Jeitinho brasileiro de deixar de última hora garante superlotação em peixarias da Capital

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

[Texto: Julisandy Ferreira, Jornal O Estado de MS]

Na véspera da Sexta Santa, movimentação aumenta em até 60%

Na véspera da Sexta-feira Santa, peixarias da Capital já sentem o reflexo do jeitinho brasileiro de deixar para a última hora. Com um acréscimo que chega a 60% na movimentação, comerciantes lutaram na nesta quinta-feira (28) para garantir as vendas e atender toda a clientela sedenta para garantir o peixe da refeição do dia simbólico para os cristãos.

Na Peixaria Moura, localizada na avenida Guaicurus, o ritmo de vendas se mostrou intenso na véspera da data santa. Logo na chegada do estabelecimento, já era possível perceber um volume considerável de pessoas, que para garantir a refeição, aguardavam ansiosamente pelo atendimento congestionado no local.

O aposentado e antigo proprietário da Peixaria Moura, Luiz Moura, 68, que repassou o legado para os filhos, atuais donos, argumentou que todo ano o ritmo de vendas na véspera é intenso. Conforme pontua, as preparações já se iniciam pelo menos dois meses antes. “A gente tem 40 anos no mercado, então a gente fidelizou a clientela, porque sempre tem uns precinhos bons perto da Semana Santa. Nos preparamos durante o ano inteiro o estoque, porque se deixar para a última hora a gente não consegue preço e nem qualidade”, esclarece Moura.

Ainda conforme o fundador da peixaria que faz sucesso na região da avenida Guaicurus, todo ano a movimentação esperada é de 30% a 40%. Mas, esse ano há um incremento a mais nas vendas, conforme avalia. “Esse ano a expectativa está melhor, então vai uns 50% a 60% a mais. O forte nosso é o Pacu e o Pintado fresco, mas vende-se muito as costelinhas de Pacu e o filé de Tilápia também está vendendo muito”, avalia.

Conforme Moura, as vendas também variam conforme o poder aquisitivo da clientela, que em sua maioria na região, é periférica.“O pessoal que tem um poder aquisitivo maior, eles pegam filé de tilápia e costelinha sem espinha. Mas, esse peixe nosso mais baratinho acaba vendendo mais, que é o peixe inteiro como Pacu e Pintado fresco. A gente agradece a nossa população, que apesar de ser periferia, nos deixa muito contente. São 40 anos no mercado, então não é à toa esse sucesso”, destaca.

O aposentado, Antônio Rodrigues, 71, explica que deixou para ir até a Peixaria Moura de última hora porque o dinheiro está difícil e não conseguiu comprar antes. Mas, para ele é sagrado manter a tradição de não comer carne vermelha na data. “Na Semana Santa tem que comprar ao menos um pouquinho, tem que passar a sexta-feira com ao menos um pedacinho, é hábito de todo ano. Sou católico e a minha família toda também e na sexta e quarta não comemos carne vermelha, só peixe ou então não come nada. Desde que eu me conheço por gente eu tenho esse hábito, desde os meus pais. Chegava nessa época e tinha que ter um peixinho para passar a Semana Santa”, relembra Rodrigues, ao pontuar ainda que tem preferência pela costelinha de Pacu sem espinhos e itens mais baratos.

O microempreendedor individual, Marcelo Frentes, 43, explica que já tem a tradição de comprar peixe há muitos anos. O consumidor dá preferência para a peixaria do bairro, porque além de entregar em casa, o preço e o atendimento compensam. “Eu fui no Mercadão hoje e vi que o preço está igual e eu prefiro comprar na Moura. Eu deixei para comprar de última hora por causa do trabalho, mesmo com o pouco tempo, eu vim agora na hora do almoço para se prevenir e não ficar sem amanhã”, argumenta Frentes, que pontua ainda, que nesta data em específico, o consumidor entra no “embalo da carruagem” e compra pela data e não olha muito os preços.

