MST bloqueia BR-163 em Campo Grande e pressiona governo por avanço na reforma agrária em MS

Foto: Lívia Medina
Foto: Lívia Medina

Protesto reuniu 350 manifestantes e foi encerrado após duas horas de negociação; movimento cobra respostas do Incra e Ministério do Desenvolvimento Agrário

 

Na manhã desta quarta-feira (30), cerca de 350 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) bloquearam um trecho da BR-163, na saída para São Paulo, em Campo Grande. A manifestação, iniciada por volta das 4h45, foi encerrada por volta das 9h30, após negociação com representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O protesto foi mais um capítulo da série de mobilizações promovidas pelo movimento no mês de abril em defesa da reforma agrária.

Segundo os manifestantes, o bloqueio foi uma resposta à ausência de diálogo por parte do governo federal sobre demandas relacionadas à distribuição de terras em Mato Grosso do Sul, que, de acordo com eles, é o único estado do país que ainda não recebeu respostas efetivas do Incra e do Ministério do Desenvolvimento Agrário. De acordo com Solange, coordenadora do Movimento Camponês de Luta pela Reforma Agrária e representante da Unitária Agrária, há mais de 13 anos não são feitos novos assentamentos no estado. Ela afirmou que a paralisação da rodovia foi uma forma de pressionar o governo e que veículos de emergência, como ambulâncias e transportes escolares, foram autorizados a passar.

“Fizemos essa paralisação porque, da última vez, quando bloqueamos a BR-060, uma proposta foi apresentada, mas não foi cumprida. Queremos que a pauta com o INCRA e o Ministério do Desenvolvimento Agrário seja de fato atendida”, afirmou a líder do movimento.

Fernando Silva, representante do MST, afirmou que o movimento está mobilizado desde as 4h45 da manhã, em conjunto com outras organizações, para pressionar o INCRA e o Ministério do Desenvolvimento Agrário a atenderem suas pautas. Segundo ele, as reivindicações começaram a ser atendidas após as mobilizações do Abril Vermelho. As manifestações, segundo Silva, são pacíficas, com passagem liberada para ambulâncias, educadores e estudantes. Uma reunião com representantes do ministério está marcada para hoje em Campo Grande, e o grupo seguirá para o INCRA para continuar as negociações.

“A nossa mobilização vem fazendo jus ao abril vermelho, tendo em vista que a nossa mobilização nas BRs, elas são pacíficas, são conscientes, a gente deixar deixando as ambulâncias, o pessoal da saúde, os educadores, alunos, passar, liberar. A princípio, a nossa mobilização foi mesmo para chamar a atenção dos órgãos responsáveis.”

O protesto causou longas filas de veículos. Claudomiro Silva, de 80 anos, ficou preso no congestionamento por mais de 40 minutos e se mostrou indignado com a ação.  “Pensávamos que era um acidente, mas era manifestação. É um absurdo isso aí. A polícia tinha que prender”, reclamou.

Outro motorista, Celesmar Firmino, que seguia para Nova Alvorada do Sul a trabalho, também criticou o ato. “Acho que esse pessoal só atrapalha quem está tentando fazer o país crescer. Esse tipo de baderna só faz o Brasil piorar.”

O chefe da Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Campo Grande, Marcos Kley, informou que a ação foi pacífica e que não houve incidentes graves. A negociação para liberar a rodovia durou cerca de duas horas. “Foi feito o contato com o Incra e o superintendente regional compareceu ao local. Após o agendamento de uma reunião, os manifestantes liberaram a pista”, disse.

Foto: Lívia Medina

O governador de Mato Grosso do Sul defendeu que a reforma agrária é uma política do governo federal e que as reivindicações do MST devem ser tratadas diretamente com Brasília. Criticou os métodos utilizados pelo movimento, como bloqueios de rodovias e invasões de propriedade, afirmando que esses atos prejudicam a população e não serão aceitos pelo Estado. Ele ressaltou que há áreas disponíveis e aumento no número de famílias cadastradas no Incra, mas que a solução deve vir do governo federal. O Estado, segundo ele, está disposto a colaborar, mas dentro da legalidade e da ordem pública.

“É inaceitável impactar a vida de milhares de pessoas com bloqueios de rodovias. Invasão de propriedade privada não será aceita. Existem áreas disponíveis e o Incra precisa viabilizar os projetos. O Estado está à disposição para colaborar, mas não aceitará esse tipo de ação que prejudica a sociedade”, declarou.

Mobilizações intensificadas

O protesto desta quarta-feira faz parte de uma série de manifestações organizadas pelo MST no chamado Abril Vermelho, mês tradicional de mobilizações em defesa da reforma agrária. No dia 26, cerca de 300 famílias ocuparam uma fazenda da JBS em Dourados, alegando que o imóvel estava improdutivo há mais de 12 anos. A ação gerou forte resposta dos proprietários e intervenção policial com uso de bombas e balas de borracha.

Dois dias depois, o grupo bloqueou a BR-060, que liga Campo Grande a Sidrolândia, e ocupou o prédio do Incra na capital sul-mato-grossense. As ações buscam pressionar por respostas quanto ao assentamento de famílias acampadas e a regularização fundiária de áreas já ocupadas.

Com a reunião agendada entre os representantes do movimento e o Incra ainda nesta quarta, o MST aguarda avanços concretos na pauta. Porém, os líderes não descartam novas mobilizações caso as demandas não sejam atendidas.

 

Com colaboração das repórteres Inez Nazira e Djenifer Córdoba

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