Na Capital, moradores do bairro que leva nome de Tiradentes desconhecem sua história; conheça

Foto: Arquivo/Agência Brasil
Foto: Arquivo/Agência Brasil

Por SUELEN MORALES (O ESTADO MS) – Neste 21 de abril, é celebrado o feriado nacional de Tiradentes. Data reconhecida no calendário desde 1965. Mas, afinal, quem foi Joaquim José da Silva Xavier? E qual a relação do ícone da história brasileira com a criação e nomeação do bairro Tiradentes em Campo Grande?

A equipe de O Estado MS percorreu as ruas do bairro, que possui mais de 21 mil habitantes, e questionou os moradores sobre a história do herói nacional. No entanto, a maioria demonstrou desconhecer seu legado.

Um casal que passeava por uma das principais ruas do bairro Tiradentes, avenida José Nogueira Vieira, tentou arriscar um palpite. “Não sei quem é. Tem alguma coisa a ver com o fundador de Campo Grande?”, questionou o estudante Bruno Fernando, 22.

Já sua namorada aproveitou para fazer uma rápida busca na internet. “Foi Tiradentes e eu pensava que esse era o seu sobrenome, mas não”, reiterou Carla Falcão, 22, que mora desde os 4 anos no bairro Tiradentes, na Capital. A comerciante local Daniela Sabino, 36, também revelou desconhecer quem seria Joaquim José, o Tiradentes. “Não sabemos, fugimos da aula de História. Mas desconfio quem seja Tiradentes”, brincou a empresária.

Registro de parte do bairro Tiradentes; ao fundo, Lagoa Itatiaia. Foto: Reprodução/Mapio.net

Joaquim José da Silva Xavier (1746–1792), mais conhecido como Tiradentes, foi executado há 230 anos, no dia 21 de abril de 1792, enforcado no Rio de Janeiro. Era alferes da cavalaria, dentista, comerciante, minerador e ativista político durante a Inconfidência Mineira, um dos primeiros movimentos organizados pelos habitantes do território brasileiro, no sentido de conseguir a independência do país em relação a Portugal.

O reconhecimento de Tiradentes como herói se deu quase 100 anos após sua morte: a oficialização e consolidação dessa imagem são obras da ditadura militar. Considerado o Patrono Cívico do Brasil, Tiradentes foi reconhecido em feriado nacional, a ser comemorado em 21 de abril, exatamente a data de sua morte, desde 1965, por uma lei sancionada pelo presidente Humberto Castello Branco (1897–1967), o primeiro da ditadura militar brasileira.

Também, em 21 de abril de 1992, 200 anos após sua morte, Tiradentes foi incluído no Livro dos Heróis da Pátria. Mas nem todos desconhecem o nome e o legado do ícone nacional.

Monumento de nascimento e morte de Tiradentes, na cidade mineira homônima. Foto: Gil Leonardi

O mototaxista Valter Ferreira de Souza, 50, não se mostrou surpreso com a pergunta e prontamente respondeu a nossa equipe de reportagem. “Não fugi da escola. Foi Tiradentes! O mártir da Inconfidência Mineira, que morreu lutando por menos impostos em nosso país”, respondeu.

Outro morador que passeava pela via revelou ser professor de História e aproveitou para fazer uma análise entre a semelhança de Tiradentes com Jesus Cristo. “Esse oficial da época foi contra o sistema governamental. Qual a diferença entre Tiradentes e o Cristo? Nenhuma! Pois os dois eram contra o sistema”, ponderou Alto de Oliveira, 70.

O mestre em História, professor Roberto Figueiredo relembra que por muito tempo a figura de Tiradentes foi intencionalmente esquecida. “Temos de lembrar que durante todo o período da colônia, essa figura de Tiradentes é esquecida. Ela não pode em nenhum momento surgir como exemplo, a não ser odo castigo porque ele lembrava um ideal republicano. A figura só foi consagrada como feriado nacional durante a ditadura militar coincidentemente ao lado do dia 22 de abril, Dia do Descobrimento do Brasil”.

O professor também explica como surgiu a comparação da imagem e história de Tiradentes com a de Jesus Cristo, semelhança retratada até mesmo em imagens. “Essa comparação vem de uma maneira bastante forte como mártir, aquele que deu a vida pelo seu povo. Então acabam fazendo uma comparação”, ponderou.

Sobre a criação do bairro Tiradentes, ele aponta que a Capital ainda é uma das poucas cidades brasileiras que utiliza nomes com relação à ditadura militar. “Durante esse período que nós estamos falando, da década de 60, começaram a colocar nomes de figuras muito ligadas à questão da própria ditadura militar. Então o bairro Tiradentes é um exemplo disso”, finalizou.

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