Macacos não são “vilões” da varíola e SES descarta motivo para pânico

Varíola dos Macacos
Foto: Nilson Figueiredo
Segundo especialistas, doença só é transmitida por contato com secreções de alguém contaminado

Com um caso em investigação em Corumbá, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) informou que não há motivos para pânico, já que não se trata de um caso confirmado da varíola do macaco, que estão apenas seguindo os protocolos do Ministério da Saúde. Para quem convive com os animais silvestres, em Campo Grande, são os humanos que estão invadindo o espaço deles, e por isso defendem que nosso papel é respeitar e preservar.

“É uma doença cujos reservatórios naturais são os roedores na África, que é muito comum por lá, mas no começo desse ano começou a ser registrado em outros países. A melhor prevenção é o uso de máscaras e higienização das mãos”, reforçou a gerente técnica de Saúde Única da SES, Daniela Frias.

O medo se instaurou após a doença ser detectada fora do Continente Africano, onde a doença é considerada endêmica. No Brasil a varíola já foi praticamente erradicada, sendo detectada em casos raros. Atualmente três casos suspeitos seguem em investigação no país, um no Estado do Ceará, outro em Santa Catarina e o caso em Mato Grosso do Sul.

É importante destacar que a doença Monkeypox ficou conhecida como varíola dos macacos por ter sido identificada, primeiramente, nos primatas de laboratório em 1958. A professora de zoonoses, do Curso de Medicina Veterinária, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Juliana Arena, destaca que é preciso pensar em uma saúde única, que preserve os humanos, os animais e o meio ambiente.

“O vírus é conhecido como varíola dos macacos, só que na realidade o reservatório desse vírus não é nem macaco, é o roedor lá na África. Só que a primeira vez que o ser humano identificou esse vírus foi justamente quando os macacos pegaram. Então é por isso que acabaram chamando de varíola dos macacos, mas o coitado do macaco entrou acidentalmente nessa história, igual aos humanos. Então ele não é um vírus original do macaco”, esclareceu.

A pesquisadora reforça que em hipótese alguma as pessoas devem temer os macacos ou caçá-los como forma de “prevenção contra a doença”. “Por ser um vírus original da África, não dá nem para saber se em macaco brasileiro esse vírus se adaptaria e nem em nossos roedores. De maneira alguma as pessoas devem fazer nenhum tipo de mortandade ou de caça a macaco. Até porque eles têm um papel fundamental em toda a nossa fauna, principalmente aqui em Mato Grosso do Sul. Eles colaboram com vários aspectos do nosso bioma, servem por exemplo, de sentinelas para doença da febre amarela”, observou e reforçou que “a transmissão já não está nem envolvendo animais, as pessoas que têm transmitido umas para as outras. Então não faz sentido a gente abater animais. O macaco acaba entrando acidentalmente no ciclo da transmissão e até hoje aqui no Brasil não temos nenhum caso confirmado dessa doença”, defendeu.

Macacos de diferentes espécies são predominantes em nosso Estado, inclusive em áreas urbanas de Campo Grande. Quem vive próximo da Avenida Vítor Meireles, que corta os bairros Universitário e Rita Vieira, está sempre presenciando os pregos e saguis fazendo bagunça. A zootecnista, inclusive, também reside no bairro Rita Viera e relata que é comum se deparar com o animal na região.

“A coisa mais importante é a gente mantê-los no ambiente deles. Nós é que acabamos construindo nossas moradias no ambiente deles. Caso esses animais entrem em contato, entrem nas casas é preciso comunicar a PMA, os serviços de reabilitação de animais silvestres. E, se houver macaco morto, comunicar a Secretaria de Saúde do município, a primeira suspeita é a própria febre amarela, então não se pode simplesmente ignorar, pode ser um risco”, reforçou.

A equipe de O Estado percorreu o bairro Rita Vieira, na Capital, e ouviu a população. “As doenças vêm porque o homem ataca a natureza. Acredito que, enquanto eles estão soltos, são respeitados e preservados, mal nenhum vai nos acontecer”, disse a vendedora ambulante Maria Luzia, de 50 anos, que vende espetinho na região.

O motorista Adailton Gomes, 48 anos, também admira as espécies, mas de longe. “Não tenho preconceito com eles, pois eles estão livres e nós invadimos. Pode acontecer contaminação? Pode! Basta a gente não mexer com eles”, opinou.

CASO SUSPEITO EM MS SEGUE SENDO INVESTIGADO

Conforme boletim médico divulgado na tarde de ontem (1º), pela Santa Casa de Corumbá, o paciente com suspeita de varíola segue internado e seu estado de saúde é estável. Ele está em um quarto isolado no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) e a equipe médica aguarda o resultado dos exames. “Estamos tomando todos os cuidados, como máscara e luvas, mas temos praticamente certeza de que não se trata de varíola”, afirmou a direção técnica do hospital.

De acordo com a gerente técnica de Saúde Única da SES, Daniela Frias, o adolescente de 16 anos, natural de Puerto Quijarro, procurou atendimento médico em Corumbá. Ele apresentava febre, inchaços nos
linfonodos e algumas erupções na pele, incluindo no genital. Ele já foi isolado e exames complementares foram realizados.

“Ele está internado, isolado para exames complementares, pois muitas outras doenças podem ser confundidas, como a herpes, amboviroses [dengue, zika e chikungunya] e até mesmo uma reação alérgica. Não há motivos para pânico, estamos apenas cumprindo os protocolos do Ministério da Saúde”, garantiu Daniela.

No aparecimento de alguns dos sintomas, principalmente febre, a orientação da SES é procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima. Em entrevista ao jornal O Estado, o enfermeiro Everton Lemos, doutor em Infectologia, explicou que os sintomas podem ser confundidos com os da gripe. “Os sinais e sintomas, inicialmente se assemelha a uma gripe a que incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, linfonodos aumentados de tamanho, calafrios e exaustão. Contudo, há surgimento de lesão na pele, apresentando erupção no rosto e depois se espalha para outras partes do corpo, incluindo os órgãos genitais com duração de uma média de 5 dias, podendo durar de 2 a 4 semanas. Os casos atualmente relatados, destacam uma preponderância de lesões na área genital”, apontou.

Ainda segundo o infectologista, para evitar a contaminação dos profissionais da saúde a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomenda que o hospital realize o isolamento de contato e de gotículas. Entre as recomendações, estão: higienização das mãos, máscara cirúrgica profissional, máscara cirúrgica no paciente durante o transporte e quarto privativo.

Texto: Kamila Alcântara e Suelen Morales – Jornal O Estado MS.

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