[Por Alberto Gonçalves e Rafael Belo – Jornal O Estado de MS]
“A democracia não compõe com gritos”
Ferrenho nas críticas ao governo de Jair Bolsonaro, o deputado federal Fábio Trad (PSD), diz que estará com o partido em busca de uma alternativa que não seja nem o ex-presidente Lula para eleições 2022. O parlamentar nega ter procurado espaço na bancada de MS como opositor, que as críticas que faz são as mesmas feitas no passado.
“Quando o PT incorreu no exercício do poder em práticas ilícitas, também fiz críticas ásperas, da mesma forma que estou fazendo com o governo Bolsonaro. Agora, por exemplo, diante desse escândalo a traficância do interesse privado no seio do estado brasileiro. Então, se vê que não estou denunciando o PT ou o partido de Bolsonaro, estou denunciando a corrupção”, pontuou.
Em entrevista ao jornal O Estado, Fábio esclarece que não passa de boato a possibilidade de assumir o Ministério da Defesa em caso de vitória de Lula à presidência. “Não sei de onde partiu esse comentário e não posso comentar sobre algo que nem no terreno da hipótese eu ventilo”, garante
. “O PT não fez essa autocrítica. Me parece que vai ser muito difícil convencer parte da população. Ou se o fizer agora, que está realmente arrependido e nunca é tarde para fazer. Assim, penso que a postura do PSD buscando uma terceira via é mais adequada”, completou.
Fábio Trad aposta que o irmão, o prefeito Marquinhos Trad renunciará à prefeitura para disputar ao governo do Estado. Na sua visão, Marquinhos pode fazer muito mais para Campo Grande e pelo interior sendo governador. Ele atribui o fato de haver dúvidas sobre sua renúncia aos opositores, mas sabe que faz parte do jogo e será definido dia 2 de abril.
“É uma opção que ele fez. Se ele conseguir o objetivo dele, vai poder fazer por Campo Grande e pelo interior do Estado, mais do que como prefeito. Penso que ninguém é insubstituível no mundo e a Adriane (Lopes) vai dar conta do recado”, opinou.
Estado: Vivemos em um país dividido. Por que a polarização em se acirrado nesse momento?
Fábio Trad: Atribuo essa polarização a um superficialismo de ideias que se contrapõem, l excluindo as possibilidades de outras terem subsistência no cenário ideológico. Essa polarização não é brasileira, não é uma ‘jabuticaba’ nossa. Ela ocorre em vários lugares do mundo, mas penso que num regime democrático é possível sim enunciar este sintoma do debate como manifestação patológica e, através desta denúncia tentar superá-la com a necessária diversificação de argumentos no plano das ideias e sobretudo a aproximação da pluralidade ideológica, que é na minha visão a essência da democracia.
O Estado: As pessoas se tornaram mais agressivas nas redes sociais muito também por ser alimentada pela própria classe política?
Fábio Trad: Observamos que aquele que ousa criticar um lado, automaticamente é taxado como adepto do outro. Esta é uma manifestação patológica do debate. Estamos vivendo tempos de doença nos embates argumentativos. É uma doença eprecisamos combatê-la. Como fazer? Tolerância, respeito à adversidade e exercício diário de convivência democrática. Porque a democracia é um exercício diário de convivência.
A democracia é a melhor professora que nos ensina a conviver com argumentos adversos. Os que hoje estão chafurdados nesta polarização, sejam eles de esquerda, ou de direita, os comunistas, esquerdopatas, contra os fascistas, bolsonaristas, eles não têm afeição pela democracia, ou não sabem conviver em regime democrático. A democracia não compõe com gritos, nem com alaridos opressores. A democracia tem sintonia com o conteúdo persuasivo do argumento.
Por isso, achamos muitas vezes estranho a rotina do parlamento alemão, inglês, quando se vê debates acalorados, mas rigorosamente dentro de padrões estabelecidos de forma centenária até. Precisamos aprender com eles. Não é agredindo jornalistas, falando palavrões, não é batendo na mesa, como argumento de autoridade que você vai convencer o interlocutor. É através da racionalidade. Então, como estamos vivendo tempos de manifestação irracional, primeiro passo para superar este problema é denunciando, como estamos fazendo aqui. E o segundo nos exercitando democraticamente nessas vias de argumentação.
O Estado: Por diversos momentos as suas críticas ao governo federal chegaram ser mais firmes do que de muitos parlamentares do PT. O deputado procurou ocupar este espaço aberto na bancada de MS como um opositor?
Fábio Trad: Quando o PT incorreu no exercício do poder em práticas ilícitas, também fiz críticas ásperas, da mesma forma que estou fazendo com o governo Bolsonaro. Agora, por exemplo, diante desse escândalo a traficância do interesse privado no seio do estado brasileiro.
