Famílias reclamam da distância percorrida em busca de pediatras em Campo Grande

Fotos: Nilson Figueiredo
Fotos: Nilson Figueiredo

Após remanejamento, somente duas UPAs oferecem especialidade durante a madrugada

Após a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) junto ao Conselho Municipal de Saúde elaborar um planejamento para melhorar o atendimento de urgência e emergência em Campo Grande, apenas duas UPAs – Universitário e Coronel Antonino – passaram a ter atendimento de médicos pediatras 24h nos sete dias da semana. Com remanejamento geral, a nova determinação ficou inviável para os usuários da saúde pública, já que precisam se deslocar com as crianças até essas Unidades de Pronto Atendimento.

O jornal O Estado percorreu as UPAs para verificar a situação. Com a filha pequena doente, Roberta da Silva, 30, está há dois dias no UPA Universitário. 

À reportagem, ela relatou que precisou ir às pressas para a unidade de saúde de madrugada. Sabendo das mudanças quanto aos pediatras, ela precisou pesquisar qual seria mais perto de sua casa. “Moro na Coophavila, então o Universitário foi mais perto para  mim, enquanto o Coronel Antonino estava dando 30 minutos de carro. Essa logística está complicada, mas é o que temos, no momento”, disse ela.

Com o atendimento fluindo bem, a mãe Dayane Lara, 31, disse não ter o que reclamar da consulta e nem do tempo de espera, mas da distância. Ela precisou se deslocar do bairro Aero Rancho para buscar atendimento pediátrico para o filho, que fraturou a perna. “O nosso problema não está sendo a espera, até que estão sendo rápidos os atendimentos, mas tivemos que vir de outra região para cá, porque só aqui tinha raio x. Do que adianta ter as unidades nos bairros, se não tem suporte, exames, médicos e afins?”, questionou a mãe. 

“Ainda bem que temos carro e condições para vir até o Universitário, mas imagina aquela mãe que precisa vir de ônibus, à noite, trazer o filho doente ou machucado? Não tem condições, mas nós, que temos filhos, sabemos que a gente dá um jeito, até ficar tudo bem”, desabafou Dayane.

Fazendo parte do grupo de pais que buscam por pediatras para os filhos, o pai Leandro Lemes, 28, teve de sair do bairro Los Angeles para levar a filha no médico. Não bastando= a distância, segundo ele foram horas de espera até a pequena de 6 anos passar pela consulta. “Na verdade, eu vim com minha filha hoje para ela tomar a vacina que o médico receitou, mas ela passou pelo médico ontem. Minha esposa que a trouxe e, segundo ela, foram horas de espera. O atendimento ontem estava muito devagar. Quando é assim, tinha muita criança para pouco médico, isso acontece com frequência. Passaram 20 crianças na frente da minha filha, ontem”, relatou ele.

Além disso, Leandro contou que as doses da vacina deverão ser aplicadas durante mais alguns dias, fazendo-o volta na UPA com a criança pelos próximos quatro dias. “Eu perguntei se não dava para tomar essa vacina em uma unidade de saúde lá perto de casa e eles falaram que ela só tem aqui, na UPA. Vou ter que revezar com a minha esposa para trazer nossa filha aqui, pois ela vai ter que tomar essa vacina para ficar boa logo”, finalizou.

Conforme já noticiado em edições anteriores, segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), nas demais unidades de pronto atendimento, sendo elas: Vila Almeida, Moreninha, Leblon e Santa Monica, os atendimentos dos pediatras continuam ocorrendo em plantões eventuais, das 18h às 0h, considerado o horário de maior demanda nas UPAs. “Nós vamos fortalecer o número de médicos nas nossas unidades durante esse período das 18h às 0h, porque a partir da meia-noite cai muito o número de atendimentos, então essa escala é que será reduzida”, detalhou o secretário da pasta, Dr. Sandro Benites.

O secretário enfatizou ainda que o atendimento infantil pode ser realizado por qualquer médico. “O ginecologista, clínico geral e o pediatra são obrigados a atender todas as faixas etárias dentro de uma UPA”, enalteceu. Inclusive, segundo a secretária-adjunta, Rosana Leite, dentro do atendimento de urgência e emergência na Capital, realizado de forma fixa pelas UPAs e CRSs (Centros Regionais de Saúde), não é obrigatória a disponibilidade de especialistas. “Conforme a portaria ministerial não há a divisão por especialidades, como ocorre na rede especializada hospitalar, dessa forma, os atendimentos são feitos por médicos generalistas e em algumas unidades, devido à disponibilidade de especialistas, este atendimento é ofertado, mas sem a obrigatoriedade”, explicou.

Nos CRSs, a escala no centro regional dos bairros Tiradentes e Nova Bahia foram finalizadas devido à falta de interesse por parte dos profissionais em atender nos plantões.

 

Sindicato convoca médicos municipais para reunião de urgência

 

Diante das mudanças aplicadas desde o início deste mês, o SinMed/MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) convocou a todos os médicos lotados na Rede Municipal de Campo Grande para debater sobre a readequação dos plantões. A reunião aconteceu no início da noite de ontem (5), na sede do SinMed/MS, localizado na rua Eduardo Santos Pereira, 456, no Centro de Campo Grande/ MS.

De acordo com o presidente da entidade, Marcelo Santana Silveira, a participação de todos para discutir estas alterações se faz fundamental. “Com a união temos conquistado muito e tenho certeza de que dessa vez não será diferente. Somos uma classe forte e contamos com a adesão maciça.”

 

[Brenda Leitte– O ESTADO DE MS]
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