Enquanto Dourados vai imunizar 60% da população, país tem doses para 1%

Foto: Divulgação/ Laboratório Takeda
Foto: Divulgação/ Laboratório Takeda

Ministério da Saúde anunciou que a faixa etária a ser priorizada será de 6 a 16 anos 

Com o acordo firmado entre a Prefeitura de Dourados e o laboratorio Takeda, o município vai conseguir imunizar 60% da população. Enquanto que o Brasil tem doses suficientes apenas para vacinar 1,1% de brasileiros. Atualmente o Ministério da Saúde tem 5 milhões de doses, o que permite a imunização 2,5 milhões de pessoas ou 1,1% da população.

O número não cobre todas as pessoas da faixa etária escolhida, de 6 a 16 anos, que somam 30,5 milhões, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou nesta quarta (17) que ainda é necessário aumentar a produção da vacina contra a dengue para expandir as faixas etárias que receberão o imunizante.

“Ainda não está fechado como vai ser a vacinação. Depende da faixa etária, mas também do Estado ou município mais afetado. Nós vamos observar faixa etária, disponibilidade de vacinas, porque são precisas 10 milhões de doses mais ou menos para vacinar essa população”, disse aos jornalistas brasileiros em Davos.

Dourados que tem uma população de mais de 243 mil habitantes, segundo o IBGE, foi o primeiro município do país a imunizar a população contra a dengue. O laboratório disponibilizou 300 mil doses para a imunização em massa, ou seja, 150 mil douradenses receberam a vacina. Segundo a prefeitura, desde que iniciou a imunização mais de nove mil doses já foram aplicadas. No município sul-mato-grossense estão sendo vacinadas pessoas de 4 a 59 anos de idade.

Grupo priorizado 

O anúncio do Ministério da Saúde de que vai priorizar a população entre 6 e 16 anos na vacinação contra dengue foi bem recebido por especialistas. Enquanto não há doses suficientes para ampliar a imunização para adultos e tampouco aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para aplicação em idosos, a avaliação é que iniciar a estratégia por crianças e adolescentes está correta.

O público foi anunciado na última segunda-feira (15), após uma reunião da CTAI (Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização), e segue a recomendação do grupo de assessoramento (Sage, em inglês) da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e membro da CTAI, explica que a orientação do grupo internacional parte dos estudos com a vacina, a eficácia clínica da Qdenga foi avaliada em uma pesquisa com 20.099 crianças e adolescentes entre 4 e 16 anos de idade no Brasil, Colômbia, República Dominicana, Nicarágua, Panamá, Sri Lanka, Tailândia e Filipinas.

No Brasil, não são os mais jovens que compõem a maior parcela de casos graves e mortes por dengue. Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente mostram que, entre janeiro e setembro do ano passado, 6,4% das vítimas da doença tinham entre 60 e 69 anos. Dos 5 aos 9 e dos 10 aos 14, essa taxa foi de 0,9%. Ainda assim, como o imunizante não foi liberado pela Anvisa para aplicação em idosos, Kfouri avalia que o benefício de vacinar adultos não seria muito superior a vacinar crianças.

“Dependendo da região, as taxas de hospitalização são até maiores em crianças de 5 a 9, por exemplo, ou de 10 a 11 do que em adultos e idosos. A escolha pelas crianças e adolescentes é baseada nessa epidemiologia de hospitalizações, que aqui no Brasil se concentra muito na faixa pediátrica, e também nos estudos da vacina.”

Outro aspecto diz respeito aos levantamentos realizados no país. Os estudos mostram que, em boa parte do Brasil, 50% dos moradores já tiveram contato com o vírus da dengue aos 10 anos de idade. Nesse sentido, englobar a faixa etária na vacinação é uma maneira de minimizar os riscos ante uma segunda infecção, na maioria das vezes mais grave do que a primeira.

“Se nós tivéssemos um estoque ilimitado de vacinas, com certeza a indicação seria de 4 a 60 anos, como está na bula”, diz o infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor na Unesp e coordenador científico da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). “Mas estamos com um cobertor muito curto. Vamos ter que escolher uma porção da população de 6 a 16 anos e ainda regionalizar para situações mais epidêmicas.”

Em seu parecer, o Sage recomendou que a vacina seja aplicada em locais com alta carga da doença e grande intensidade de transmissão, de forma a maximizar o impacto na saúde pública. No caso do Brasil, União, Estados e municípios ainda vão se reunir para definir as áreas de distribuição do imunizante.

Para Kfouri, a definição de regiões é complexa porque, às vezes, um município que registra melhor os dados pode dar a impressão de ter um cenário pior do que outro que falha na contabilização de casos e hospitalizações. “Não é fácil estabelecer esses indicadores, mas vamos construir esses critérios junto com o Departamento de Arboviroses para que seja justa a introdução das vacinas aos poucos.” (Com Stefhanie Piovezan – Folhapress)

Por Rafaela Alves.

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