Os grandes incêndios florestais estão entre as principais consequências
Um levantamento da Nasa, por meio de simulações computacionais, aponta que, em um futuro próximo, o Norte e o Centro-Oeste do Brasil estão entre as regiões mais afetadas por uma possível diminuição das chuvas, pela perda da umidade relativa do ar e pelo avanço do chamado “tempo de fogo”, caso ocorra o aumento de 2°C na temperatura global, o que pode ser alcançado nas próximas décadas.
Neste ano, já notamos um inverno com dias mais quentes que o normal para a estação, sendo assim, é possível esperar, nos próximos meses, um aumento ainda maior de temperaturas, principalmente nos meses de setembro, outubro e novembro, em todo o país. Normalmente, em Mato Grosso do Sul, por exemplo, em Campo Grande, outubro, é o mês das mais altas temperaturas, embora as pessoas pensem que é dezembro ou janeiro. Aqui, no Estado, o nosso recorde de maior temperatura, historicamente, é outubro.
De acordo com o meteorologista do Cemtec (Centro de Monitoramento de Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul), Vinicius Sperling, este é mais um efeito do fenômeno El Niño, que deve se intensificar neste período perceber que a influência do fenômeno está deixando as temperaturas globais mais quentes que o normal e inclusive, aqui, em Mato Grosso do Sul, que as temperaturas tendem a ficar acima da média. Então, podemos esperar para setembro e outubro a certeza de altas temperaturas e ‘calorão’, porque estamos sob a influência do El Niño”, explicou.
“Uma frequência maior de eventos climáticos extremos, isso propicia incêndios de larga escala” Walfrido Tomas, pesquisador Embrapa Pantanal
dezembro e janeiro, também, são meses quentes, mas, por conta da máxima ocorrência de chuvas nesse período, o clima acaba ficando mais ameno, pois o dia inicia com muito calor, fecha a cobertura de nuvens, ocorrem as pancadas de chuva, isso atenua o calor de dezembro e janeiro. Então, quanto a setembro, outubro e novembro, não há chuvas muito bem estabelecidas.
O grande problema é que as altas temperaturas podem ser prejudiciais em diversas vertentes, mas principalmente para a saúde humana. Sperling enfatiza que, quando a temperatura do ar está acima de 37ºC, 38ºC, o corpo humano costuma sentir o impacto na saúde, além disso, as plantas também sofrem com isso. “Como no Mato Grosso do Sul há essa característica forte do agronegócio, a própria saúde dos animais, também da pecuária, preocupa, porque o problema em ter essas altas temperaturas próximas de 38ºC, 40ºC em outubro, com cinco dias, uma semana sem chuva, podemos pensar assim: todos os dias, no período da tarde, chegar a 38ºC, tendo de cinco a sete dias sem chuva. Criam um ambiente bem ruim para o ser humano, para as plantas, para os animais e para o meio ambiente, como um todo”, afirmou.
Outra consequência que causa ainda mais preocupação é o risco de incêndios florestais, porque, de acordo com o meteorologista, o mato fica seco e a temperatura da biomassa fica muito alta também. Então, qualquer fagulha ou fogo amplifica o risco de incêndios florestais. Neste mês, já foram detectados 184 focos de incêndios ativos pelo satélite de referência do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), até a última sexta-feira (18), em Mato Grosso do Sul.
E quando falamos sobre incêndios florestais não podemos esquecer do Pantanal e, inclusive, dos grandes incêndios registrados no bioma, em 2020. Segundo dados do Inpe, naquele ano, o Pantanal somou quase oito mil focos de incêndio. Conforme o pesquisador da Embrapa Pantanal, Walfrido Tomas, uma das maiores preocupações com o bioma é justamente quanto aos incêndios, em relação às mudanças climáticas.
“O Pantanal não tem perdido espécies e está bem conservado, com os ecossistemas ainda mantidos, apesar dos incêndios catastróficos de 2020, mas aquilo foi o extremo climático, uma combinação de fatores climáticos que levou àquilo e causou impacto para todos. A preocupação maior é a questão do fogo, que, com as mudanças, pode levar a uma frequência maior de eventos climáticos extremos, isso propicia incêndios de larga escala”, aponta.
TEMPO DE FOGO
As simulações computacionais feitas pelos pesquisadores da Nasa traçaram um dos retratos mais detalhados até agora do que acontecerá com a Terra, caso o temido aumento de 2°C na temperatura global seja alcançado, nas próximas décadas.
Segundo a pesquisa, isso pode acontecer já a partir de 2040, caso as ações de combate à emergência climática não se tornem muito mais eficazes do que estão sendo hoje. E o resultado, embora variável de região para região do planeta, será a presença de muitos impactos concomitantes sobre o clima, que irão além do simples aumento da temperatura. Nesse cenário, o Norte e o Centro-Oeste do Brasil estão entre as regiões mais afetadas.
Além da variável óbvia num cenário de aquecimento global, os pesquisadores do centro da Nasa analisaram fatores como a intensidade de secas, as chuvas e a velocidade dos ventos. Essas variáveis podem ser combinadas para avaliar o risco do que os especialistas chamam de “fire weather” (literalmente, “tempo de fogo”, ou seja, a probabilidade de que aconteçam grandes incêndios).
Além da probabilidade de que o aumento da temperatura média global chegue a 2°C (acima da que prevalecia antes da Revolução Industrial) entre os anos de 2041 e 2044, o levantamento indica que o grosso dos problemas climáticos combinados atingirá, em geral, países mais próximos dos trópicos, exacerbando vulnerabilidades que já estão presentes hoje. (Com Reinaldo José Lopes/ Folhapress).
Por: Camila Farias – Impresso
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