Entrevista da semana com Luiz Henrique Mandetta Ex-ministro da Saúde e pré-candidato à Presidência

Mandetta
Nilson Figueiredo

Deus me livre chegar numa urna para votar e se perguntar: quem eu odeio menos?

Com estampa de político que já transitou nos bastidores de Brasília, Mandetta diz que mantém diálogos para plano de reconstrução e pacificação

O terceiro entrevistado da série do jornal O Estado com os presidenciáveis às eleições em 2022 é o médico e ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, filiado pelo DEM de Mato Grosso do Sul. Mandetta está em fase de troca de ideias e dialogando com partidos que possuem pautas em comum e o objetivo de apresentar uma terceira via que possa vencer o pleito do ano que vem. A ideia é formar um plano de reconstrução e pacificação nacional.

Ele é a favor da formação de alianças partidárias e está disposto a trabalhar intensamente para que a polarização política não seja a única opção da população. “Não é questão de ser de centro, não é questão de ser de direita ou esquerda. É de ser brasileiro mesmo, olhar e perceber que ou a gente para com essa briga estéril porque isso vai acabar mal. Porque esses dias colocaram fogo em estátua e, se continuar, assim vão acabar jogando bomba um no outro. Se forem os dois para a rua no mesmo dia a gente sabe que vai ter briga ou algo pior”, avalia.

Mandetta acredita que o Brasil necessita de novas figuras no cargo majoritário e que este é um dos piores momentos da história do país, que contabiliza centenas de mortes pelo coronavírus em meio a volta da extrema pobreza, crise econômica e problemas em todos os setores. “Atualmente, estamos tão isolados que nenhum chefe de Estado veio visitar o país”, diz o ex-ministro da Saúde.

Nascido em Campo Grande em 30 de novembro de 1964, Luiz Henrique Mandetta vem de família tradicional e envolvida na política sul-mato-grossense. O pai, Hélio Mandetta, que também é médico, foi vice-prefeito de Campo Grande uma vez.

O ex-ministro cursou Medicina na Universidade Gama Filho (UGF) e retornou à Capital nos anos de 1990, quando atuou na Santa Casa. Ele foi secretário municipal de Saúde de Campo Grande, após eleição do primo Nelsinho Trad a prefeito. E eleito a deputado federal por dois mandatos, onde ficou entre 2011 e 2019.

O Estado: Tem se discutido alianças de partidos para se criar a tal da terceira via, porém nada muito conclusivo. Como o senhor se apresenta neste enredo?

Mandetta: Hoje, a gente tem duas figuras que são candidatos há 200 anos. Eu era líder estudantil no Rio e tinha 19 anos quando o Lula era candidato a presidente. Lá se vão 40 anos que esse cara é candidato a esse cargo. Já disputou, sei lá, mais de dez eleições e é novamente pré-candidato. O Bolsonaro, desde que ganhou as eleições, é candidato à reeleição todos os dias da vida dele. É natural que essas duas figuras estejam consolidadas com pré-candidaturas. Aí você vem com um conjunto de discussões de caminhos de várias agremiações políticas que olham e falam: gente é muito claro que esses dois caminhos não vão nos levar a lugar algum; isso não constrói. Não é questão de ser de centro, não é questão de ser de direita ou esquerda. É de ser brasileiro mesmo, olhar e perceber que ou a gente para com essa briga estéril porque isso vai acabar mal. Porque esses dias colocaram fogo em estátua e, se continuar assim, vão acabar jogando bomba um no outro. Se forem os dois para a rua no mesmo dia a gente sabe que vai ter briga ou algo pior.
O país está à beira de um conflito com esses dois lados se xingando o tempo todo. Então, nesse grupo de partidos que inclui o MDB, o PSDB, o DEM, o Avante, o Podemos, o Solidariedade, o Cidadania e o PV, a gente está vendo a possibilidade de trabalhar os nomes dentro dos partidos. Não tem problema nenhum. Mas vamos também, e ao mesmo tempo, construir um projeto em que a gente tenha concordância para a educação, para saúde, economia, relações internacionais e reposicionar o Brasil no mundo. Então, assim, esses partidos de alguma maneira já viram que a gente precisa fazer uma força coletiva política e não fragmentar. Porque, se sair quatro ou seis candidatos, como eles movem o eleitorado pelo ódio, os dois possuem de 20% a 25% de xiitas que, se o cara bater numa criança, eles [para defesa] dirão que a criança estava errada e darão todas as desculpas possíveis. Eu acredito que o desejo político é rumar para alianças. Vamos trabalhar para isso. E isso estamos vivendo em 2021.

