Para lojistas, “lockdown” não impede população nas ruas

Até a sexta-feira (31), o comércio da Capital segue funcionando das 09h às 17h conforme o decreto municipal que proibiu também a abertura dos serviços não essenciais nos dois últimos finais de semana. Entretanto, essa medida mais severa, mesmo antes de decretada, já causava discussão. Depois de ficarem dois sábados fechados e não verem o número de pessoas nas ruas diminuírem, o decreto segue desagradando os comerciantes.

De acordo com a proprietária de uma loja de roupa na 14 de Julho, Leonilda Graciano, 59 anos, ficar dois sábados fechados só agravou mais a situação da sua loja que já não vinha com boas vendas. “Está muito difícil a situação, não sei como vamos manter os funcionários, o movimento já estava fraco, as vendas baixíssimas e ainda perder dois sábados que é o nosso melhor dia de venda, piorou a situação. Por outro lado, eu não vi diferença no comportamento das pessoas, ninguém deixou de sair de casa porque o comércio estava fechado, essa medida só nós prejudicou”, contou.

A gerente de uma loja de roupa também na rua 14 de Julho, que não quis se identificar, também alega que o único prejudicado foi o comércio se levar em conta os números de pessoas nas ruas durante o fim de semana. “Deixamos de vender, de ter uma renda melhor crendo que iriamos ajudar no isolamento social e o que vimos nos sites de notícias é que mais de 200 pessoas por noite eram abordadas pela Guarda Municipal, sem falar nos números de casos do coronavírus”, ressaltou.

Inclusive, foram 720 pessoas abordadas nas ruas durante o toque de recolher nesse segundo final de semana de “mini lockdown”. Só na última sexta-feira (24) foram 249 pessoas orientadas a retornarem e permanecerem em suas residências enquanto no sábado (25), foram 227 e uma pessoa foi conduzida para delegacia. No domingo (26), 244 pessoas foram flagradas descumprindo o decreto. E ainda segundo dados da GCM (Guarda Civil Metropolitana), ocorreram no fim de semana 29 orientações em residências que pode ser festas ou pessoas aglomerando na frente da casa, o que também não é permitido no horário do toque de recolher.

O presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), Adelaido Villa, alega que este modelo de lockdown foi a alternativa encontrada no diálogo com a prefeitura diante da possibilidade de um fechamento total, mas que sabe o quão preocupante é o impacto para o setor. “Quando nós, em diálogo com a prefeitura, tivemos que entregar o sábado e uma hora por semana é porque estávamos diante de um lockdown e a possibilidade era eminente, então não restava muita alternativa para nós. Agora, o impacto é muito significativo para o setor, esse fechamento dos sábados são, pelo menos, R$ 50 milhões a menos de venda para todo o varejo e isso é preocupante, assustador, mas foi necessário”, reiterou.

Adeilado afirmou ainda que o comércio varejista fez sua parte diante de ajudar a prefeitura a manter a população em casa mesmo os números mostrando o contrário. “O objetivo do decreto era justamente ajudar a diminuir a circulação de pessoas, mas até agora, infelizmente, os números que estamos vendo não são números que caíram, são números até que aumentaram nesse período. Não sabemos como seria se não tivéssemos tomando tal medida, nós vamos conseguir reavaliar isso tudo na quinta-feira (30) quando dá o período de 14, 15 dias do decreto. A expectativa é que a gente comece a entrar numa queda no número de casos”, declarou.

Fiscalização reforçada não intimidou população

O número de pessoas abordadas nas ruas durante o toque de recolher nesse segundo final de semana do fechamento dos serviços não essenciais na Capital foi apenas 4% menor que o registrado no primeiro final de semana. Conforme o levantamento da GCM (Guarda Civil metropolitana), ao todo, 720 pessoas foram abordadas neste final de semana enquanto no outro foram 750.

De acordo com o secretário municipal de Segurança e Defesa social, Valério Azambuja, além do aumento na fiscalização, a duração do toque de recolher também reflete no número de abordados. “O que deve ser colocado também em relação aos últimos dados é que antes nós tínhamos cinco horas de toque de recolher e agora são nove horas, com isso pessoas que antes não eram fiscalizadas, agora são. E tivemos ainda um aumento nos números de servidores fiscalizando, inclusive o Ministério Público”, ressaltou o secretário.

Isolamento social

A taxa de isolamento social de Campo Grande também apresentou um pequeno aumento neste segundo final de semana do decreto. Conforme dados da coordenadoria do sistema de informação e conteúdo do governo do Estado, a taxa de sábado (25) foi de 44,10%, quanto que no sábado anterior, 18 de julho, foi de 43%.

No domingo (26), a taxa foi ainda maior e 49,40% das pessoas escutaram a palavra de ordem e ficaram em casa, mas o índice, foi, praticamente, o mesmo do domingo passado, 19 de julho, quando Campo Grande registrou 49,30% de isolamento social. Entretanto, durante a semana, a taxa na Capital não passa dos 36%.

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(Texto: Rafaela Alves)

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