. A reclamação vai seguindo esse caminho, até que o de inanças pega a autorização do prefeito. Uma burocracia! Quando chegar no final, no prefeito, já até acabou o ano letivo.

O Estado: A Comissão Permanente da Educação tem acompanhado as convocações de professores temporários?

Profº Juari: Existe o processo seletivo feito pela Secretaria Municipal de Educação, que é classificatório, e isso mostra lisura, porque não passa o amigo do vereador ou do prefeito. Houve muitas críticas na ordem de chamadas, porque têm as cotas e têm que ser feitas. Mas acredito que está acontecendo de maneira tranquila. A luta agora é pela folha complementar de pagamento dos temporários, porque imagina o professor que foi para escola em fevereiro só receber em abril… Então o prefeito foi sensível e está pagando. E a Comissão de Educação acaba sendo a ouvidoria do legislativo para fiscalizar e cobrar essas situações.

O Estado: Como vem sendo a experiência de ser professor com mandato na Câmara Municipal?

Profº Juari: Eu entrei na política para representar um grupo de educadores formado em 2002 por professores e administrativos. Tenho sido porta-voz da categoria em relação ao executivo. Tenho me posicionado com certa independência dentro da Câmara, principalmente em relação ao aspecto da educação, porque é uma fala mais técnica, não é tão política. Mas a gente tem diversas outras bandeiras também.

O Estado: O que destacaria de trabalho realizado?

Profº Juari: Faço um balanço positivo, pois sempre trabalhei na educação, primeiro como professor, que sou de carreira, efetivo no Estado. E ainda sou formado em Sociologia, História e Filosofia, sendo que o meu concurso é História. Atuei também na rede privada de ensino e tudo isso me deu muita base para hoje atuar na educação. Claro, no meu mandato não é só educação, a gente tem várias outras bandeiras, mas meu carro-chefe é a educação.

Então, a avaliação do mandato é muito positiva. Nós recebemos, por meio de pesquisas e de manifestações nas redes sociais, muitas observações positivas do fato, de principalmente, ser um vereador acessível. Ainda na campanha, sempre disse que o problema é o pessoal que ganha a eleição e desaparece da base.

Faço o contrário, porque, em dia de sessão ou fora dela, meu gabinete nunca fecha, não tem horário de almoço. Combinei com os colaboradores assim: está aberto das 7h às 18h, vai poder falar com o vereador Juari. É feito um agendamento para a pessoa não ficar esperando e em outras ocasiões vou ao encontro das pessoas no próprio bairro, nas agendas externas. A partir dali recebemos as demandas e buscamos as soluções junto à administração municipal.

O Estado: Como fica o PSDB na Câmara depois do rompimento do partido com o prefeito Marquinhos Trad?

Profº Juari: Hoje, a gente tem uma independência. Marquinhos foi o candidato apoiado pelo PSDB nas eleições. Eu, por exemplo, voto nos projetos que acredito que devem passar, então não tem aquele negócio de goela abaixo, base tem votar igual. Eu, Professor João Rocha e o Ademir Santana, a gente geralmente discute antes e o nosso voto é tranquilo, não tem aquele direcionamento. O relacionamento entre nós é supersaudável com o prefeito. Eu digo que ele ainda não levou para Câmara a discussão ainda de governo, pelo menos não chegou para gente essa discussão. Tem que ver como vai ficar a prefeitura a partir do dia 3 de abril, até então ele diz que vai renunciar, e eu só acredito vendo.

O Estado: Fazer parte de uma nova geração de políticos do PSDB credencia a projetar novos caminhos na política?

Profº Juari: Sou pré-candidato a deputado federal e acredito que o partido vai conseguir manter as três vagas que temos hoje na Câmara Federal e eu vou brigar. Será uma briga saudável com os outros concorrentes do PSDB pela vaga da Rose (Modesto), que deixou o partido. Porque o Beto e o Geraldo tiveram números bons na última eleição e eu acredito que vão conseguir mantê-los. Mas tem muita coisa para acontecer, porque o Geraldo pode ser um secretário, caso o (Eduardo) Riedel seja eleito governador. Beto (Pereira) pode concorrer a prefeito de Campo Grande em 2024.

Texto e entrevista: Rafaela Alves

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