Entrevista com Marcos Frota: “A tradição no mundo do circo é muito importante”

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Ator se tornou uma referência no segmento circense e faz parte da companhia do Circo dos Sonhos, que roda o país preservando a tradição do picadeiro

O ator e artista circense Marcos Frota, considerado embaixador do circo brasileiro, esteve de volta a Campo Grande para a estreia da temporada 2023 do Circo dos Sonhos. Frota, que também é empresário e trapezista, ficou reconhecido pelos trabalhos na TV Globo. Com 37 anos de experiência, o ator se tornou uma referência no segmento circense e desde 2014 faz parte da companhia do Circo dos Sonhos, que possui duas equipes itinerantes e uma escola de circo no Rio de Janeiro.

Ao jornal O Estado, Marcos Frota relembrou seus maiores desafios ao longo da dupla carreira, suas descobertas e também o que o motiva a preservar a tradição circense e inovar no segmento artístico brasileiro. Segundo ele, o circo o escolheu e ele escolheu o circo. O que era inicialmente uma paixão virou amor e um compromisso por toda a vida. “O meu compromisso com o circo é de uma nova estética, uma nova gestão, uma nova maneira de ver e colocar a história do circo brasileiro pra frente.Sempre olhando pro futuro, na formação de novos talentos, de novas maneiras de se relacionar com o público, com a mídia e com a comunicação”, propõe.

Natural de Guaxupé (MG), Marcos Frota destaca seus papéis em telenovelas da Rede Globo, como “Vereda Tropical” (1984), “Mulheres de Areia” (1993), “A Próxima Vítima” (1995), “O Clone” (2001) e “América” (2005). No cinema, Marcos Frota atuou em oito filmes, um documentário e fez a dublagem do personagem Estefano de “Madagascar 3: Os Procurados”.

Já a parceria de Marcos Frota com o Circo dos Sonhos começou em 2014, E a Unidade Lilás se transformou em um espetáculo com banda ao vivo, que encanta todo o Estado do Rio de Janeiro, ao passo que a Unidade Vermelha percorre diversas regiões do Brasil com espetáculos diferenciados a cada nova temporada. O Circo dos Sonhos é uma criação da família Jardim, que tem mais de 30 anos de tradição. Na companhia trabalham centenas de pessoas, entre elenco, produtores, carpinteiros, serralheiros e muitos outros profissionais envolvidos na produção de três espetáculos de sucesso. Campo Grande foi escolhida mais uma vez para receber o Circo dos Sonhos com a estreia do espetáculo “Alakazan – A Fábrica Mágica”.

“A saída dos animais do picadeiro provocou nos circos brasileiros o desafio de uma nova estética. Juntar a dança principalmente mais cenografia (iluminação, coreografia), direção artística, direção de palco, os figurinos, tudo isso faz parte do circo contemporâneo. Buscamos sempre uma estética de um encanto de sonhos, que aproxime as crianças e que desperte a vontade de brincar”, denomina.

O espetáculo conta com a apresentação de malabaristas, equilibristas, contorcionistas, mágicas, muita palhaçada, além de globo da morte, pêndulo e patinação. Evoluções de contorcionismo de tirar o fôlego, força e delicadeza que as belas artistas desenvolvem nos tecidos e na lira, um globo da morte que fará o público se surpreender. Os palhaços também garantem momentos divertidos junto ao público, com números cômicos que prometem levar a plateia às gargalhadas.

O Estado: Você começou como ator e o circo entrou na sua vida pela novela; como foi essa experiência?

Marcos Frota: Depois do teatro, da televisão e do cinema, eu escolhi o circo ou o circo que me escolheu. Na novela “Cambalacho” (1986), o tema envolvia o mundo do circo e eu era um trapezista. O que era uma paixão virou amor e o amor é para sempre. O meu compromisso com o circo é de uma nova estética, uma nova gestão, uma nova maneira de ver e colocar a história do circo brasileiro pra frente. Sempre olhando pro futuro, na formação de novos talentos, de novas maneiras de se relacionar com o público, com a mídia e com a comunicação. Tudo isso faz parte do meu compromisso com o circo, com a estética circense e com o segmento artístico.

O Estado: Em Campo Grande, o Circo dos Sonhos está de volta e apresenta um espetáculo novo. Como é retornar à cidade para uma estreia e o que os campo-grandenses podem esperar da nova temporada?

Marcos Frota: O Circo dos Sonhos volta a Campo Grande, mas com um novo espetáculo. Abrindo a turnê de 2023 numa grande capital que é referência, em parceria com o shopping, que também é referência, e a estreia foi espetacular, maravilhosa. Tenho muita esperança numa temporada histórica em Campo Grande, capaz de alimentar os nossos sonhos com o circo e provocar na plateia também o respeito, o carinho, o afeto e o acolhimento que esse espetáculo provoca em todos nós. Eu estou muito feliz e muito agradecido por começar a temporada deste ano, do Circo dos Sonhos que é um circo moderno, um circo diferente, na cidade de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul.