O sucessor e sócio-proprietário da peixaria, Fernando Moura, 36, esclarece que todos os anos é a mesma coisa e há uma movimentação intensa no local na véspera da Sexta Santa. Conforme pontua, eles medem o sucesso da data através da quarta-feira de cinzas. “Dependendo de como for na quarta-feira, a gente já sabe como vão ser as vendas para a semana. O que mais sai é o filé de Tilápia e a costelinha de Pacu. A Tilápia temos fresca e congelada a R$ 49,90 e o Pacu está R$ 32,90, porque não teve reajuste, está o mesmo preço”, esclarece Moura Filho.

Segundo o sócio-proprietário, o que o consumidor busca é facilidade na compra de peixes limpos. “A maioria das pessoas não sabe limpar em casa e dá muito trabalho, então, eles preferem os peixes que já vem pronto. Pelo menos 90% dos meus peixes já estão no jeito de ir para a panela e aí o pessoal prefere esses”, argumenta Moura Filho, que pontua a data como um momento de gratidão para o setor e reflexão cristã.

Estratégia de marketing

A proprietária da Peixaria Vitória, Maiara Cristina Pereira da Silva, 33, desde a rotatória da Interlagos investiu na propaganda para chamar a clientela. Localizada no Rita Vieira há somente oito meses, o empreendimento apostou em estratégias como faixas no canteiro e motoboy com caixa de som nas ruas.”É para chamar os clientes, para eles conhecerem a peixaria. Nós estamos aqui há oito meses e aí a gente colocou as placas e motos para divulgar e para chamar, porque é recente. Faz oito meses que estamos aqui e tem bastante movimento, graças a Deus, tem bastante aceitação”, comemora a proprietária.

Para a Sexta Santa, no estabelecimento, era esperado um aumento entre 30% e 40%. Conforme Silva, a preparação para a data foi de ao menos três meses de antecedência, para entregar tudo com a melhor qualidade para a clientela. “Eles observam muito se está tudo devidamente embaladinho, a higiene e a gente deixa tudo sempre bem organizado, nunca tivemos problema graças a Deus”, explica, ao destacar ainda que o carro forte tem sido a costelinha de Pacu sem espinho.

O mecânico, José Roberto, 43, comprova que para garantir uma boa refeição na Sexta Santa não é medido esforços. Conforme pontua, ele prefere atravessar a cidade do que comprar em outro local que não entregue a mesma qualidade no produto. “Eu atravesso a cidade para comprar peixe na Peixaria Vitória. A gente corre atrás de melhores preços sem esquecer da qualidade do produto, porque nem sempre o melhor preço é a melhor opção. Às vezes com o melhor preço, você leva um produto de má qualidade para a sua casa”, pontua.

Na ocasião, Roberto levou uma peça de salmão do seu gosto. Mas, como cristão, precisou garantir o da família também. “Eu muito de salmão e uma tilápia de vez em quando. Mas, eu gosto muito de salmão, a minha família gosta muito de um salmãozinho mesmo. Aquele salgado, o bacalhau, eu não como, mas a molecada lá gosta. Eu sou católico e na sexta-feira eu não como carne, na quarta eu como, só não como na sexta, já é tradição já desde criança”, conclui o mecânico.

Preços

Na Peixaria Vitória, o filé de Tilápia foi vendido na Sexta Santa a R$ 49,90; posta de Pintado a R$ 45,90, O filé de Tilápia fresco a R$ 59,90; o filé de Pintado a R$ 59,90; a costela de Pacu com espinha a R$ 29,90; a Sardinha limpa a R$ 15, o filé de Linguado a R$ 42,90; a costela de Pacu sem espinha a R$ 39,90; a Surubim em posta a R$ 59,90 e o Lambari a R$ 25.

Já na Peixaria Moura os mais vendidos como o Pacu inteiro fresco foi comercializado o kg a R$ 16,98; o filé de Tilápia a R$ 49,90; a costelinha de Pacu a R$ 32,90; o Pintado inteiro fresco com víscera a R$ 26,90 kg e o Piramutaba inteiro sem cabeça a R$ 19,90 o kg.

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