População destaca que não é contrária, mas exige condições básicas para a instalação das famílias
A reportagem do jornal O Estado visitou duas áreas anunciadas para o reassentamento da Comunidade do Mandela. Moradores do Jardim Talismã promoveram uma manifestação contra a ação de remanejamento dessa população. E no bairro José Tavares, residentes revelam que a área não tem infraestrutura para comportar novos integrantes.
Ao anunciar os locais que as famílias do Mandela seriam recebidas, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, alegou que foi feito um estudo das áreas, para que as famílias tivessem estruturas adequadas para a mudança. Ao todo, serão 187 famílias contempladas, em cinco áreas da cidade.
“São as áreas definidas com cultura, escola, creche e também Cras próximos. As regiões que nós definimos, com as nossas equipes técnicas da Agência deHabitação, estão prontas para receber esses novos moradores da comunidade”, garantiu.
Contudo, a comerciante do José Tavares, Katiuscia Freitas, revela não ter assistência médica na região. Ela trabalha e mora na mesma rua há anos, ao lado da rua Alcibiades Barbosa, onde ficará o novo empreendimento, e confessa que o lugar tem algumas discussões, mas receia que a situação se agrave com a chegada dos novos ocupantes.
“O bairro não comporta o número de pessoas que vão vir para cá. Aqui não tem médico, não tem remédio, não tem escola. Nas escolas em volta daqui, o sexto ano, na maioria delas, foi tirarado. Não desmerecendo, porque o Mandela tem pessoas de família boas, mas também tem muita gente ruim, então esse é o nosso medo, desse pessoal vandalizar o bairro, trazer confusão.” Katiuscia teme pelo seu negócio. “Eu vou esperar que eles virem, vou ver e conforme for, vou fechar [a loja], porque é complicado manter.”
Em vista ao Jardim Talismã, a equipe notou uma movimentação na rua Jacinto Máximo Gomes, os moradores fecharam trecho da rua e pediam atenção para a ação deles. Os protestantes fizeram um abaixo- -assinado para que parte da Comunidade do Mandela não se mudasse para a região.
“Na realidade, a gente está reivindicando essa área, que é nossa há 20 e poucos anos. Nós não queremos que não faça casa para o pessoal, cada um tem direito à sua dignidade e à sua moradia, mas essa é uma área que ficou para construir uma escola, uma praça de diversão para nossos filhos. E onde a gente vai construir a praça? Onde a gente vai fazer a nossa área de lazer? Se construir aqui, acabou esse sonho” diz, revoltado, o manifestante Claudimar Feitosa. Ele ainda acrescenta que gostaria que a chefe do Executivo conversasse com os moradores antes de tomar essa decisão. “Agora ela, [a prefeita,] vem, pega uma área que é nossa há muitos anos e dá assim, como se nada tivesse acontecido, sem fazer uma reunião com a população para ver o que a gente acha”, finaliza.
O presidente do bairro, o organizador da ação, Everton da Silva Lopes, estava presente e contou sua indignação com a situação. “A perfeita anunciou que vai mover o pessoal de Mandela pra cá, só que é estranho, eles vão dar um local para o pessoal primeiro e depois vão construir. Vão montar barraco, depois vão querer construir as casas, mas ano que vem é ano eleitoral, ela não vai poder cumprir essa promessa. Vai virar uma favela no nosso bairro. A comunidade Mandela merece uma moradia digna, mas não vai dar tempo.”
Por – Inez Nazira.
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