O Estado: Como surgiu a ideia do espetáculo “Alakazan – A Fábrica Mágica”?

Marcos Frota: O espetáculo criado pela diretora Rosana Jardim é como se fosse um sonho, mesclando teatro, dança, música e artes circenses. Tudo foi pensado para que pudesse levar nossa plateia a um mundo mágico, o mundo do picadeiro, que exerce encantamento nas pessoas há séculos.

O Estado: O circo tinha uma tradição familiar que passava de geração, isso ainda acontece no Brasil?

Marcos Frota: A tradição no mundo do circo é muito importante, desde a formação, passada de geração para geração, até os números e a maneira de entender o circo. Mas o circo também tem de olhar pro futuro. Isso só é possível com uma nova geração, uma nova mentalidade e com a entrada de novos profissionais para fazer e pensar o circo em todas as áreas. A área artística, a área mais técnica, a área de administração, de gestão, de comunicação e de relacionamento institucional. Pois isso tudo faz parte do mundo do circo contemporâneo e é isso que o Circo dos Sonhos propõe.

O Estado: São 37 anos investindo na arte circense no Brasil, e você se tornou referência. Qual é o balanço que você faz da sua trajetória desde o início da carreira até o momento? Quais foram os maiores desafios?

Marcos Frota: O maior desafio é a permanência, é a perseverança, é superar os obstáculos que fazem parte das escolhas e permanecer no mundo do circo abrindo possibilidades novas e atraindo um novo olhar que provoque sempre uma nova estética, e este é o meu compromisso com o circo. Me sinto começando depois de 37 anos. 2023 é um ano mágico, um ano importante de uma retomada real. É um ano em que todos nós vamos colher aquilo que plantamos. Então, eu estou muito esperançoso com as possibilidades que o circo tem.

O Estado: O circo tem, nos últimos anos, inserido um pouco mais de teatralidade nos espetáculos, de forma geral. Como você enxerga isso?

Marcos Frota: A saída dos animais do picadeiro provocou nos circos brasileiros o desafio de uma nova estética. Juntar a dança principalmente mais cenografia (iluminação, coreografia), direção artística, direção de palco, os figurinos, tudo isso faz parte do circo contemporâneo. Buscamos sempre uma estética de um encanto de sonhos, que aproxime as crianças e que desperte a vontade de brincar. Eu vejo com muita preocupação a questão das crianças sempre conectadas em celulares e tablets. Então, é preciso estar atento a tudo isso, é um desafio que a gente tem permanentemente de resgatar o imaginário, a brincadeira e a fantasia.

O Estado: Como você avalia a cena das artes circenses no Brasil atualmente? Por quê?

Marcos Frota: O circo ganhou um protagonismo porque o público brasileiro descobriu ou redescobriu o circo como um programa de família. O povo gosta do circo e o circo tem de gostar do povo, com espetáculos diferentes, novas maneiras de se comunicar e interagir com as pessoas. Esta é a proposta do Circo dos Sonhos. Acho que o circo passa por uma nova fase, por um momento muito vigoroso. Muitos circos espalhados pelo país, muita gente nova com uma outra contribuição a dar. O circo tem realmente uma nova geração em todas as áreas, isso me enche de esperança e também de alegria por saber que o Brasil acolhe o circo como segmento artístico, como arte, como entretenimento, e tem o respeito de todos.

O Estado: Quais os seus planos para 2023?

Marcos Frota: Em 2023 quero viajar um pouco pelo mundo. Conhecer outras experiências de circo pelo mundo afora. Os grandes festivais, as grandes mostras, as escolas de circo, os movimentos circenses paralelos e também, claro, todos os circos tradicionais que fazem a base da história do circo no mundo inteiro.

O Estado: Como vê a volta do Ministério da Cultura e o nome de Margareth Menezes como ministra? Há uma cobrança para artistas se posicionarem politicamente, ter lado neste país atrapalha?

Marcos Frota: O Brasil vive um novo momento e é importante ter o Ministério da Cultura respeitado e acolhido pela opinião pública, pela sociedade de uma maneira geral. Então, eu estou torcendo muito pela Margareth. Acredito que ela possa dar realmente uma contribuição para diversificar ainda mais a cultura e possibilitar que todos os estados brasileiros possam ser contemplados por uma política cultural de continuidade. Espero o aprimoramento das leis de incentivo e, é claro, que a cultura brasileira seja ainda mais respeitada e observada internacionalmente.

Por Suelen Morales – Jornal O Estado do MS.

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