O Estado: A terceira via é a saída para derrotar os dois principais candidatos a presidente?

Mandetta: É a melhor via. Uma alternativa para salvar este país deses dois extremistas que só botam ódio e fazem política em cima do ódio que possuem um do outro. Deus me livre chegar numa urna para votar e se perguntar: quem eu odeio menos? Para deixar de votar em quem é mais odiado. Que país vai para a frente decidindo o futuro dessa maneira? O ideal é o Brasil virar esta página e sair disso. Temos de cicatrizar, tem de parar de todo dia acordar para saber qual é o problema do dia no Brasil e qual é a nova crise. Sabe, aquela situação de saber quem foi agredido ou quem da imprensa foi atacado, ou o STF, enfim, hoje a gente fica se perguntando qual é a agressão do dia. Chega! Ninguém aguenta mais.

O Estado: Se esta politização se mantiver por mais tempo no país vai gerar prejuízos?

Mandetta: Atualmente, estamos tão isolados que nenhum chefe de Estado veio visitar o país. Eu vi na segunda onda [da pandemia], e ainda converso com ministros de vários países, porque acabei criando laços de amizade da época em que fui ministro. É normal, quando um país tenha uma incidência daquele tamanho, que os outros países demonstrem solidariedade, ajudem, mandem materiais como máscaras, remédios e insumos. Mas o Brasil não recebeu nada. Depois a Índia tornou-se o epicentro da doença e o mundo inteiro se mobilizou para ajudar e mandar oxigênio, remédio e vacinas. Isso ocorre porque o Brasil está isolado.

Nesta pauta de saúde, nós viramos pária internacional. Na pauta de meio ambiente e questão de sustentabilidade, nós de repente viramos pária internacional. É com essa cara que a gente quer sentar nos mecanismos internacionais? Depois vem o Lula, que se sentar lá vai ter de levar um atestado do STF dando a explicação de que o juiz que o julgou é suspeito de suspeição, e tentando convencer de que as situações de acusação da Odebrecht não existiram. Vai ter de explicar sobre a corrupção do governo dele e da condenação dele? É esse cara que o Brasil vai mandar para o mundo?

O Estado: Notamos que o senhor tem feito viagens por alguns estados; podemos dizer que já está em busca de apoio para ser candidato?

Mandetta: O que eu sempre fiz, mesmo depois que deixei o ministério, foi ir a vários lugares ajudar. Muitas vezes anônimo. Ajudei São Paulo, Curitiba, Bahia, Goiás e todos aqueles que me chamaram com dúvidas sobre como lidar com falta de vagas em hospitais e sobre a rede. Eu tenho um vínculo muito forte com as políticas sociais. Todas elas. E as políticas sociais estão chamando muito, porque sofreram muito. Quando eu vou a esses lugares é para debater sobre essas políticas sociais em saúde. Conversar com o empresariado sobre os dramas da economia, sobre linhas de crédito que não tem e estão fechadas; os bancos estão extremamente criteriosos para liberar recursos aos pequenos. Eles são generosos para liberar aos “tubarões”. Então, vou escutar exatamente para ir à fase dos debates e trazer o que as pessoas estão percebendo. Quero ouvir a sociedade para fazer o planejamento.

O Estado: Na possibilidade de termos dois nomes da política de MS, a senadora Simone Tebet e o seu, concorrendo a cargo máximo da República, o que isso reflete ao Estado?

Mandetta: Interessante que a Simone estava meio sumida e voltou a aparecer na CPI. Ela ficou como presidente da CCJ no Senado e depois disputou a presidência, que não ficou legal no fim porque o próprio MDB não se posicionou. Vejo que, com a visibilidade da CPI, ela se destaca porque mostra a qualidade do trabalho. Ela fala “eu estudei e mostra o documento”, e essa atuação começou a chamar a atenção do Brasil. De repente o povo estava perguntando: espera aí, quem é essa mulher? Acho que ela está no caminho certo.
Nosso Estado é pequeno em se tratando de colégio eleitoral, com cerca de 700 mil eleitores, e isso demonstra a força que as figuras políticas de Mato Grosso do Sul possuem. Acho que é uma geração muito boa e me dá muito orgulho quando vejo a mídia nacional dar destaque, aparecer em pesquisas. É um momento muito bom porque Mato Grosso do Sul, por muitas vezes, apareceu naquelas páginas policiais sobre o crime organizado na fronteira ou queimadas no Pantanal.

