Em depoimento, filho confirma que pai “só gosta de quem tem olho azul e odeia quem tem olho castanho” Defesa de criança de quatro anos destacam que mesmo com a declaração polícia investiga o caso como vias de fato
Desde a segunda-feira (11), quando o caso ocorrido dentro da Escola Municipal Professora Iracema de Souza Mendonça de Campo Grande foi denunciado e amplamente divulgado por meio de um vídeo que registra o momento da agressão realizada pelo pai ao ver o filho de quatro anos sendo abraçado por uma coleguinha de sala de pele negra, está gerando a revolta e a repercussão nacional. Ontem (15), as advogadas de defesa da família da vítima divulgaram parte do depoimento do filho do acusado no qual, diferente da versão apresentada pelo pai de que o caso não teria sido motivado por racismo, o menino alega que o pai “só gosta de quem tem olho azul e odeia quem tem olhos castanhos”.
Em nota enviada ao Jornal O Estado, a Polícia Civil destaca que segue investigando o caso com cautela. “A Polícia Civil de MS informa que está atualmente conduzindo uma investigação abrangente sobre os eventos recentes ocorridos em uma escola municipal da capital. Nesse sentido, a dinâmica e tipificação dos incidentes estão sob sigilo das autoridades policiais, em razão da natureza sensível desta apuração que exige cautela”, finalizou a nota.
Conforme as advogadas Lione Balta Martins Cardozo e Flávia Heloisa Anselmo, a família aguardava o fim da fase investigativa da Delegacia Especializada, que teve como conclusão inicial que o caso não se trataria de um crime de racismo e sim, de vias de fato. Contudo, ao ter acesso ao depoimento das partes envolvidas, o depoimento do filho do acusado chamou a atenção e segundo a equipe jurídica é mais uma prova de que o caso deve ser enquadrado como racismo. “Perguntado sobre o ocorrido, a criança conta que a vítima só o abraçou essa a única vez e declara com suas palavras: O meu pai não gosta que me pega, é porque meu pai só gosta de quem tem olho azul, ele odeia quem tem olho castanho”, explicou a defesa.
Além disso, durante a conversa com a equipe especializada de psicologia da Delegacia Especializada, o menino confirma que apanha do genitor de chinelo e cinto quando faz arte.
Conforme noticiado anteriormente pelo Jornal O Estado, o homem de 32 anos também tem uma série de postagens em suas redes sociais. Em uma das publicações diz “Morte da Negreda”. As advogadas de defesa da família da criança, Lione Balta Martins Cardozo e Flávia Heloísa Anselmo, destacam que o pai do menino invadiu a escola, no qual é proibida a entrada de pessoas que não trabalhem ou estudem no local, após, visualizar a criança dando um abraço em seu filho.
“No momento do ocorrido, a diretora estava na grade, pois recepcionava as crianças para o início do dia letivo, quando também foi agredida ao ser empurrada, momento em que ele forçou sua entrada. O pai adentra ao local, empurra a criança, desfere palavras e sai com o filho da escola para fora. Em depoimento, a diretora confirma os fatos narrados, e alega ainda que dentro de sua sala, enquanto fazia a ata do ocorrido, o acusado permanecia ordenando ao filho que batesse na coleguinha em situações semelhantes. As imagens são claras e chocam, ao mostrar que a menina havia apenas dado um rápido abraço no coleguinha ao chegar, como um cumprimento infantil e afetuoso entre crianças. Nada mais que isso”.
Além disso, no depoimento do pai da criança, ele admite o que fez e alega apenas ter ficado com raiva e nervoso ao ver a criança abraçando seu filho, sem maiores ou outras justificativas. E, admite ainda que já ordenou que o filho desse “uma porrada” na criança, caso ele fosse “importunado”. “A violência é nítida e estarrecedora”, finaliza a nota à imprensa.
Sem entender os motivos das agressões contra a filha de apenas quatro anos, os pais da garotinha resolveram tirar a menina da escola. Os pais da menina prestaram depoimento à polícia.
Por Michelly Perez
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