O presidente nacional do Novo, Eduardo Ribeiro, vê como natural a indicação do nome do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, para a sucessão presidencial com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. Em visita ao jornal O Estado, Eduardo Ribeiro revelou que o próprio Zema tem interesse em disputar a eleição de 2026 e mostrou ser favorável a uma união entre o partido e o bolsonarismo. “Tem muito chão pela frente e, certamente, o governador (Zema) vai querer estar na mesa. Ele é visto como presidenciável e não é à toa, pelo fato de ter feito um grande trabalho, à frente do governo de Minas Gerais”, defende.
O partido adotou postura de ser oposição ao governo Lula. “Minha função, como presidente, é não querer a continuidade do PT no Brasil e temos que encontrar uma alternativa, se vai ser o governador Romeu Zema, se vai ser [o governador de São Paulo] Tarcísio [de Freitas], se vai ser outra liderança de centro-direita ou da direita”, complementa.
A decisão de seu antecessor e ex-presidente da sigla, João Amoêdo, de declarar voto em Lula (PT), no segundo turno das eleições de 2022, faz, até hoje, o partido pagar caro. “É um episódio a ser superado. Foi constrangedor e incoerente a declaração de voto de João Amoêdo em Lula. O PT e o Lula representam tudo o que o nosso partido sempre combateu. A saída do João do partido Novo foi a prova final de que o Novo nunca mudou, quem mudou foi o João”, garante.
Eduardo Ribeiro esteve em Campo Grande, discutindo o cenário político nacional com filiados do Novo. Questionado sobre a conduta do partido que hoje apoia, por exemplo, a reeleição e uso do fundo eleitoral, Eduardo Ribeiro rebate as críticas. “Eu não diria que o partido desvirtuou, o partido continua seguindo seus princípios. O Brasil é o país que mais coloca dinheiro público nos partidos políticos. Não desvirtuamos dos nossos princípios que, dentre eles está o respeito aos recursos públicos, vamos usá-los com transparência e parcimônia”, declara.
Eduardo Ribeiro é catarinense, empresário, formado em Farmácia e Bioquímica e tem sua atuação profissional voltada ao setor da saúde. Assumiu a presidência do partido em 2020. O dirigente adiantou que o Novo pretende lançar candidato à prefeitura em pelo menos 300 municípios e em Mato Grosso do Sul quer ter chapa para prefeito e eleger um vereador na Capital.
O Estado: O Partido Novo chegou sendo algo diferente na política. Por que desvirtuou de suas bandeiras?
Eduardo Ribeiro: Eu não diria que o partido desvirtuou, ele continua seguindo seus princípios. O Brasil é o país que mais coloca dinheiro público nos partidos políticos. Não desvirtuamos de nossos princípios que, dentre eles está o respeito aos recursos públicos. Vamos usá-los com transparência e parcimônia. A gente teve que tomar uma decisão sobre as possíveis mudanças, pois, se continuássemos com algumas posturas, não teríamos como fazer o partido crescer e disputar eleições nos próximos anos. O planejamento da sigla, que tem sua ideologia pautada por regras de compliance, governança e controles internos, visa abordar temas relacionados à ética e boas práticas de gestão. As agendas sempre foram programadas para abrir diálogo, integração e discussões pautadas nos princípios do nosso partido. Também, apresentamos as regras para a filiação e inscrição a candidaturas em cargos de vereadores e prefeitos, ampliando nossa rede com o apoio.
O Estado: O Novo era contra o uso do fundo partidário, então, por qual razão passou a usá-lo nas campanhas eleitorais?
Eduardo Ribeiro: Nós enfrentamos um dilema de responsabilidade com convicção. Claramente, nós chegamos a um modelo hoje, no Brasil, em que é praticamente inviável sobreviver ou disputar em pé de igualdade com aquilo que nos propúnhamos e propusemos a fazer como partido político, de não usar recursos públicos. Quando o partido foi fundado, lá em 2011, não existia fundo eleitoral e o fundo partidário era menor do que é hoje. Tudo isso mudou, de lá para cá. O fundo eleitoral foi criado com uns R$ 5 bilhões. Hoje, é de R$ 1 bilhão. Não são mais possíveis as doações de pessoa jurídica, e as de pessoas físicas têm um teto de 10%, ou seja, limita até mesmo a capacidade de grandes doadores ajudarem os partidos políticos, de modo que o próprio sistema se moldou para dificultar nosso modelo de campanha.
O Estado: Hoje, o Novo se declara como oposição ao governo Lula. Diante desse quadro, a tendência seria de direita?
Eduardo Ribeiro: Nós temos um pensamento de direita e isso nos coloca como oposição ao governo do presidente Lula e assim estamos atuando e vamos continuar, por participar de eleições sempre como voz de oposição. Manter a linha do Novo, de fazer oposição programática ao PT, embora não descarte votar a favor de projetos que possamos achar positivos. Um deles é a reforma tributária.
