Eles receberam a ordem de saída no último dia 30 e têm até sexta-feira para se mudar
Por Kamila Alcântara – Jornal O Estado
Entre os bairros Rita Vieira e Itamaracá existe o Jardim Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, bem ao lado do antigo trilho de trem e no meio da vegetação, onde encontram-se cerca de 20 famílias em moradias improvisadas ou pequenas chácaras. De alvenaria ou barracos de lona e madeiras, todas as casas estão com as, já tradicionais, marcações vermelhas da prefeitura, com ordem de retirada prestes a vencer e sem terem para onde ir.
As casas estão um pouco espalhadas, algumas são recentes e outras já foram construídas há décadas. Como é a do Mário Figie, de 87 anos, que vive na região tem pelo menos 34 anos. Ele mostra com orgulho os coqueiros e flores que plantou, no local em que vive com a filha e um neto, mas que precisa sair até sexta-feira (10).
“Um pessoal chegou aqui no dia 30, dizendo que precisamos sair em dez dias. Chegaram a dizer que tenho direito a uma casinha, mas como vou colocar todas as minhas coisas, de anos de vida, em trinta metros quadrados. É quase uma casinha de pombo! Tenho consciência de que construí em área público, isso na década de 80, sei que não é meu, mas só quero viver aqui até ocupar um lugar no cemitério”, desabafa o idoso.
Do outro lado do riacho, aos fundos da chácara do senhor Mário, na Rua Antônio Fontoura Borges, estão os barracos de lona e madeira construídos há cerca de dois anos. Trabalhando com serviços gerais, Edilson Rodrigues Santos, 38, veio de Brasília em 2020 tentar uma vida melhor para a esposa e quatro filhos. Na companhia do sobrinho, esposa dele e mais um bebê, acreditaram que ali era o melhor lugar para a nova vida, mas o oficial de justiça bateu na porta deles também no dia 30.
“O pessoal que veio aqui disse que esse espaço pertence à Marinha, mostraram a papelada e deram os dez dias para a gente sair. Mas quem vive aqui é porque já não tem outro lugar para morar. Nós não temos parentes e, mesmo se tivesse, onde iria abrigar todas as crianças? Parece que a Emha ia fornecer um terreno ou casa, mas até agora nada”, destaca Edilson.
Um pouco afastado desse grupo de residências, no prolongamento da Avenida Ana Batista Caminha, está a casa do pedreiro Júlio Cézar, de 59 anos. Ele foi morar naquela área depois que a empresa, onde trabalhava com pré-moldados, faliu por causa da pandemia. Mesmo preocupado, Júlio se apegou à promessa de ter um novo espaço para viver.
“Eles me disseram que eu precisava sair para terminarem a Avenida Ana Batista, mas prometeram colocar minha esposa e eu em outro lugar. Não sei se é um terreno ou casa. Um rapaz até tentou construir um barraco aqui do lado, mas não deixaram para não aumentar as famílias por aqui. Derrubaram a casa dele”, disse Júlio.
A Emha, citada pelo brasiliense Edilson, é a antiga Agência Municipal de Habitação, que hoje faz parte da Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários). O jornal O Estado entrou em contato com a agência e com a Prefeitura de Campo Grande, mas até o fechamento do texto não obteve respostas.
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