Em Campo Grande, desligamentos somaram 132.748 no acumulado de 2023
No último ano, o número de trabalhadores que decidiram deixar seus empregos atingiu a marca de 7,3 milhões, o que representa 34% dos 21,5 milhões de desligamentos, conforme levantamento feito pela LCA Consultores. Em Mato Grosso do Sul, de acordo com os dados disponibilizados pelo CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a marca de desligamentos apresentou 365.779 no acumulado do último ano em cinco segmentos. Já na capital, a marca atinge 132.748 desligamentos.
Conforme a LCA Consultores, no Brasil, o número de demissões voluntárias avançou 7,4% no comparativo com o ano de 2022, onde foram registrados 6,8 milhões de desligamentos da mesma classe. Conforme o levantamento, o perfil das demissões levou em conta o grau de instrução, já que os empregados mais instruídos formalmente aparecem como a maior parcela de desligamentos a pedido.
Segundo o economista Lucas Mikael, a tendência crescente nas demissões voluntárias é um reflexo na mudança pela forma como as pessoas enxergam a concepção do que é o trabalho.
“O aumento nas demissões voluntárias é notavelmente perceptível entre os jovens, que cada vez mais associam o sucesso profissional à realização pessoal no ambiente de trabalho. Para eles, encontrar uma ocupação que vá além de simplesmente garantir um salário é crucial, pois desejam experiências que ofereçam significado, crescimento e alinhamento com seus valores e interesses. Esse movimento reflete uma mudança geracional na percepção do trabalho, onde a busca por satisfação no emprego muitas vezes supera a mera estabilidade financeira”, argumenta o economista.
Para o editor de vídeos, Felipe Nunes, 22, a afirmação e a nova percepção de trabalho é verdadeira. Conforme argumenta, em outubro de 2023, o profissional foi um dos moradores da capital sul-mato-grossense que optou pela demissão voluntária. Segundo Nunes, os funcionários, de fato, estão mais seletivos com o trabalho. Mas, por outro lado, as empresas também têm deixado a desejar em muitos pontos relacionados à valorização profissional.
“Hoje o salário é incompatível, porque eu acredito que se você olhar o valor do custo de vida básico de um cidadão, pode até considerar e fazer um link com um novo tipo de trabalho escravo”, lamenta, ao destacar que hoje, o valor de um salário além de não ser o suficiente para suprir as necessidades, é pouco para o nível de carga horária de trabalho.
Ex-maître em um restaurante de alta categoria, Wesley Andrade, 28, argumenta que na atualidade os trabalhadores prezam mais do que renda, querem na verdade ter qualidade de vida e tempo para se desenvolver. Por isso, as pessoas têm optado cada vez mais por trabalhos informais, que permitem a flexibilidade nos horários e um rigor menor com relação ao tempo.
“Muitas pessoas procuram ter tempo livre, ter conhecimento e até poder se desenvolver. Um emprego convencional não é ruim, desde que seja regular, 8h trabalhadas, folga na semana, domingo no mês, o clássico. Muitos locais hoje trabalham com uma escala um pouco mais intercalada, por exemplo, um período reduzido em um horário e um outro período dentro do mesmo dia. Isso acaba sendo problemático para quem tem essa necessidade de desenvolvimento, porque às vezes a pessoa quer trabalhar e fazer uma universidade, estudar, se desenvolver e acaba não tendo essa chance por conta da carga horária”, explica Andrade.
O economista da LCA Consultores, Bruno Imaizumi, aponta que o aumento dos desligamentos voluntários reflete uma maior oferta de vagas no mercado, permitindo que os trabalhadores busquem oportunidades mais adequadas às suas aspirações profissionais. “Esse movimento é particularmente evidente entre os jovens, para quem o sucesso profissional muitas vezes está associado à realização pessoal no trabalho”, explica o especialista.
Olhar regional
Em Campo Grande, de acordo com o boletim do CAGED, o mês de dezembro encerrou com uma marca de 10.848 desligamentos. Dentro do balanço, não foi possível verificar o percentual no número de demissões voluntárias – ou seja, aquelas em que o funcionário pede o desligamento da empresa. Já no acumulado, os números da capital atingiram 132.748.
Em Mato Grosso do Sul, o acumulado de desliga mentos no ano de 2023 alcançou 365.779 na soma de áreas como agropecuária, comércio, construção, indústria e serviços. Em 1º lugar está o setor de serviços, com 131.024 de desligamentos. Em 2º o comércio, com 92.066, em 3º o setor agropecuário, com 53.077, em 4º a indústria, com 52.983 e em 5º o setor de construção, com 36.629.
Cenário positivo
Mesmo com números cada vez maiores nas demissões voluntárias, o setor da indústria mostrou que fechou o ano com saldo positivo na geração de empregos. Conforme apurado pelo Radar Industrial da Fiems, Mato Grosso do Sul encerrou 2023 com 8.009 vagas abertas no estado. Ainda conforme o levantamento, as três atividades industriais que mais abriram vagas no acumulado foram as obras de infraestrutura, com 3.012 vagas, abate de bovinos, com 1.655 e fabricação de álcool, com 1.036 positivos.
O economista-chefe da Fiems, Ezequiel Resende, explica que hoje há aumento de 5,6% em relação ao fechamento do ano anterior, quando o contingente ficou em 142.353 funcionários. “O conjunto das atividades industriais em Mato Grosso do Sul encerrou o ano de 2023 com o total de 150.362 trabalhadores empregados. A atividade industrial responde por 24,1% de todo o emprego com carteira assinada (CLT) existente em Mato Grosso do Sul, ficando atrás apenas do segmento de Serviços que emprega 239.121 trabalhadores com participação equivalente a 38,3%”, destaca o economista.
Por fim, as atividades industriais que mais fecharam vagas no acumulado de 2023 foram a construção de edifícios, com menos 773, fabricação de calçados de material sintético, com menos 92, a fabricação de alimentos para animais, com 84 empregos negativos e a fabricação de estruturas de concreto armado, com menos 81 empregos.
Por Julisandy Ferreira.
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