Enfermeiro e cunhado serão julgados nessa quinta-feira (15) na comarca do município
Por Rafaela Alves – Jornal O Estado do MS
Na casa que era alugada e onde foi realizado o aborto de Marielly Barbosa Rodrigues, em Sidrolândia, distante 64 quilômetros de Campo Grande, atualmente reside o filho da proprietária do imóvel cercado de mistérios. A estudante foi levada ao local no dia 21 de maio de 2011 para fazer o aborto pelo cunhado Hugleice da Silva, conforme informação policial.
O julgamento marcado para amanhã (15), na comarca de Sidrolândia, deve esclarecer diversos fatos que ainda não foram esclarecidos, como quem é o pai da criança que ela esperava e se realmente Marielly morreu no local ou foi assassinada depois e o corpo jogado no canavial localizado a aproximadamente 30 quilômetros de Sidrolândia, na saída para Maracaju.
A equipe de O Estado esteve no município nesta terça-feira (13), mas, mesmo com a proximidade do júri, a população já nem se lembra mais do caso. Na região do bairro São Bento, onde fica a casa em que o procedimento foi realizado e era alugada por Jodimar Ximenes Gomes, 51 anos, o enfermeiro que realizou o aborto, a vizinhança relata que quase não se fala mais do crime e que ficaram sabendo do julgamento, que ocorrerá 11 anos depois, por meio do noticiário.
“Eu sempre vejo ele aqui na cidade levando uma vida normal, mas crendo que já tinha acontecido o julgamento, fiquei horrorizada quando li em uma matéria que ele ainda vai acontecer”, disse uma das vizinhas que preferiu não ser identificada.
Uma outra, que mora no local há mais de 20 anos, relembrou da época do crime e que o caso teve muita repercussão na cidade. “Não se falava em outra coisa, atualmente não acompanhava mais nada do caso, no entanto, o que ouvi no serviço é que o julgamento será nesta quinta-feira. Se ele for culpado, que pague pelo que fez”, destacou.
Enfermeiro
Jodimar, que responde ao processo em liberdade, segue morando em Sidrolândia com a mãe, dona Neide, também na região do bairro São Bento. Ele não estava na residência e, procurado por telefone, disse que não iria falar e pediu para que a equipe de reportagem respeitasse o seu silêncio. Em contrapartida, a sua mãe atendeu a equipe de O Estado e garantiu que acredita na inocência do enfermeiro.
“Meu filho não teria coragem de fazer uma coisa dessas. Ele tinha recém voltado de São Paulo. Tenho certeza de que ele vai conseguir provar que é inocente no julgamento”, disse em meio às lágrimas.
Os vizinhos de Jodimar, que também não quiseram se identificar, não acreditam que ele seria capaz de matar alguém. “Conheço ele desde de menino, até levei um susto na época quando vi as reportagens. Vamos ver agora com o julgamento o que será definido”, disse um deles.
Uma amiga do enfermeiro, que mora bem próximo da casa, revelou que ele não via a hora de ocorrer o julgamento para que tudo fosse realmente esclarecido. “Sou muito amiga dele, ele está, praticamente, todos os dias aqui em casa, toma café com a gente. Acredito que ele saíra inocentado disso tudo.”
Julgamento promete montar quebra-cabeça
O julgamento da morte de Marielly Barbosa Rodrigues está marcado para essa quinta-feira (15), às 8h, no Fórum de Sidrolândia. O júri promete ser de revelações, conforme informações dadas a O Estado.
Segundo informações divulgadas na época do acontecimento, Marielly não quis contar quem era o pai. Ela dizia que a gravidez traria muitos prejuízos à família. Contudo, algumas “teorias” apontam que o pai seria um político influente do Estado.
A juíza Silvia Eliane Tedardi da Silva, em substituição na Vara Criminal de Sidrolândia, deu no dia 20 de maio deste ano o despacho designando o júri para o mês de setembro. Com isso, os réus, Hugleice da Silva, cunhado da vítima e que está preso em Rondonópolis, por tentativa de feminicídio contra a irmã de Marielly, e Jodimar Ximenes Gomes serão julgados por provocar aborto e ocultação de cadáver da jovem, que na época estava com 19 anos.
O processo em questão tramita desde o dia 8 de agosto de 2011, quando o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) ofereceu denúncia contra Jodimar e Hugleice. O crime, ocorrido em Sidrolândia, a 70 quilômetros de Campo Grande, causou grande repercussão em Mato Grosso do Sul.
Vale ressaltar que o cunhado de Marielly chegou a ser apontado no início das investigações como o suposto pai da criança, hipótese que foi negada por ele durante a acareação, realizada em Sidrolândia. Mesmo assim, ele confessou que apenas levou Marielly até Jodimar.
Relembre o caso
O caso veio à tona quando foi registrado o desaparecimento de Marielly no dia 21 de maio de 2011. Dia em que o procedimento foi feito na casa do bairro São Bento, em Sidrolândia. A jovem teria passado mal e sofrido uma intensa hemorragia. No entanto, a polícia chegou à conclusão de que Marielly foi vítima de um aborto malsucedido.
O corpo da jovem foi encontrado somente 20 dias depois, no dia 11 de junho, em um canavial em Sidrolândia, já em avançado estado de decomposição. Inclusive, por conta das condições em que os restos mortais da jovem foram localizados, a polícia alegou na época que não foi possível fazer exame de DNA para saber quem era o pai da criança que ela esperava.
A prisão dos dois chegou a ser decretada, depois que a Polícia Civil entendeu que Hugleice exercia forte influência sobre a esposa e a sogra, sendo responsável pelas finanças, e que estaria atrapalhando as investigações. Quando liberado, se mudou para Mato Grosso com a família.
Veja mais sobre o caso: Depois de 11 anos, julgamento do caso Marielly promete trazer revelações
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