Nosso Olhar: oficinas de fotografia levam cidadania a crianças e adolescentes do Jardim Noroeste

nosso olhar

As fotógrafas Elis Regina Nogueira e Vânia Jucá esperaram pelo menos um ano pelo encontro com crianças e adolescentes iniciado ontem no Jardim Noroeste. A retomada do projeto Nosso Olhar – Fotografia para a Cidadania, aprovado na última edição do FIC (Fundo de Investimentos Culturais) da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), em 2019, só foi possível agora, obedecendo a todos os protocolos de segurança.

Ao todo 70 crianças participam das oficinas, que seguem até setembro na Associação Amigos de Maria. O projeto de inserção social de crianças e adolescentes por meio da fotografia também é muito esperado pelas crianças Nicolas (8 anos), Diego (13 anos), Diogo (14 anos) e pela mãe deles, a diarista Miréia dos Santos Evangelista.

Atualmente desempregada, Miréia valoriza cada oportunidade que surge na Associação Amigos de Maria, entidade sem fins lucrativos, que há dez anos realiza serviços assistenciais no Jardim Noroeste, a 20 minutos do centro de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul.  “É a esperança da gente ver nossos filhos fazendo um curso bom, e se Deus quiser, quem sabe um deles vira um fotógrafo famoso”, acredita Miréia.

Transformando vidas

O exemplo da transformação proporcionada pela arte não está muito longe dali, e muito menos do projeto. Maurilio Aparecido Gomes de Lima, hoje com 31 anos, foi uma das quase 500 crianças que cruzaram os caminhos de Elis e Vânia, desde 2002, quando as primeiras oficinas começaram. O garoto tímido foi tocado pelo encontro com a arte. Por méritos próprios trilhou novos caminhos: se tornou assistente social, depois técnico de eventos e atualmente cursa Gastronomia e abriu o próprio restaurante no bairro Tiradentes, onde já morava na época do projeto. Ele contou sua história para os 15 participantes da primeira das quatro turmas de agosto, realizada na manhã de ontem.

Para Maurilio a experiência foi modificadora. “Na minha época o projeto se chamava ‘Novo Olhar’. Na quarta edição ele passou a se chamar ‘Nosso Olhar’. Eu tinha em torno de 12 ou 13 anos. Foi uma iniciativa que me ajudou muito. Eu sou nascido e criado na favela, no Bairro Tiradentes. Hoje me considero uma pessoa muito política. Não pertenço a nenhum grupo, mas converso com todo mundo. O projeto abriu muito a minha mente me tornou uma pessoa melhor.”

De acordo com Maurilio, a fotografia o ajudou a não trilhar o caminho da criminalidade. “Na minha primeira faculdade, aos 18 anos, eu reencontrei as professoras, quando estudei Tecnologia e Produção de Multimídia na Uniderp, e foi gratificante encontrar as professoras Elis Regina e Vânia Jucá. Desde então mantemos contato. O ‘Novo Olhar’ foi o primeiro projeto de que participei na vida e na época eu era um menino muito tímido. Eu aprendi muita coisa lá. Por mais que hoje eu não esteja exercendo uma profissão ligada à fotografia, sempre trabalhei na área. Também sou formado em Serviço Social e sou técnico em eventos. Hoje curso Gastronomia, pois atuo na área de restaurantes, porém trabalhei bastante com fotografia e isso me tirou de um caminho diferente, que muitas vezes as pessoas tomam quando moram na favela.”

Escolha do bairro foi providencial

A fotógrafa Elis Regina Nogueira explica a escolha pelo Jardim Noroeste. “Fui pesquisar sobre o Jardim Noroeste e vi que é um bairro que tem muita criança, é um dos bairros que têm mais população infantil e criança carente na cidade, basicamente foram esses dois motivos. Primeiro que a gente viu que era um bairro carente, carente de tudo e que tem muita criança, e segundo porque existe a associação que a gente poderia fazer uma parceria, porque a gente precisa de uma sede, de um espaço físico pra dar as oficinas e a gente contatou e fizemos essa parceria com a Associação Amigos de Maria.”

Apoio da UFMS

Alunos e professores do Laboratório de Estudos Rurais e Regionais do Curso de Geografia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) também terão a oportunidade de conversar com as crianças e os adolescentes na abertura de cada oficina. “As imagens produzidas irão revelar, por um lado, o bairro e, por outro, como ele é percebido pelas crianças e adolescentes. Isso contribui para os processos de desenvolvimento territorial que beneficiam o Jardim Noroeste, entre eles a horta comunitária que está sendo desenvolvida, diz Ana Paula Correia de Araújo, integrante da Associação Amigos de Maria e professora e doutora do Curso de Geografia, um dos parceiros da entidade.”

As oficinas estão divididas em faixas etárias. Serão quatro para crianças de 7 a 10 anos, durante todo o mês de agosto. Em setembro, será a vez das crianças de 11 a 15 anos participarem. A Associação Amigos de Maria fica na Rua Indianápolis, 2020, Jardim Noroeste.

“As turmas das oficinas já estão fechadas, vão ser quatro turmas com crianças de 7 a 10 anos, com carga horária de 9 horas/aula, 3 horas por aula, é uma oficina mais lúdica, onde a gente brinca com a questão da câmara escura, faz uma experiência para eles entenderem como funciona a formação da imagem através da câmara escura; e uma oficina que vai ser em setembro que é uma oficina com pré-adolescentes e adolescentes de 11 a 15 anos, onde serão 20 horas/ aula, e essa oficina é um pouco mais técnica, é uma oficina voltada um pouco mais para fotografia com a técnica de composição, luz e tal, porque são adolescentes, são crianças maiores”, finaliza a fotógrafa. Acesse também: Fundesporte e SPPM promovem workshop de defesa pessoal para mulheres

(Texto: Marcelo Rezende)

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