Falta de conscientização sobre coleta seletiva pesa nos cofres públicos

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Foto: Marcos Maluf

Minstério Público de MS estima gasto de R$ 1,6 milhão ao mês

O promotor de Justiça do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e doutor em direito ambiental, Luciano Loubet, está usando suas redes sociais para alertar as pessoas que todo mês a falta de separação do orgânico do reciclável gera cerca de R$ 1,6 milhão em gastos para Prefeitura de Campo Grande, além de tirar a oportunidade de 900 pessoas.

Especialista em resíduos sólidos, Luciano está há anos atuando nessa área, em que também colabora com palestras e orientações aos gestores municipais sobre o tema. A destinação correta do lixo é um problema que causa “dores de cabeça” crônicas nos responsáveis pelo setor em todos os municípios do país. Cerca de 80% deles “vendem” seus lixos para aterros sanitários, valor contado por toneladas, que variam de R$ 150 a R$ 180. Segundo um levantamento feito pelo promotor em 2022, Campo Grande destina cerca de 6.700 toneladas de lixo para um aterro mensalmente, ou seja, nosso lixo custa quase dois milhões de reais por mês. Também é importante levar em consideração os R$ 600 mil pagos à Solurb para a Coleta Seletiva feita, na maioria dos bairros, na porta dos cidadãos.

“Eu sempre trabalhei com essa questão dos resíduos sólidos, na conscientização ambiental do descarte correto. Até que chegou um dia de coleta seletiva no meu bairro, em que o caminhão passa para retirar apenas o lixo reciclável, e percebi que mesmo tendo esse serviço, poucas casas tinham colocado material para ser levado. Uma pesquisa feita em parceria com a Uems [Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul] mostra que cerca de 30% do lixo que geramos é reciclável, mas as pessoas não fazem a separação devida. Penso que quando elas entenderem o quanto isso custa para o Poder Público, as coisas comecem a mudar”, explicou Luciano para O Estado MS.

Ele compara a falta de separação do lixo com a proliferação do mosquito da dengue. “A cada 100 casas, apenas 10 separam seus lixos. A falta de adesão das pessoas, que têm a coleta seletiva na porta da casa delas, é o mesmo que enfrentamos com a dengue. Sabemos o básico para evitar a proliferação do mosquito, mas ainda há registros de morte pela doença. Ninguém pode dizer mais que não sabe sobre coleta seletiva, separar o seco do molhado. As pessoas estão muito cômodas em reclamar do Poder Público, mas quando um serviço é oferecido elas não aderem. Imagina o quanto de atendimentos médicos poderiam ser feitos com esses milhões? Quantas pessoas poderiam estar trabalhando?”, questiona o especialista.

Foto: Marcos Maluf

Na linha de frente 

A UTR (Unidade de Triagem de Resíduos) de Campo Grande, que fica na região do Dom Antônio Barbosa, conta com quatro cooperativas de trabalhadores. Entre essas cooperativas está a Novo Horizonte, com 32 pessoas vinculadas. De acordo com a representante deles, Maria Stela Cardoso, o maior desafio é lidar com os rejeitos que chegam junto com os materiais que já deveriam ter sido separados. “Vêm muitos rejeitos, material orgânico, com os produtos recicláveis. Isso atrasa o nosso trabalho, não somos remunerados pela separação e isso gera riscos. Já recebemos agulhas usadas, marmitas com comidas podres, gatos mortos, entulhos de construção e até testes de doenças chegam no material que deveria estar separado”, compartilha Stela.

Os trabalhadores recebem pouco mais de um salário- -mínimo, pois dependem da produção, ou seja, do tanto de material que recebem da coleta seletiva feita pela Solurb. Existem também os gastos de qualquer indústria, com maquinário, EPIs (Equipamento de Proteção Individual), combustível de empilhadeiras e outros. “Já é possível ver que existem pessoas que fazem o certo, colaboram com a reciclagem, colocam os materiais nos pontos de coleta e nós somos muito gratos por isso. Essa simples separação já colabora na manutenção dos nossos salários e na não poluição do meio ambiente”, conclui a cooperada.

Por – Kamila Alcântara

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