Energia solar provoca mudança no horário de pico de energia elétrica, destaca a Energisa

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Foto: Nilson Figueiredo

No passado, os maiores consumos ocorriam durante a tarde e agora, no período da noite

Tanto a concessionária de energia elétrica, a Energisa, e a de água, a Águas Guariroba, devem lucrar mais neste próximo mês, devido ao calor extremo que faz no país. De acordo com levantamento climático encomendado pela Energisa, o Estado está entre as áreas mais atingidas pela onda de calor, com máximas em torno de 40 a 44 graus, em grande parte da região. Contudo, a utilização de energia solar tem provocado uma mudança no comportamento dos consumidores, o que está impactando diretamente no registro de horários de pico.

O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) reforçou dois alertas climáticos – sendo um de grande perigo para a onda de calor em todo MS e outro, de perigo potencial para a baixa umidade relativa do ar. Consolidando recordes atrás de recordes, na tarde de ontem (25), Porto Murtinho (MS) registrou 42,8ºC e Três Lagoas (MS), 42ºC, ficando entre as maiores temperaturas do país. Além disso, Rio Brilhante (MS) obteve 9% de umidade relativa do ar, sendo a menor taxa do país. Campo Grande marcou 36,4ºC e umidade relativa de 25%.

Com isso, o pico de consumo de energia elétrica no Estado foi registrado, na última quinta-feira (21), pela Energisa, às 21h45. O recorde havia sido em 29 de março deste ano, quando o uso foi de 1.214 MW (Megawatts). A potência alcançou 1.248 MW. A concessionária destaca que a ampliação de implantação de energia solar é o principal responsável pela migração do horário de pico. A diferença no aumento de consumo de março para setembro é o suficiente para abastecer a quarta maior cidade de Mato Grosso do Sul, Corumbá. A empresa reforça que essa variação é histórica, pois nos últimos anos, as famílias sul- -mato-grossenses consumiram, em média, 41% mais energia entre os meses de agosto e novembro do que no restante do ano. “No passado, os maiores consumos registrados ocorriam no período da tarde; já nos últimos dois anos, além da geração distribuída, o comportamento do cliente mudou e o aumento de consumo identificado pela classe residencial ocorre no período da noite (por volta das 22h), devido à grande utilização de condicionadores de ar”, explica o coordenador comercial da distribuidora, Jonas Ortiz.

O agravante de condições cliInez Nazira máticas extremas, como essa onda de calor, e até temporais com fortes rajadas de vento, foi anunciado pelos meteorologistas em decorrência do fenômeno El Niño, que atinge o Estado desde o fim de agosto. Essas variações de temperatura podem contribuir para o aumento do consumo de energia, já que o uso de equipamentos para manter o ambiente mais fresco e úmido tende a aumentar. Por exemplo, um ar- -condicionado fica mais tempo ligado para manter a temperatura programada no ambiente, da mesma forma que a geladeira trabalha um período maior durante o dia, comparado a períodos menos quentes.

“Ainda que o hábito da família não mude, é possível que haja um aumento de consumo, exclusivamente por conta das altas temperaturas. É importante ter em mente que os eletrodomésticos, como geladeira e ar-condicionado, estão trabalhando por mais tempo nos dias mais quentes. Se os aparelhos funcionam por mais tempo, temos um maior consumo de energia para manter as temperaturas programadas nos aparelhos”, alerta o coordenador comercial.

Consumo médio de água por família é de 12,67 m³ por mês 

Apesar de não ter dados absolutos de consumo, que possam passar em tempo real porque dependem de muitas variações, a concessionária de água e esgoto, Águas Guariroba, informou os dados de produção de água, que estão diretamente ligados ao consumo. Segundo tabela enviada pela empresa, do dia 1º ao dia 24 de setembro, o dia de maior produção foi no último sábado (23), com 285 mil metros cúbicos de água produzidos em um dia. Não por coincidência, foi um dia com recordes de temperaturas altas. Além do calor extremo, o fim de semana é também apontado como um dia de maior consumo, pois as pessoas estão em casa, realizam tarefas domésticas, aí o consumo aumenta. Em média, uma residência com 4 pessoas consome 12,67 metros cúbicos de água por mês. Esse número deve ficar bem mais alto no próximo mês, exatamente pela produção e consequente consumo maior da população, por conta do calor. No caso da energia elétrica, quem tiver um consumo de energia de 505KWH deve receber uma conta no valor de R$ 886,47. Um valor considerado um pouco acima da média. No entanto, muitas pessoas estão utilizando ares-condicionados, que antes eram ligados somente à noite, agora, estão sendo usados durante o dia todo. Esse consumo excessivo deve fazer com que a conta chegue bem mais salgada, no próximo mês, para o consumidor.

População teme pelo valor da próxima conta de energia elétrica

A empresária Vânia Maria Antunes, 64, proprietária da loja de roupas femininas Free Fashion, no bairro Maria Aparecida Pedrossian, disse que têm tentado driblar. “Olha, tenho me segurado para não ligar o ar durante a manhã. Ligo a partir das 14h e, mesmo assim, estou muito preocupada com a conta de energia, geralmente o uso do ar aumenta o valor quatro vezes mais”, relatou.

Na loja Centro-Oeste Embalagens, a situação é a mesma, segundo o proprietário, Cleber Weis Cintra, 47. “À tarde não tem outra solução, preciso ligar o ar- -condicionado, porque dentro da loja fica muito quente. Os clientes entram e já param na frente do ar”, disse.

O calor extremo afetou também a rotina do desenvolvedor Pedro Henrique Campagna, 23. Residente no bairro Monte Castelo, foi obrigado a mudar seu local de trabalho dentro de casa, pois o escritório era a peça mais quente da casa. “A compra do ar-condicionado ocorreu há alguns meses, entretanto, o calor me fez correr atrás de realizar a instalação dos ares que estavam nas caixas.”

Energia solar é a solução? 

Nos últimos anos, a implantação de energia solar em residências vem aumentando significantemente, e pode ser a solução para diminuir o valor da conta de energia elétrica, principalmente em tempos como o que estamos passando, com altas temperaturas. Segundo Alexandre Soares, proprietário da empresa Lasertech, uma residência que consome, por exemplo, 371KWH, precisaria de um projeto de energia solar com 600KWH, e gastaria em torno de 15 mil reais para instalá-lo. Apesar de o valor ser alto para a maioria da população, pode ser dividido ou financiado em até 72 vezes, o que possibilita o investimento, que compensará bastante no médio e longo prazo. Fazendo as contas, com esse exemplo, o proprietário pagará em torno de R$ 209 reais, mais o consumo mínimo. O valor total seria bem menor que o valor da conta que pagaria hoje. Além disso, pode optar por dar uma entrada e facilitar o restante também, caso prefira. Aí vai depender das condições de investimento de cada pessoa.

Por Daniela Lacerda – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul

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