Com dívidas que ultrapassam R$ 2 bi, metade da população de Campo Grande está inadimplente

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[Texto: Julisandy Ferreira e Suzi Jarde, Jornal O Estado de MS]

Dados da Serasa revelam que na Capital, dividas por pessoa alcançam um milhão e endividados já são mais de 400 mil

De acordo com levantamento feito a partir de números da Serasa – empresa privada de referência em análises e informações para decisões de crédito, Campo Grande hoje tem metade da população inadimplente, com 407.348 envidados, débitos que alcançam R$ 1.598,512 por pessoa e ao todo somatizam mais de dois bilhões de reais.

Na atualidade, a Capital possui 897.938 pessoas, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sendo 111,09 habitante por quilômetro quadrado. A partir disso, pessoas com dívidas possuem ticket médio de R$ 5.106,92, enquanto o ticket médio por dívida fica em R$ 1.420,12.

De acordo com o economista, Eugênio Pavão, ocorre uma série de acontecimentos negativos que colaboram para que as pessoas faltem com seus compromissos financeiros. Uma delas é o desemprego.

A inadimplência é uma questão que engloba economia, finanças e psicologia. As dificuldades dos últimos anos, crise econômica, pandemia e desemprego levou a um aumento do endividamento. Junte-se a isso a carência de conhecimento das questões de finanças pessoais, causa essa “bola de neve”.

Busca por crédito

Conforme mostra levantamento da empresa de consultoria Serasa Experian, em análise por estado quando o assunto é a procura por crédito, Mato Grosso do Sul (6%) assume a terceira posição, atrás somente de Mato Grosso, 7,4%, seguido por Santa Catarina (6,3%).

O Indicador Serasa Experian da Demanda das Empresas por Crédito é calculado a partir de uma amostra de cerca de 1,2 milhão de CNPJs consultados mensalmente na base de dados da empresa de consultoria. São consideradas transações que configuram alguma relação de crédito entre as empresas e as instituições do sistema financeiro.

A busca por crédito pelas empresas no primeiro semestre deste ano teve queda de 3,5% na comparação com igual período do ano passado, aponta levantamento da empresa de consultoria Serasa Experian. É a primeira vez que o Indicador de Demanda das Empresas por Crédito tem retração no acumulado dos primeiros seis meses do ano desde 2020, meses iniciais da pandemia da covid-19.

Análise econômica

O Professor do Curso de Economia da UFGD, Enrique Duarte Romero, reforça que o problema com a inadimplência é algo que ocorre não só Campo Grande, mas que afeta todo o país.

“Essa estatística da capital é o que acontece na maior parte do Brasil. Fiz uma vez, um estudo em que Campo Grande estava entre as seis capitais que estavam nessa faixa (Inadimplência). Isso é muito ruim, não só para o comércio, mas para toda economia. É ruim porque você tem um mundo de gente que está sem condições de adquirir crédito”, destaca Romero.

Ainda conforme pontuou o economista, a inadimplência dificulta o consumo, fator essencial para gerar a economia. “O interessante para a economia é ter essas pessoas consumindo. Interessante para os dois lados, tanto para os credores e para os devedores também. Os credores porque vão receber, e os devedores porque vão pagar com os juros, que eu chamo de ‘juros mais decentes’, ou seja
mais baixos.

Na analise do Mestre em Economia, Eugênio Pavão, outro motivo que leva as pessoas a não conseguir manter suas contas em dia, é não ter acesso ou interesse pela educação financeira.

“A falta de informação e de aulas de finanças pessoais para crianças e jovens, é uma falha no sistema educacional. A economia é uma ciência bastante ampla e por isso causa um certo medo nas pessoas, nem sempre é necessário a matemática, mas sim o raciocínio lógico, estratégia, mas fica o receio”, explica.

Outro caminho que leva para a inadimplência, segundo visão do economista, é acreditar nos financiamentos com juros oferecidos pela agências de empréstimo.

“O sistema financeiro dá opções fáceis de crédito, financiamento quanto mais fácil o dinheiro, mais caro é. Hoje, a Internet ajuda as pessoas a acreditar que os gastos com crediários, cheque especial, faz parte da renda, quando na verdade é um destruidor de rendas futuras. Essa ilusão é vendida pela publicidade, que leva à crença de renda e lucros fáceis. Em boa parte influencia e leva a acreditar que pagar juros é vantagem. Em princípio apontaria dois motivos. Que o consumidor não paga seus compromissos. Vai ser o cálculo errado que ela fez, ou desemprego. O imprevisto a partir daí ele deixa de pagar seu compromisso. A maioria dos consumidores sabe que o único ativo que ele tem é o nome limpo”.

FALA POVO: Você tem alguma dificuldade em manter suas contas em dia? 

João Roberto, 41 anos, vendedor (Foto: Nilson Figueiredo) “O salário é muito baixo, e os impostos muito alto não tem jeito. Eu mesmo para ficar em dia com as dívidas tenho dois empregos.”

Marciano Silva (Nilson Figueiredo) “É difícil, mas tem que ter um controle, não adianta querer avançar no que não tem. Se você ganha R$ 10 mil, mas gasta R$ 20 mil fica endividado mesmo.”

Walter Wainer Ferreira 64 anos, diarista (Nilson Figueiredo) “É difícil ficar em dia com as contas, pois tá tudo caro. Eu mesmo estou sobrevivendo com R$ 600 por mês e alguns ‘biquinhos’ que faço, estou lutando para me aposentar e melhorar um pouco a situação.”

Guiomar Borjas, 64 anos, diarista e aposentada (Foto: Nilson Figueiredo). “Não tenho dificuldade em manter minhas contas em dia, mas porque trabalho. Apesar de ser aposentada, continuo fazendo diárias. Por que tenho de pagar aluguel, água, luz, conta de celular, internet ou algum imprevisto que aparece.”

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