Com maior taxa desde 1994, inflação no setor bate recorde e gera reflexo nos aeroportos
Ao apresentar a maior taxa de inflação desde 1994, as passagens aéreas têm, em quase 30 anos, um dos preços mais caros da história, a contar o início da circulação do real, há 20 anos. No Aeroporto Internacional de Campo Grande, viajantes mostram descontentamento no valor das passagens aéreas, além de apontar também, a inconveniência de ter que pagar o excesso de bagagem, sobretudo em viagens de curta distância.
De acordo com o levantamento feito pela LCA Consultores, publicado pela Folha de São Paulo, até dezembro de 2023 a passagem de avião no Brasil apresentou alta de 2.728%, assumindo o ranking de top dois dentre as dez maiores altas de preços no acumulado desde julho de 1994, período em que o país sentia as mudanças geradas pela alteração na implementação da moeda brasileira URV (Unidade Real de Valor). Dentre 20 produtos e serviços contemplados pelo levantamento, apenas a passagem aérea, com 2.728% e o gás de botijão, com 2.37% subiram mais do que o salário-mínimo.
O engenheiro eletrônico aposentado, Fernando Ortiz Junior, 66, que vem a Campo Grande uma vez ao ano para visitar o filho, revela que com destino à Capital não sentiu tanta diferença na precificação, já que a viagem foi programada com antecedência.
“Vou muito a Minas Gerais – Belo Horizonte e, lá sim, eu percebi um aumento, só que as companhias aéreas usam artifícios para encher as aeronaves em certos horários, por exemplo, se você pegar um voo de madrugada, é interessante. Mas, nem sempre todo mundo tem a disponibilidade de viajar às 2h ou 3h da manhã. Em horários administrativos, está muito caro. De São Paulo para Minas Gerais, aumentou pelo menos uns 30% em horários convencionais administrativos, das 08h às 17h. O pior de tudo isso é cobrar pela bagagem, isso eu acho um absurdo, um voo curto com preço de bagagem sendo despachada por R$ 100, R$ 120 e R$ 150″. pontuou Ortiz.
Já a médica Viviane Batista Santos, 26, argumenta que do ano passado para cá viajou mais vezes de avião e tem reparado que os preços aumentaram bastante, sobretudo no pós-pandemia. Como opção mais barata, a médica inclusive tem aderido cada vez mais às viagens de ônibus.
“Eu vou bastante para Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que é onde eu moro. Usando como comparação Brasília, que é para onde eu mais fui, eu já cheguei a comprar passagem de R$ 200 ida e volta e agora tá uns R$ 600 ou R$ 800, dependendo da época. Às vezes eu acabo optando por ônibus, que é uns R$ 200 ou R$ 300 mais barato e não demora tanto para ir”, revela Santos.
Visão de especialista
Conforme explica o economista, Lucas Mikael, os valores partem de uma combinação de fatores econômicos e sociais. Os custos de produção, por exemplo, exercem influência direta na precificação. “Aumento nos salários, custos de matérias-primas e despesas operacionais podem levar as empresas a repassar esses custos aos consumidores, refletindo no preço final do produto. O desenvolvimento tecnológico também pode ser um catalisador, porque se um produto incorpora inovações recentes, os custos de produção podem aumentar, contribuindo para uma elevação nos preços”, explica o economista.
Segundo Mikael, a demanda crescente também é um fator determinante. Afinal, se a procura por um produto aumenta, os fabricantes podem ajustar os preços para refletir essa maior demanda, uma dinâmica comum durante períodos de forte crescimento econômico. Essa complexa interação de fatores varia entre setores e produtos, sendo influenciada por condições econômicas específicas e características do mercado. “Em setores como a aviação, os custos operacionais desempenham um papel crucial. Aumentos nos preços do combustível, despesas de manutenção de aeronaves e investimentos em infraestrutura aeroportuária podem pressionar as companhias aéreas a ajustar os preços das passagens para compensar esses custos crescentes”.
Posicionamento das companhias
Em nota ao jornal O Estado, a companhia aérea Azul esclareceu que os preços praticados variam de acordo com fatores como trecho, sazonalidade, compra antecipada e disponibilidade de assentos. Fatores externos, como a alta do dólar, o preço do combustível e conflitos internacionais, também são elementos que influenciam os valores.
Como tentativa de trazer alternativas melhores ao consumidor, a Azul afirma estar “construindo uma pauta com os entes públicos para melhorar o cenário de custos estruturais do setor que inclui o QAV (querosene de aviação) e o custo de judicialização excessiva, que são os mais altos do mundo, além do acesso ao crédito doméstico para as empresas aéreas”.
A LATAM Airlines Brasil também informou a influência desses fatores sobre o setor aéreo e pontuou o preço do QAV, que corresponde na atualidade 42% dos custos de operação da LATAM. Conforme destacado pela companhia, hoje o valor do QAV acumula alta de 101,3%, enquanto a tarifa média das passagens aéreas subiu 68%, de acordo com dados da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
O diretor-geral da CVC Viagens, Emerson Belan, destacou que a principal jogada para economizar, é sempre buscar pelas passagens com antecedência. Afinal, desde o início da pandemia, as companhias aéreas ainda não conseguiram retomar a mesma oferta de antes e ainda estão com menos aeronaves e assentos disponíveis.
A demanda está muito alta, o que gera um aumento nos preços. E isso, no curto e médio prazo se torna mais elevado, mas se o cliente olhar mais para frente e planejar sua viagem com antecedência, consegue encontrar preços melhores”, esclarece o diretor da CVC.
Voa Brasil
Nesta terça-feira (5), em cerimônia no Palácio do Planalto, foi dado início às atividades do ‘Voa Brasil’, programa que deverá fornecer passagens aéreas a R$ 200 nesta 1ª etapa para pensionistas e aposentados federais que não tenham viajado nos últimos 12 meses, além de alunos do ProUni.
Por Julisandy Ferreira.
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