O secretário estadual de
Saúde, Flávio Britto, tem enfrentado dificuldade na imunização em Mato Grosso do Sul para vacinações contra gripe, sarampo, poliomielite e a própria COVID-19. Mesmo tendo doses disponíveis nas unidades de saúde para todos os públicos. “Eu sou do tempo em que se entrava na fila da escola e te davam uma pistolada que doía mais que tudo. Hoje em dia, não, a
pessoa não quer levar o filho pra vacinar, os mais idosos também não”, compara.
Para o secretário, as pessoas não conseguem aceitar o “novo normal”, que é manter algumas medidas de biossegurança. “Temos de apelar para a população dizendo que a COVID não acabou, que as pessoas precisam se conscientizar disso. Eu vi recentemente festas juninas lotadas de gente. O professor que não usa mais máscara. As pessoas não têm mais essa preocupação. Poucas vezes você vê
o álcool gel na mesa, no trabalho, por exemplo. Em poucos lugares você vê o álcool 70% na mesa”, cita Britto.
Em entrevista ao jornal O Estado, Flávio Britto alerta que o baixo índice pode acarretar em novas epidemias. E só com a vacinação poderá se reverter o jogo. “A vacina da COVID-19 não impede que você pegue a doença, ela minimiza os danos. Hoje, os números são uma prova cabal disso. A curva ascendente dos casos positivados realmente existe, a gente vê todo dia isso. Agora não acompanha a curva de internação. Isso é o quê? Sorte? Claro que não. Isso é vacina!”, afirma.
Britto assumiu a pasta há três meses em substituição a Geraldo Resende, na qual era chefe de gabinete. Com vasta experiência na gestão pública, Britto já foi superintendente da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), diretor-presidente da Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul), atuou na Casa Civil e na Segov (Secretaria Estadual de Governo e Gestão Estratégica). É graduado em Gestão de Políticas Públicas pela Uniderp e especialista em Gestão Pública e Desenvolvimento, pela Faculdade Estácio de Sá.
O Estado: Tivemos uma cobertura de aproximadamente 53,5% na vacinação contra a gripe. Por que acredita que estamos com tanta dificuldade não só em MS, mas em nível de Brasil, para vacinar a população?
Flávio Britto: Nós estamos saindo de um movimento, de uma pandemia muito forte que maltratou muito a todos. As pessoas estão com muita dificuldade em aceitar um “novo normal”. Não é só na influenza que as pessoas não conseguem vacinar, não é só da COVID, é a do próprio sarampo. Os indicadores sempre estão muito baixos, aquém do que ministério recomenda, e isso é uma coisa muito ruim. Historicamente, o Programa Brasileiro de Imunização sempre foi uma referência mundial, sempre um exemplo de sucesso do SUS.
Mas, infelizmente, as pessoas hoje em dia se dão o luxo de escolher a marca da vacina. Eu sou do tempo em que se entrava na fila da escola e te davam uma pistolada que doía mais que tudo. Hoje em
dia, não, a pessoa não quer levar o filho pra vacinar, os mais idosos também não.
O Estado: Podemos passar por nova epidemia de outras doenças que até mesmo estavam erradicadas?
Flávio Britto: Sim. Existe essa preocupação, por exemplo, com a poliomielite, o sarampo, etc. Aí nós voltamos à questão da vacina. Então, vemos que este é um assunto recorrente. A vacinação contra sarampo está com menos de 50% de cobertura, são 43%, e isso é absurdo. Não existe outra palavra, é absurdo! Então, pode voltar o sarampo? Pode. E o que tem de ser feito? Vacinar. Eu tenho uma fala que é: graças a Deus e à vacina! Graças a Deus e à ciência! É isso, não tem outra forma de fazer o contrário.
O Estado: A SES reduziu a faixa etária da segunda dose de reforço. Em MS tem aumentado novamente o número de casos. Por que a população, cada vez mais, deixa de se vacinar?
Flávio Britto: Especificamente na COVID-19, a não vacinação é lamentável. Temos de apelar para a população dizendo que a COVID não acabou, que as pessoas precisam se conscientizar disso. Eu vi recentemente festas juninas lotadas de gente. O professor que não usa mais máscara. As pessoas não têm mais essa preocupação. Poucas vezes você vê o álcool gel na mesa, no trabalho, por exemplo. Em poucos lugares você vê o álcool 70% na mesa.
O Estado: A COVID-19 trouxe diversas consequên-cias à saúde pública. O risco de contrair o vírus, mesmo vacinado, é o que faz as pessoas não concluírem o ciclo vacinal?
