Pacientes seguem aguardando nove meses por atendimento no CEM
Levando em conta os dados do censo demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem 2,69 médicos por 1.000 habitantes. São 545.7671 médicos para uma população total de 203.062.512 pessoas. O estudo foi conduzido pela Faculdade de Medicina da USP em parceria com a AMB (Associação Médica Brasileira).
Com base nos dados apresentados, em Mato Grossso do Sul existem 8.066 médicos, para uma população de 2.756.700 pessoas, o que gera uma média de 2,93 profissionais por 1.000 habitantes. Em Campo Grande, o estudo apontou que existem 4.668 profissionais, para atender a uma população de 897.938 pessoas, ou seja, uma média de 5,20 médicos por 1.000 habitantes. Quando se analisam os dados registrados em outras capitais do país, é possível encontrar um cenário diferente, como o apresentado em Vitória- ES, que já era a Capital brasileira com maior densidade médica e que tem, agora, 18,14 médicos por 1.000 habitantes, um acréscimo de 3,65 após o ajuste populacional. No outro extremo das Capitais, com menos de três médicos por 1.000 habitantes, estão Macapá (2,21), Boa Vista (2,68) e Manaus (2,77).
Confome o levantamento, em se tratando de médicos por especialidades de formação, Mato Grosso do Sul possui uma razão de 28,51 especialistas em cirurgias por 100.000 habitantes (acima da média nacional de 26,33); em anestesiologia, o Estado possui uma razão de 12,22 especialistas por 100.000 habitantes (abaixo da média nacional 14,46); em ginecologia e obstetrícia, Mato Grosso do Sul possui 42,31 especialistas por 100.000 habitantes (acima da média nacional de 41,69); em pediatria, o Estado possui 84,98 especialistas por 100.000 habitantes (abaixo da média nacional de 91,88); em clínica médica são 24,49 profissionais por 100.000 habitantes (abaixo da média nacional, de 28,06); em medicina da família são 4,10 especialistas por 100.000 habitantes (abaixo da média nacional de 5,54); em psiquiatria, o Estado tem 6,31 médicos por 100.000 habitantes (abaixo da média nacional, de 6,84 profissionais); em oftalmologia são 9,32 médicos por 100.000 habitantes (acima da média nacional, de 8,85) e em cardiologia, onde atuam 10,77 profissionais (acima da média brasileira de 10,01).
O recomendado pelo Ministério da Saúde é uma média de um profissional para cada mil habitantes. Contudo, no dia a dia, a população de Campo Grande segue enfrentando sérios problemas, ao tentar agendar uma consulta médica, principalmente se tratando de médicos especialistas. A equipe do jornal O Estado esteve, na tarde de ontem (12), no CEM (Centro de Especialidades Médicas) e conversou com a aposentada Valdelina Bispo dos Santos, 60. Ela veio de Aquidauana para passar por atendimento na Capital. A idosa tem problemas de tireoide e parte da garganta afetada. “Marquei médico dia 15 de janeiro e só fui atendida em 12 de setembro, quase nove meses depois. Nossa saúde pública é precária”, disse.
Em situação semelhante está a trabalhadora doméstica Helena Pereira, 43, que vive na cidade de Camapuã e trouxe a filha de cinco anos para atendimento com pneumologista, na unidade da Capital. “A consulta dela foi marcada há seis meses atrás e só agora fomos chamadas. O problema dela se agravou, por conta da demora, o médico até me deu uma bronca, mas, infelizmente, não tem médico suficiente no SUS”, lamentou.
Cenário de espera também foi confirmado pela dona de casa Mikaela de Souza, 29, que reside em Campo Grande e precisa passar pelo médico. Logo após fazer um ultrassom, ela conta que o processo demorou cinco meses. “Todos os dias ligava para saber se tinha vaga ou médico, a resposta era a mesma: tem pacientes na frente. É um fato – não tem médico suficiente para atender, pois em todas as especialidades faltam profissionais”, ressaltou.
Média nacional
No cenário nacional, considerando que o Brasil registra, agora, 2,69 médicos por 1.000 habitantes, duas das grandes regiões estão abaixo da média nacional: o Norte, com 1,65, e o Nordeste, com 2,09. É a primeira vez, no entanto, que o Nordeste, como um todo, passa a registrar mais de dois médicos por 1.000 habitantes, embora existam diferenças entre os Estados da região.
O Sudeste tem a maior densidade médica (3,62), seguido de Centro-Oeste (3,28), muito em função do Distrito Federal, e da região Sul (3,12). Com 2,69 médicos por 1.000 habitantes, o Brasil passa a ter densidade médica próxima à dos Estados Unidos, Japão, Canadá e Chile. Já Reino Unido, França, Alemanha e Espanha têm densidade médica maior que a brasileira. O Brasil continua abaixo da média dos países da OCDE11, que é de 3,7 médicos por 1.000 habitantes.
Vale destacar, que o termo “densidade médica” corresponde ao número de profissionais médicos em relação à população de determinado território. Este estudo adota a razão de médicos por 1.000 habitantes, que é um indicador internacional de demografia médica. Por limitação das bases de dados, considerou-se tanto o número de indivíduos médicos (545.767) quanto o número de registros de médicos (596.796). A diferença de 51.029 médicos entre os dois grupos equivale aos profissionais com registros secundários, inscritos em mais de um CRM (Conselho Regional de Medicina), o que é legalmente previsto. São médicos que podem ocupar postos de trabalho em mais de um Estado ou que se deslocam temporariamente de um Estado para outro, dentre outros motivos. Na contagem nacional, utiliza- -se o número de indivíduos. Já na contagem segundo regiões, Estados ou municípios, é usado o número de registros de médicos em cada CRM.
Por – Michelly Perez e Thays Schneider
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