O Estado: Como avalia a atuação da CPI da COVID-19?

Mandetta: O que me chama atenção na CPI da Pandemia é o modo como essa gente administrou o Ministério da Saúde sem critério técnico, sem coordenação e sem credenciais. E sem nenhum cuidado com filtragem sobre com quem que eles estavam aproximando do Ministério da Saúde. Ali parecia que qualquer um que chegasse já sentava imediatamente gastando tempo, energia e totalmente sem coordenação. É pastor, é cabo da PM e, nada contra, mas do interlocutor, e até para proteger a pasta, é pegar as credenciais para ver se a pessoa tem condições ou não de estar lá. Essas pessoas parecem que tinham acesso facilitado por trânsitos pessoais. É muito estranho que o ministério tenha sido administrado dessa maneira. Toda a denúncia tem de ser investigada, mas aquela da Covaxin é em que a coisa está mais complicada. E parece que a Covaxin é que movimentou toda essa engrenagem com muitos personagens, sem compromisso com a coisa pública. Acho que a CPI está em um caminho certo, tem de esclarecer e desnudar. Acho que ficou bem clara, naquela minha primeira ida, a identificação daquele pessoal que se chamou de gabinete paralelo, e isso está muito claro, a questão da não aquisição das vacinas, que está muito clara, e agora essa má gestão está muito clara, com altas suspeitas de corrupção.

O Estado: O DEM tem demonstrado apoio a Bolsonaro; como ficará nessa disputa eleitoral, haverá racha no partido? A ministra Tereza Cristina, por exemplo, pode deixar o partido?

Mandetta: Acho que 2021 é o ano em que cada um vai fazer as suas análises, porque a janela para mudar de partido é março. Acho que a Tereza tem todo o direito. Ela é muito acostumada a mudar de partido. Acho que ela já foi do PFL, do MDB, já foi do PSDB e se elegeu pelo PSB, e depois saiu e veio para o DEM. Agora, ela sai do DEM e vai para outro, e esta é uma característica dela. Ela se posiciona em função daquilo que ela acha que possa ser melhor para ela. Dentro do DEM hoje existe a discussão sobre o que é melhor para o Brasil e esta corrente é majoritária. Estamos pensando o que fazer em termos de Brasil. Não é em termos individuais. Eu posso numa eleição dessa ajudar de várias maneiras. Posso ser candidato, posso compor uma chapa, posso coordenar o Brasil, posso ser candidato aqui ao Estado para poder ajudar em projeto maior no nível nacional [e sair], tanto a governo quanto vice, como Senado. Nada descarto, porque é o que eu disse: você tem de ter um motivo para o lugar.

O Estado: Em recentes pesquisas, o senhor não aparece como líder em Mato Grosso do Sul ou próximo, ou seja, a população de seu Estado não está confiante em seu nome?

Mandetta: Acho que você não tem ainda uma candidatura. Este é o primeiro ponto. Acho que só começa a considerar quando tem uma candidatura. Depois, o assunto “candidatura à Presidência” está tão distante, com um ano e meio ainda, que as pessoas não sabem nem quem, quando e por quê. Elas estão preocupadas em comer e sobreviver. Esse assunto ainda não está na pauta. Até por [questão de conhecimento], se o cara fala que não vai votar em Bolsonaro, ele acaba escolhendo o Lula. Então, nisso ele está querendo dizer que rejeita o Bolsonaro e às vezes os caras escolhem o Bolsonaro porque estão rejeitando o Lula. Ele está numa armadilha, né. E preso nela.

Então, a partir do momento em que você vai descongestionando, vai aparecendo, e as coisas vão acontecendo, que os nomes vão vindo e a campanha vai se desenrolar, e todo esse conhecimento prévio dos nomes de Lula e Bolsonaro serão relativizados. Você vai passar a ter nomes nacionais. O que eu acho muito interessante é eu aparecer em pesquisas como o Datafolha com 5% ou 6%, ou quando eles abriram por estado, e havia 8% em São Paulo, é que eu não estou deputado federal, não estou deputado estadual, não estou ligado à Prefeitura de Campo Grande, nem ao governo do Estado. (Andrea Cruz e Alberto Gonçalves)

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