Chineses querem retomar produtos pela Transoceânica

Foto:Parte da estrutura
da ponte da Rota
Bioceânica/Toninho Ruiz
Foto:Parte da estrutura da ponte da Rota Bioceânica/Toninho Ruiz

Projeto começou em 2015, com investimento de R$ 30 bilhões

Paralelo à Rota Bioceânica, que liga Porto Murtinho a Carmelo Peralta, existe um projeto antigo da Ferrovia Transoceânica, que prevê sair do Rio de Janeiro até o Peru. O debate veio à tona após representantes chineses informarem, ao jornal O Estado, a possibilidade de buscar alternativas de importação pela Transoceânica, sem passar pelo Corredor Bioceânico. Isso porque o país vizinho não tem relações diplomáticas com o país asiático.

O projeto começou em 2015, com investimento de R$ 30 bilhões, conforme noticiado, na época, pela “Folhapress”. A Transoceânica começaria no Rio de Janeiro, passando pelos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Acre e seguiria para o Peru. A extensão é de aproximadamente 5 mil quilômetros.

O prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra, disse que está sabendo da situação e que pretende conversar sobre isso com o ex-presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, quando vier a Mato Grosso do Sul, no dia 21. 

“Eu não sabia dessa informação, desse desvio que a China pretende fazer, usando outras rotas, evitando passar pelo Paraguai. Tive essa informação quando fui em um evento em Campo Grande. Vou tentar conversar sobre essa questão, visto que tenho um bom relacionamento com o governo paraguaio”, disse. Na ocasião, o ex-presidente da República, Michel Temer (MDB) também virá ao Estado. 

Juntos, eles vão visitar um dos pontos importantes da Rota Bioceânica, a ponte que liga Porto Murtinho e Carmelo Peralta, no Paraguai. A visita foi articulada pelo ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo e ex-conselheiro da Itaipu Binacional, Carlos Marun e pelo então deputado estadual Zeca do PT.

Rota consolidada 

Em entrevista ao jornal O Estado, Marun pontua sobre o avanço da rota e que não há o que temer. Ainda de acordo com ele, a ponte já está com mais de 30% das obras executadas. “A rota que realmente está se consolidando é a nossa. É claro que é necessário que as coisas avancem, para que este trajeto realmente se transforme em uma rota e não em só mais uma estrada. Para tanto, várias questões terão que ser acertadas, principalmente a segurança e a fiscalização aduaneira. Se conseguirmos avançar nisso, a nossa rota será a mais vantajosa e não precisamos temer concorrências, mesmo que exista espaço para mais caminhos para o Pacífico”, destacou o ex-ministro.  

O economista Normann Kalmus explica a necessidade de olhar para o cenário internacional e para as possibilidades internas no país, como, por exemplo, o porto de Xangai. “Qual é a melhor rota? É a que sai de Rondônia e cruza Guajará-Mirim. Ali existe uma situação totalmente diferente, porque não estamos falando do Chile, estamos falando do Peru. O Peru vai ter o melhor porto do Pacífico na América, o Porto de Xangai, que é um investimento chinês. Saindo por Guajará-Mirim, não só há menos problemas geográficos, porque os Andes ali não são tão altos quanto aqui, ou seja, a diferaença não é tão grande e chega-se mais perto do Pacífico, além do que, ali tem um entroncamento de hidrovias, tem os rios Guaporé, Mamoré e o Madeira chegando no Amazonas, Solimões e Negro. Então, aquela região para a navegação é algo espetacular e tem a vantagem de sair pelo Atlântico ou cruzar e sair pelo Pacífico. Se existe um lugar em que é possível o corredor funcionar, é lá”, avalia. 

Rota Bioceânica

O corredor fará uma integração entre os países da América do Sul e trará grande transformação para Mato Grosso do Sul, que poderá usufruir de um “hub logístico”, ou seja, um centro de distribuição de mercadorias, com 2.396 quilômetros de extensão e que irá ligar os oceanos Atlântico e Pacífico, por meio do porto de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando por Paraguai e Argentina.

A rota será uma alternativa para chegar ao porto de Santos (SP), em menor distância, ao encurtar o tempo de exportações e importações brasileiras entre mercados potenciais na Ásia, Oceania e Costa Oeste dos Estados Unidos, além de reduzir, em pelo menos 17 dias, o transporte para a Ásia e Oceania. De acordo com definições do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o governo federal garantiu para Mato Grosso do Sul R$ 44,7 bilhões em obras e serviços e para infraestrutura, os investimentos somam R$ 15,4 bilhões.

Segundo o secretário da Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, Mato Grosso do Sul terá R$ 517,5 milhões para as obras fundamentais, dentre elas, daqui a dois anos, a Rota Bioceânica, em pleno funcionamento. “A ponte já chega a 30% de sua execução, mas nós tínhamos como pendência o acesso à ponte. Com o lançamento do PAC, já temos um projeto básico e, a partir de agora, o Dnit fica autorizado a executar e licitar a obra de acesso da ponte, que abrange praticamente 13 quilômetros, ligando a rodovia BR 267 até a cabeceira da ponte. Nós estimamos que essa seja uma obra de aproximadamente R$ 200 milhões”, explicou o secretário. 

Das obras relacionadas à Rota Bioceânica, também foi anunciada a construção do centro integrado de alfândega. “Não adianta nós terminarmos o acesso à ponte e não termos um centro integrado de alfândega junto com o Paraguai. Essa obra deve também consumir cerca de R$ 150 milhões, porque são mais de 18.500 metros construídos, uma área de 100 hectares, em que ali teremos todos os órgãos: a Iagro a Receita Federal, a Polícia Federal, o Porto Seco, para que efetivamente, a partir dali, eles façam o desembaraço aduaneiro e também todo o processo de migração das pessoas que vão entrar na rota”, concluiu Verruck. 

 

Por – Julisandy Ferreira.

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