Intentamos conseguir construir uma alternativa, porque somos oposição ao governo Lula e ao PT. O arcabouço aprovado pelo governo, por exemplo, oferece os incentivos errados, para gastar e não para cortar. Somos fiscalistas, queríamos um arcabouço que forçasse o Executivo a tomar decisões mais eficientes. Vamos nos alinhar às forças de direita, tanto no exercício de mandato no Legislativo quanto nas cidades em que nossos representantes forem eleitos. No Congresso, já somos voz ativa para combater projetos encaminhados pelo governo federal e que consideramos inadequados para o Brasil.
O Estado: O episódio que provocou, até certo ponto, um racha dentro do partido, com João Amoêdo, ficou no passado?
Eduardo Ribeiro: É algo a ser superado. Foi constrangedor e incoerente a declaração de voto de João Amoêdo em Lula. O PT e o Lula representam tudo que o nosso partido sempre combateu. A saída do João do partido Novo foi a prova final de que o Novo nunca mudou, quem mudou foi o João. Apoiar aqueles que aparelharam órgãos de Estado, corromperam nossa democracia e saquearam os cofres públicos é fazer oposição ao povo brasileiro. O Novo sempre foi e sempre será oposição ao lulopetismo e a tudo que ele representa.
O Estado: Atualmente, a principal referência do partido no Brasil é o governador de Minas, Romeu Zema. Existe a possibilidade de ele se candidatar, em 2026, à presidência da República, com Bolsonaro inelegível?
Eduardo Ribeiro: Tem muito chão pela frente e, certamente, o governador vai querer estar com seu nome na mesa. Ele é visto como presidenciável e não é à toa, pelo fato de ter feito um grande trabalho à frente do governo de Minas Gerais. Ele enfrentou problemas na primeira gestão e, mesmo assim, foi reeleito. Para o segundo mandato, já traz a experiência do primeiro, principalmente na relação com a Assembleia Legislativa. Minha função, como presidente, é não querer a continuidade do PT no Brasil e temos que encontrar uma alternativa. Se vai ser o governador Romeu Zema, se vai ser [o governador de São Paulo] Tarcísio [de Freitas], se será outra liderança de centro-direita ou da direita.
O Estado: Para as eleições municipais, quais os próximos passos?
Eduardo Ribeiro: Estávamos com uma previsão de participação em eleições em pelo menos 300 municípios e procuramos atrair filiados em diversos municípios, sendo que essa meta já foi batida e deveremos superar a marca de 400. O partido está crescendo, teremos saldo positivo de filiações, neste mês. Estamos investindo na profissionalização do partido e em pesquisas de imagem. A marca do Novo continua sendo muito forte. Queremos ministrar uma palestra para os filiados do partido Novo com ênfase nos que pretendem concorrer às eleições municipais. Estamos concluindo o primeiro ciclo do projeto interno do partido Novo, que teve como objetivo atrair filiados e definir nomes que se enquadram na filosofia do partido.
O Estado: Especificamente para Mato Grosso do Sul, o que o Novo vai apresentar?
Eduardo Ribeiro: Mato Grosso do Sul conta com um quadro de candidatos que representam a mudança que foi proposta pelo partido Novo. Na eleição de 2024 estamos apresentando, aos nossos filiados, uma posição mais pragmática, fazendo alianças onde for possível, para que tenhamos condições de eleger candidatos nas Câmaras de Vereadores. Evidentemente, estão vetadas alianças com partidos de esquerda, especialmente com o PT.
O partido deve começar a definir, ainda no segundo semestre deste ano, o nome dos candidatos a prefeito da Capital e em cidades onde isso for possível. No caso de Campo Grande, dois nomes já se dispuseram a assumir uma candidatura, mas isso só deverá acontecer no fim do ciclo de formação dos candidatos do partido. Além de um nome para prefeito, a chapa para disputar vagas na Câmara da Capital também já tem 20 pretendentes.
O Estado: Estamos vendo a criação de federações e a unificação de partidos para as próximas eleições. Qual a posição do Novo?
Eduardo Ribeiro: Nunca esteve nos planos do partido fusão ou incorporação a qualquer sigla, tampouco a formação de federações. Nosso foco sempre foi trabalhar com as bases nos municípios. Depois de 2018, quando tivemos um crescimento, sabíamos que 2022 teria uma eleição difícil, por causa da polarização, por isso, optamos por tentar construir uma alternativa e isso teve um preço: nosso resultado foi abaixo do esperado, como o de todos os partidos que não polarizaram.
Não alcançamos a cláusula de barreira, mas o maior impacto dela é o fim do acesso ao fundo partidário e eleitoral, que sustenta os partidos. Como o Novo não usa nenhum dos dois e tem a sua própria forma de financiamento, via mensalidade de filiados, o funcionamento do partido continua o mesmo. Apesar do resultado, tivemos muitas filiações novas desde domingo, bem acima da média, e já estamos planejando nossa expansão nos municípios, para as eleições de 2024.
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