Menos filhos? Brasil registra menor crescimento populacional da história

Arquivo pessoal
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IBGE cita que em 12 anos a taxa média de crescimento populacional foi de 0,52%

O Brasil tem 203 milhões de habitantes, segundo dados do Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em média, a população cresceu apenas 0,52% ao ano, desde o último recenseamento, em 2010. É o menor crescimento populacional já registrado pelo país – a série histórica começa em 1872. Os dados refletem a queda no número de nascimentos, e a grande pergunta é: os brasileiros desistiram de ter filhos? O jornal O Estado buscou respostas e o questionamento tem fundamento.

Segundo dados analisados, ainda nascem mais pessoas do que morrem no Brasil, mas a diferença é cada vez menor. O resultado é o envelhecimento da população brasileira, o que gera impactos no setor do trabalho, na saúde e na previdência. 

Dentro de uma ou duas décadas, o país deve começar a diminuir, segundo especialistas. Além de uma queda acentuada da taxa de fecundidade, a única outra explicação para tamanho recuo seria a saída de brasileiros do país, em grande número. 

De acordo com o sociólogo Tito Carlos, um exemplo pode ter sido a crise econômica de 2016, mas não há indícios de que tenha sido tão expressiva, a ponto de mudar a projeção do país nessa proporção. No entanto, a tendência da queda demográfica já era esperada. “A urbanização, o trabalho, o estresse, a escassez de escolas públicas, o alto custo das escolas privadas, todo esse fenômeno leva a uma redução da população. Os casais começam a não ter mais capacidade ou mesmo vontade de ter filhos”, explicou o sociólogo.

Além disso, cada vez mais mulheres optam por se dedicar à carreira e adiam a gravidez. Muitas optam por não ter filhos.

A escassez de serviços gratuitos de apoio à maternidade, como creches, também contribui para a decisão.

É o caso da enfermeira Sara Barbosa, 25. A decisão de não ter filhos foi tomada pensando nos aspectos financeiros e na insegurança. “A maternidade é um trabalho não remunerado, que usualmente fica 99%, exclusivamente, nas costas das mulheres. Além disso, há estudos que mostram que as mulheres estacionam na carreira após a maternidade. Diante disso, tenho foco na minha carreira profissional e não me vejo mãe”, disse.

A enfermeira e futura médica ainda acredita que as mulheres precisam ter consciência, ao “colocar mais uma criança no mundo”. “Acredito que a maternidade caminha muito com a responsabilidade. Não é só gerar uma criança. É preciso educá-la, formar um ser humano melhor, dar uma vida digna a ele. 

 

Quantas crianças estão órfãs no Brasil e em outros países?!

Quando as mulheres entenderem que elas podem optar por não ter filhos e está tudo bem, acho que o mundo vai caminhar melhor e com mais responsabilidade”.

Saúde e maternidade Para Iara Moreira, 17, a decisão chegou após o diagnóstico de endometriose e adenomiose. “É mais por causa da minha doença que me incomoda muito e não me faz muito bem e também não penso em ter filhos, pois não me dou bem com crianças”, destacou.

Foi o medo de perder a liberdade que levou Vanessa Martins, intérprete de Libras, de 50 anos, a optar por seguir sem filhos. À reportagem, ela contou que sempre foi bem resolvida quanto à maternidade. “Essa foi, sem dúvidas, uma das decisões mais acertadas da minha vida.

Não carrego comigo nenhum arrependimento quanto a isso”, desabafou. “Não é só sobre a renda, a maternidade em si que não foi atraente para mim. Pude focar na minha vida profissional, família, amigos, casamento, uma liberdade minha. Respeito as mulheres que se dedicam aos filhos, mas esse cenário não me pertencia. Hoje, chegando à ‘meia-idade’, olho e vejo que fui e sou feliz do meu jeito. O número de mães solo aumenta a cada ano e, com isso, penso: será que vale a pena ser mãe e enfrentar dificuldades, apenas para colaborar com o ‘crescimento populacional?’”, acrescentou ela.

Pandemia da Covid-19 pode ter influenciado na queda

Com 203.062.512 habitantes em 2022, o Brasil teve o menor crescimento populacional em 150 anos. Ainda não está claro qual foi o impacto da pandemia de covid-19, com o consequente aumento de mortes e redução das taxas de fecundidade, para a desaceleração do crescimento populacional, nos últimos 12 anos.

Além disso, evidencia a tendência do fim do bônus demográfico (quando a proporção de jovens, a população economicamente ativa, é alta, na comparação à fatia de idosos e crianças, o que eleva a chance de ganhos, no PIB). “Estamos diante dos primeiros resultados do Censo. Nossos demógrafos estão debruçados sobre os números, para entender se essa tendência (de queda do crescimento) se acelerou”, explicou o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo.

“Fizemos o censo logo depois da maior crise sanitária do mundo, a pandemia de covid19. Precisamos de mais tempo para entender os efeitos demográficos. Precisamos ser cuidadosos em relação às conjecturas e esperar o trabalho dos demógrafos, para entender melhor esse Brasil pós-pandemia”, acrescentou ele.

Até hoje, as projeções apontavam que só a partir de 2030 os efeitos do bônus começariam a se dissipar e a população se tornaria majoritariamente envelhecida, aumentando a pressão sobre os gastos da saúde e da previdência social. Mas os demógrafos do IBGE ainda não sabem dizer se este momento foi antecipado pela pandemia. 

No contexto de crescimento populacional cada vez mais baixo vivido pelo país, um fato a ser destacado é que o fenômeno da redução da população, antes bastante presente nos municípios pequenos, passa também a ser cada vez mais observado nos municípios maiores”, destaca o Censo.

De fato, entre as 319 maiores cidades do Brasil (aquelas com mais de cem mil habitantes), 39 apresentaram redução populacional na comparação entre os números de 2010 e 2022 – aumento considerável em relação à oscilação registrada entre 2000 e 2010, quando apenas quatro cidades maiores viram essa redução.

Por outro lado, vêm aumentando as populações dos municípios vizinhos às maiores cidades, revelando uma alteração do fluxo migratório. “De modo geral, a geografia do povoamento do país, quando analisada em escala estadual, revela a convivência de uma ainda forte e média densidade demográfica nos

Estados litorâneos”, resume o relatório. Há um padrão de interiorização, acrescenta o texto, que contém elevada densidade demográfica no Distrito Federal e densidades de menor expressão em nível nacional no Centro-Oeste, com exceção de DF e Goiás, e em todos os Estados da região Norte, ressaltando que a interiorização é mais intensa ao longo das rodovias e dos rios. “De fato, as capitais estão crescendo menos ou mesmo perdendo população para os demais municípios da concentração urbana; isso é um fato novo no Brasil”, afirmou o diretor de Geociências do IBGE, Claudio Stenner. “Ainda não temos explicação sobre o porquê de isso estar acontecendo, mas, em parte, certamente, é por conta do próprio esgotamento territorial”, finalizou.

[Brenda Leitte– O ESTADO DE MS]
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