Flávio Britto: A imprensa tem uma importância fundamental nesse processo todo. Mato Grosso do Sul só foi campeão de vacinação no ano do ápice da pandemia e conseguiu se sair razoavelmente bem. Não tem como se sentir totalmente bem porque vidas foram perdidas, então você consegue ver que foi possível minimizar isso, esse sofrimento todo das pessoas, graças a vocês. Ao que vocês fizeram na conscientização das pessoas. Então, a vacina não impede que você pegue a doença, ela minimiza os danos. Hoje, os números são uma prova cabal disso. A curva ascendente dos casos positivados realmente existe, a gente vê todo dia isso. Agora não acompanha a curva de internação. Isso é o quê? Sorte? Claro que não. Isso é vacina! Isso é ciência! E a população tem antes de tomar cuidado. Não acabou a COVID-19.
O Estado: Segundo informações do Planalto desde 2019 MS recebeu 3,7 bilhões em investimentos para a Saúde e R$ 577,7 milhões para o tratamento de COVID. Como esse apoio do governo federal auxilia nas ações realizadas em MS? Esses valores ano a ano são maiores? Suficientes?
Flávio Britto: A participação na saúde é tripartite, sendo financiada pelo município, pelo Estado e pela União. Isso é uma circunstância do SUS. Então, não é vantagem do governo federal, não é vantagem do governo estadual, nem do governo municipal. É uma obrigação, cada um tem o seu, que é uma cidade pública, e isso não é um gasto. Isso é um investimento. Esses recursos do governo federal foram, sim suficientes, tanto é que falamos que o que vier de recurso será gasto. Mas foi combinado ao esforço do Governo do Estado, somado ao que foi aplicado na COVID, que nós tivemos esse resultado positivo reconhecido nacionalmente. É importante ressaltar que a maior parte dos investimentos, principalmente na COVID, foi de recursos próprios, fonte zero do nosso Estado.
O Estado: A Secretaria de Saúde já apresentou o plano de contenção contra a varíola dos macacos?
Flávio Britto: Não. Este é um assunto que está muito polêmico ainda. O próprio Brasil, o Ministério da Saúde não tem o plano de contenção contra a varíola dos macacos. É óbvio que a gente aguarda o posicionamento do Ministério da Saúde para se adequar. Ninguém vai dar um pulo à frente do ministério, que é o órgão máximo da saúde do Brasil.
O Estado: Um problema agravado em MS é a falta de medicamentos. A dificuldade provocou aumento de 40% nas judicializações. O governo tem cumprido o seu papel?
Flávio Britto: O que não pode ter, o que todos nós sabemos é que há uma falta generalizada de insumos. Há um mês estava faltando soro. Então, muitas das nossas licitações estão dando desertas.
O Governo do Estado tem procurado várias maneiras de comprar a medicação, inclusive com o Consórcio Brasil Central, que reúne 42 federações. Por intermédio desse consórcio, aumentando a quantidade de compras, pode-se obter um melhor preço e oferta, mas nem assim nós temos conseguido.
O aumento dos medicamentos preocupa o Governo do Estado, mas não nos assusta. Se há uma judicialização, há um bloqueio e a pessoa consegue comprar a medicação, tudo bem. Esse é o objetivo, a saúde nunca foi um gasto, a saúde sempre foi um investimento do governador.
Então não tem muito o que a gente falar a respeito disso. Nós tentamos comprar, sim. Relembrando que nós passamos os anos mais duros da pandemia e não tivemos uma compra malfeita, um escândalo nessa situação. Então nós temos muito zelo pelo dinheiro público. Nós sabemos como devemos comprar e seguimos o que manda a legislação.
O Estado: Estamos vivenciando um novo aumento de casos de dengue, zika e chikungunya mesmo com a implantação do método Wobachia. Como é possível explicar isso? O método vai demorar algum tempo para surtir o efeito desejado? O Estado tem pensado em alguma campanha de prevenção?
Flávio Britto: Eu sou um entusiasta do método Wobachia. Recentemente o Governo do Estado fez um evento com a Fiocruz no Bioparque Pantanal, onde o governador do Estado, Reinaldo Azambuja, colocou dinheiro para desconstruir uma plataforma de cerca de R$ 13 milhões para a pesquisa de vacinas contra a dengue.
O Governo do Estado acredita na ciência. Mas, quando falamos da dengue, todos nós sabemos que é preciso tirar cinco minutos por semana para fazer uma limpeza lá no jardim, olhar o nosso próprio jardim. Nós tivemos 14 mortes por dengue, catorze! É absurdo, é uma loucura você falar que alguém morreu por dengue. Não dá pra ter uma justificativa.
Todos nós sabemos que esta é uma guerra antiga, é uma batalha superantiga. O que é que nós fazemos pra combater a dengue? Todos nós sabemos. Sobre o método Wobachia, sim, demora para termos um resultado.
Nós não temos pesquisas ainda que qualifiquem o tamanho da benfeitoria disso, mas somos entusiastas desse método. Estamos fazendo um esforço muito grande pra levar isso, por exemplo, para
Dourados. Aumentar a participação dessa experiência que, com certeza, vai ser positiva para todo o nosso Estado.
[Texto: Suelen Morales, Jornal O Estado de MS]