Vendas seguem instáveis e crescimento do setor é tímido no 1º quadrimestre
Enquanto Mato Grosso do Sul colhe os frutos de um agro em expansão e vê o desemprego permanecer abaixo da média nacional, o varejo ainda tateia uma recuperação consistente. Essa é a síntese do Termômetro do Varejo de junho, divulgado pela FCDL-MS (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado), com base em dados do IBGE, Caged, Banco Central e Ministério da Agricultura.
O panorama econômico mostra um Estado com fundamentos sólidos — a taxa de desocupação ficou em 4,0% no 1º trimestre de 2025 e a renda média subiu para R$ 3.613 —, mas que ainda convive com um comércio hesitante, cujas vendas crescem em ritmo tímido e desigual.
Entre janeiro e abril, o varejo ampliado sul-mato-grossense — que inclui setores como veículos, material de construção e atacadistas — avançou 0,5% em comparação com o mesmo período de 2024. Já o comércio varejista restrito, que exclui essas atividades, registrou recuo de 0,6%. “A recuperação vem, mas ainda não é uniforme. Há uma clara desconexão entre os indicadores positivos da economia e o fôlego do consumo das famílias”, avalia a presidente da FCDL-MS, Inês Santiago.
A aparente contradição se explica em parte pela dinâmica de outros setores da economia. O agro, por exemplo, voltou a acelerar: o Ministério da Agricultura estima um crescimento de 18,1% no faturamento agropecuário estadual em 2025, com o valor bruto da produção chegando a R$ 78 bilhões. Já os serviços também dão sinais de recuperação, com alta de 2,3% no volume prestado no mesmo intervalo.
A indústria, por outro lado, ainda se retrai: teve queda de 3,5% na produção no acumulado do ano. “Há uma espécie de dança econômica em curso. O agro e os serviços puxam a atividade, mas a indústria e o varejo ainda buscam compasso”, aponta a análise da entidade.
Emprego resiste, mas oscila
No mercado de trabalho, o saldo é positivo, embora instável. O comércio criou 970 vagas formais em abril, com desempenho melhor em Campo Grande, onde o setor foi o segundo que mais empregou no mês. Ainda assim, entre janeiro e abril, os números do varejo oscilaram entre saldos negativos e positivos. “Apesar das flutuações, o varejo encerra o quadrimestre com saldo positivo de contratações”, destaca o Termômetro.
A Capital concentra 36,8% do total de empregos formais do Estado e fechou abril com saldo de 1.459 novas vagas. Destas, 324 foram geradas pelo comércio, atrás apenas do setor de serviços (686).
Inflação dá sinais de recuo
Outro fator que afeta diretamente o consumo é a inflação. Em Campo Grande, o IPCA acumulado em 12 meses até maio foi de 5,7%, acima da média nacional (5,3%). O maior impacto veio dos alimentos e bebidas, com alta de 8,8%. O vestuário aparece em seguida, com 5,5%. A expectativa, segundo a FCDL, é de que a recuperação do agro ajude a frear os preços nos próximos meses.
Crédito cresce, mas desacelera
Os dados do Banco Central mostram ainda que o crédito continua em expansão no Estado, embora em ritmo mais moderado. Em abril, o volume de crédito às famílias cresceu 10,1% em relação ao mesmo mês de 2024, enquanto os empréstimos às empresas aumentaram 16%. Ainda assim, a taxa de crescimento é inferior à observada em anos anteriores, o que sugere cautela do consumidor e do empresário.
Exportações em alta
No comércio exterior, Mato Grosso do Sul mantém desempenho robusto. As exportações somaram US$ 4,3 bilhões de janeiro a maio, com alta de 2,9% em relação ao mesmo período do ano passado. As importações recuaram 11,2%, resultando em superávit comercial de US$ 3,3 bilhões. Os destaques continuam sendo a celulose (37% do total exportado), soja (25%) e carne bovina (13%).
Mesmo com alguns setores em marcha acelerada, o varejo ainda pisa com cautela. A combinação de inflação elevada em alimentos, ritmo mais lento na indústria e crédito menos vigoroso tem segurado parte do ímpeto de consumo. Ainda assim, o cenário geral é de otimismo moderado: os fundamentos da economia estadual estão sólidos, e o varejo ampliado já supera os números de 2024 mês a mês desde fevereiro.
Djeneffer Cordoba