Greve de motoristas de ônibus é mantida e deve afetar mais de 100 mil usuários em Campo Grande a partir de segunda-feira

Passageiros foram surpreendidos ao chegarem ao terminal Júlio de Castilho, em 22 de outubro, e encontrarem os portões fechados  Foto: Juliana Aguiar
Passageiros foram surpreendidos ao chegarem ao terminal Júlio de Castilho, em 22 de outubro, e encontrarem os portões fechados Foto: Juliana Aguiar

Mesmo após o pagamento de 50% dos salários atrasados, a greve geral dos motoristas de ônibus de Campo Grande está mantida e tem início nesta segunda-feira (15). A paralisação deve impactar diretamente mais de 100 mil usuários do transporte coletivo. A confirmação foi feita neste domingo (14) pelo STTCU-CG (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande), enquanto os veículos ainda circulavam normalmente.

A decisão de deflagrar a greve foi tomada na quinta-feira (11), durante assembleia que reuniu mais de 200 motoristas. A categoria reivindica o pagamento integral dos salários que deveriam ter sido quitados no dia 5 de dezembro. Na sexta-feira (12), o Consórcio Guaicurus informou ter efetuado o pagamento de metade do valor devido, medida considerada insuficiente pelos trabalhadores para suspender o movimento.

O presidente do sindicato, Demétrio Freitas, reiterou que a paralisação será total a partir de segunda-feira. Segundo ele, a frota ficará 100% parada até que os valores em atraso sejam regularizados. “Caso sejam efetuados os pagamentos referentes ao mês de novembro, que já está em atraso, e também do 13º, segunda parcela, além do vale, na terça-feira o serviço volta ao normal. Caso contrário, o retorno dos ônibus fica condicionado ao pagamento desses vencimentos”, afirmou.

O impacto da greve tende a ser significativo. Dados do próprio Consórcio Guaicurus indicam que, em agosto do ano passado, a média mensal de passageiros transportados foi de 3.248.211. Já o 32º Perfil Socioeconômico do Município, divulgado pela Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano) em agosto de 2025, com base em dados de 2023, aponta uma média diária de 116.166 passageiros, em cerca de 72 mil quilômetros rodados por dia.

Em paralisações recentes, os reflexos foram imediatos. A última ocorreu em 22 de outubro, após 47 horas de atraso no pagamento do vale. Na ocasião, os ônibus só deixaram as garagens a partir das 6h, surpreendendo principalmente usuários das linhas da madrugada. O movimento também resultou em aumento expressivo no valor das corridas por aplicativo e congestionamentos em diversas vias da cidade, sobretudo nos acessos dos bairros ao Centro.

Além de prejudicar quem depende diretamente do transporte coletivo, a redução da frota impactou o trânsito como um todo, dificultando o deslocamento de motoristas que não utilizam ônibus, mas acabaram envolvidos na lentidão provocada pela paralisação.

Impasse entre consórcio e prefeitura

A greve ocorre em meio a um impasse público entre o Consórcio Guaicurus e a Prefeitura de Campo Grande. A concessionária atribui a crise financeira à inadimplência do poder público, enquanto o município sustenta que os repasses estão em dia, incluindo a antecipação de 57% da subvenção referente ao mês de novembro.

Em nota, o Consórcio Guaicurus afirmou que os recursos disponíveis foram direcionados prioritariamente para a folha de pagamento e para despesas consideradas essenciais à manutenção da operação, como combustível e manutenção da frota. Segundo a empresa, não foi possível quitar integralmente os salários neste momento.

A concessionária informou ainda que todas as linhas de crédito disponíveis estão comprometidas, o que dificulta a obtenção imediata de novos recursos, e que trabalha para viabilizar o pagamento da parcela restante o mais rápido possível.

Já a Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos Delegados) contestou a justificativa financeira apresentada pelo consórcio, classificou a greve como sem fundamento e sinalizou a possibilidade de ilegalidade do movimento. Enquanto o impasse persiste, a população se prepara para mais um dia de transtornos no transporte público da Capital.

 

Acesse as redes sociais do Estado Online no Facebook Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *