Entrave de parceria com o Paraguai deixa China distante da Rota Bioceânica

Foto:Parte da estrutura
da ponte da Rota
Bioceânica/Toninho Ruiz
Foto:Parte da estrutura da ponte da Rota Bioceânica/Toninho Ruiz

País asiático é o maior importador de produtos do agronegócio de MS 

O maior importador de produtos brasileiros, a China, está tendo entraves em fechar parceria comercial com o Paraguai, um dos países que passará pela Rota Bioceânica. Representantes do país asiático disseram, ao jornal O Estado, que, por isso, estão buscando saída via Cuiabá e Bolívia, ou seja, sem passar pelo Corredor Bioceânico.

De janeiro a julho deste ano, foi exportado 43,16% dos produtos do agronegócio para o país asiático, o que equivale a US$ 2,57 bilhões, segundo dados do boletim Casa Rural – Pecuária, divulgado pela Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul). O montante é 18,34% maior em relação aos R$ 2,17 bilhões comprados no período de janeiro a julho de 2022. 

O ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência do Brasil, Carlos Marun, que auxilia nos trabalhos de viabilização da Rota Bioceânica, explica que esta é uma situação a ser resolvida.

“É certo que o Paraguai mantém relações diplomáticas com Taiwan, o que desagrada a China, os EUA também mantêm relações diplomáticas com Taiwan e a China não se recusa a exportar ou importar seus produtos para lá e nem de lá. Penso que esta é uma questão a ser superada, com respeito à soberania dos países e atenção ao caráter internacional da Rota Bioceânica. O diálogo sempre é positivo e necessário, mas trata- -se de questão complexa que a rota, por si só, não conseguirá resolver”, pontua.

De acordo com o prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra, a parceria entre os dois países é importante. “Para o Paraguai, essa parceria é muito importante, pois a carne do Paraguai é exportada para vários países asiáticos e quem perde é a população, a economia”, destacou.

Ainda conforme informou Nelson, no dia 22 de setembro, o ex-presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, vai visitar as obras da rota. “Vou tentar conversar sobre essa questão, visto que tenho um bom relacionamento com o governo paraguaio”, disse. Na ocasião, o ex-presidente Michel Temer também estará presente.

Relação diplomática

 O analista econômico e presidente da SEI Consultoria, localizada em Assunção, Paraguai, Amilcar Ferreira, contextualiza que o Paraguai, historicamente, mantém relações com Taiwan e não com a China por questões, sobretudo, políticas. “Os políticos do partido que estão praticamente, nos últimos 80 anos, do Partido Colorado, têm sido favoráveis às relações com Taiwan e não com a China. Também é uma questão econômica, pois Taiwan mantém uma ajuda econômica ao governo e aos sucessivos governos. São ajudas importantes”, esclarece Ferreira. 

O analista ainda faz uma breve leitura da situação com relação à Rota Bioceânica. Segundo ele, o Paraguai perde oportunidades comerciais.

“O Paraguai perde oportunidades comerciais com a China, tem a Rota Bioceânica, mas não irá fazer uso para transportar seus produtos à China. A política chinesa é que os países que têm relação diplomática com Taiwan não podem ter relações diplomáticas com a China. Então, temos a bioceânica, mas irá aproveitar outros países, nesse caso, o Brasil, Argentina, Chile, mas o Paraguai será simplesmente um operador logístico, que vai facilitar o trânsito do produto, mas o benefício de usar a bioceânica para os próprios produtos, a China não poderá, por não ter essas relações diplomáticas”, esclarece o especialista. 

Em se tratar do funcionamento, o economista Normann Kalmus avalia que, na prática, a relação diplomática com o Paraguai não afeta a proposta da rota. “Eles têm relações comerciais e não me parece que a tendência do novo presidente do Paraguai seja alterar essas posições, ele continua bastante firme. Inclusive, deve aprofundar algumas questões, do ponto de vista do posicionamento do país. Mas, não quer dizer nada do ponto de vista de comercialização, no nível da rota, principalmente se a gente falar de produtos brasileiros, não é isso que vai fazer a diferença”, pontua o especialista.

Rota Bioceânica  

O corredor fará uma integração entre os países da América do Sul e trará grande transformação para Mato Grosso do Sul, que poderá usufruir de um “hub logístico”, ou seja, um centro de distribuição de mercadorias, com 2.396 quilômetros de extensão e que irá ligar os oceanos Atlântico e Pacífico, por meio do porto de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando pelo Paraguai e Argentina.

A rota será uma alternativa para chegar ao porto de Santos (SP), em menor distância, ao encurtar o tempo de exportações e importações brasileiras, entre mercados potenciais na Ásia, Oceania e Costa Oeste dos Estados Unidos, além de reduzir, em pelo menos 17 dias, o transporte para a Ásia e Oceânia.

Além de proporcionar integração física e cultural entre os países latino-americanos, a economia e o desenvolvimento das cidades, a rota visa alavancar áreas como turismo, explorando riquezas culturais e paisagísticas.

Por Julisandy Ferreira – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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