Então, se vê que não estou denunciando o PT ou o partido de Bolsonaro, estou denunciando a corrupção, que não tem partido. Quem não tem coerência, é quem denunciava a corrupção do PT, mas agora está acumpliciado pelo silêncio com a corrupção no governo Bolsonaro. Ou quem fez o inverso, quem se acumpliciou lá atrás com o silêncio e agora vocifera. Eu estou mantendo a minha linha.
O Estado: Em que lado estará Fábio Trad na eleição?
Fábio Trad: Ainda insisto na possibilidade de uma terceira via para superar esse superficialismo argumentativo de caráter reducionista, que empobrece o debate democrático e que nos leva a ser os piores como seres humanos. Por isso, ainda insisto na possibilidade de termos um nome, que galvanize boas energias intelectuais, cívicas, que supere e transcenda essa polaridade. Portanto, o Fábio Trad estará com o partido buscando uma alternativa a esses dois nomes que hoje monopolizam as pesquisas eleitorais.
O Estado: A possibilidade do PT chegar à Presidência como que fica após diversos escândalos e escândalos de corrupção envolvido pelo partido?
Fábio Trad: Venho dizendo já há algum tempo que o PT precisa fazer uma autocrítica. Tem de reconhecer sim, que houve ilegalidade, transgressões graves no seu governo. Milhões de reais foram materializados em crimes de corrupção, peculato, outros contra a administração pública. Eles existem, esse dinheiro foi realmente subtraído a população brasileira. O PT não fez essa autocrítica. Me parece que vai ser muito difícil convencer parte da população. Ou se o fizer agora, que está realmente arrependido e nunca é tarde para fazer. Assim, penso que a postura do PSD buscando uma terceira via é mais adequada.
Com relação ao governo Bolsonaro, precisamos deixar muito claro, que enquanto ele, direta ou indiretamente atingir a democracia nas suas múltiplas formas, não contará com meu apoio. Reitero que desde o dia 7 de Setembro, quando houve uma tentativa oficial de golpe no Brasil, contra as instituições democráticas, golpe, porque o presidente afirmou que não cumpriria ordens de um ministro do Supremo Tribunal Federal, minha crença no governo Bolsonaro, que já era diminuta, se acabou. Portanto, o momento é de termos alguém ponderado, equilibrado, que respeite as instituições e que pare de fazer jogo político e cuide dos problemas do povo.
O Estado: Muito tem se falado do deputado em até ser Ministro da Justiça no governo de Lula. Aceitaria o convite?
Fábio Trad: Não sei deonde partiu esse comentário e não posso comentar sobre algo que nem no terreno da hipótese eu ventilo.
O Estado: O deputado apoiaria candidatura própria do PSD à presidência tendo como nome o governador do RS Eduardo Leite?
Fábio Trad: Sim. Não só do Eduardo Leite, onde devido aos últimos acontecimentos passo a não acreditar em sua vinda, mas outro nome, ainda que não seja conhecido, mas que tenha competitividade, contará com meu apoio.
O Estado: Na próxima semana vivemos a expectativa da renúncia do seu irmão, Marquinhos Trad da Prefeitura de Campo Grande para concorrer ao governo do Estado. Por que há muitas dúvidas sobre a candidatura?
Fábio Trad: Porque elas estão sendo superficialmente fabricadas por quem quer ganhar terrenos nessa fase de articulações. Então, essas dúvidas estão sendo plantadas pelos prováveis opositores, adversários dele na caminhada eleitoral. Isto é natural, compreensível, faz parte do jogo. Só vamos ter evidentemente cessadas essas intrigas, dúvidas artificiais no dia 2 de abril.
O Estado: Deixar a prefeitura restando quase 3 anos é interessante nesse momento?
Fábio Trad: É uma opção que ele fez. Se ele conseguir o objetivo dele, vai poder fazer por Campo Grande e pelo interior do Estado, mais do que como prefeito. Penso que ninguém é insubstituível no mundo e a Adriane (Lopes) vai dar conta do recado.
O Estado: Na hipótese mais espera de um segundo turno nas eleições ao governo do Estado, quem seria o candidato para disputar com Marquinhos?
Fábio Trad: É difícil. Os pré-candidatos até agora postos são bons, nomes que merecem o meu respeito. Me sentiria constrangido em dizer qual seria o melhor para ele enfrentar. Para a democracia, penso que qualquer um deles está a altura do debate.
O Estado: Existe uma ala aconselhando a desistir da ideia?
Fábio Trad: Não há.
O Estado: Se fosse dar um conselho ao Marquinhos, qual daria?
Fábio Trad: Como ele está decidido a enfrentar o governo, que renuncie e faça uma campanha a altura da expectativa do povo decente desse Estado. Uma campanha convincente de diagnósticos e perspectivas. Quais os verdadeiros problemas do estado de Mato Grosso do Sul? Como superá-los com propostas concretas e tecnicamente embasadas. Ele sabe se comunicar com a população. Meu conselho é este: Enfrente e vença.