Inclusão da manduvi na Lei do Pantanal é esperança para a preservação de araras-azuis

Foto: Lucas Rocha
Foto: Lucas Rocha

Espécie de árvore é essencial para a sobrevivência das araras-azuis 

A Lei do Pantanal avança na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, mas das 44 emendas enviadas, apenas cinco já foram aprovadas. Entre as que ainda serão discutidas está a proposta defendida pelo Instituto Arara Azul, que pede a conservação de oito espécies arbóreas durante a supressão autorizada para uso alternativo do solo, em especial, a manduvi.

O texto, enviado pelos especialistas vinculados ao instituto, pede a preservação de árvores nativas isoladas das espécies manduvi, ximbuva, tarumã, angico-branco, piúva, carvão- -branco, angelim-cerejeira e acaiá. Não apenas deixá- -las no descampado, mas conseguir preservar de “capãozinho”, no entorno, para que não sofram com fortes ventos e venham a cair.

Quem explica a importância dessas árvores e reforça a preciosidade da manduvi é a bióloga, professora da Uniderp e presidente do Instituto Arara Azul, Neiva Guedes. São quase três décadas de dedicação ao cuidado da fauna pantaneira, com mais de 30 prêmios ambientais e que, em 2013, conseguiu tirar a arara-azul da lista de animais em extinção.

“No Pantanal, a manduvi é a principal espécie arbórea utilizada para os ninhos das araras, em que elas pegam o buraco pequeno e aumentam. A gente descobriu, ao longo desses anos, que ela serve como alimento (seu fruto) e abrigo para várias espécies, pois é a única com miolo mole, que as araras conseguem aumentar a cavidade”, inicia Neiva.

Depois que o ninho é utilizado pelas araras, ele fica livre para outras espécies. Uma pesquisa recente, da doutora Fernanda Fontoura, realizada com o apoio do instituto, mostrou que mais de 24 espécies de aves podem utilizar o ninho, além de mamíferos. “São gaviões, corujas, tucanos, patos e até mamíferos, como tamanduá-mirim, jaguatiricas e gambás”, destaca a professora.

Ou seja, estudos científicos comprovam a importância dessa árvore para a conservação ambiental e os especialistas continuarão lutando para colocá-la em pauta, nos próximos passos da implantação da Lei do Pantanal. “Essas árvores formam um verdadeiro ecossistema! Quando você derruba uma árvore com ninhos, está derrubando de 30 a 40 da reprodução das espécies.”

Neiva conclui, dizendo que as negociações com o Poder Legislativo e com o governo continuam, já que possuem um trabalho a longo prazo e que comprovam quão essencial essas árvores são para o bioma. “Hoje, as pessoas estão mais informadas e a derrubada dessas árvores está menos frequente, mas quando fazem aquele desmatamento geral, derrubam tudo. Isso, para a gente, é como uma faca no peito! É muito triste”, conclui Neiva.

Atualmente, o Instituto Arara Azul possui mais de 450 ninhos naturais cadastrados, mais de 550 ninhos artificiais instalados e fazem o monitoramento presencial e técnico de 350 ninhos por ano.

A Lei do Pantanal, que dispõe sobre a conservação, a proteção, a restauração e a exploração ecologicamente sustentável AUR – Pantanal (Área de Uso Restrito da Planície Pantaneira), no âmbito do Estado de Mato Grosso do Sul, e cria o Fundo Estadual de Desenvolvimento Sustentável do Bioma Pantanal, sem dúvidas representa um marco histórico para o Estado. Sua primeira discussão foi aprovada na Assembleia Legislativa, na última quinta-feira (7).

Por – Kamila Alcântara.

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