China cogita comprar toda soja do Brasil, impulsionando produção em MS

Foto: João Carlos Castro/Sistema Famasul
Foto: João Carlos Castro/Sistema Famasul

[Texto: Suzi Jarde, Jornal O Estado de MS]

A expectativa é que sejam enviadas 6,5 mi de toneladas para o país

Uma das culturas agrícolas mais importantes do Brasil, a soja, tem como principal destino a China. E a notícia do país asiático comprar o grão exclusivamente do território brasileiro, abrindo mão da soja produzida pelos americanos, representa uma excelente janela de oportunidades para alavancar a produção nos estados, em especial em Mato Grosso do Sul. Segundo especialistas da Aprosoja/MS (Associação de Produtores de Soja de MS), o estado é um importante fornecedor de soja para o mercado internacional, especialmente para a China, que comprou 68% dos nossos grãos.

“O interesse chinês em comprar somente soja brasileira, gera uma expectativa de aumento da importação da soja sul-mato-grossense para o país asiático, e conforme a estimativa do SIGA-MS, projeto executado pela Aprosoja/MS, a expectativa de produção para a safra 24/25 é de 13,6 milhões de toneladas, com isso, se mantida a mesma proporção de importação do ano anterior, podemos dizer que pelo menos 6,5 milhões de toneladas da soja sul-mato-grossense será destinada à China, movimentando as relações comerciais entre Brasil e China”, enfatizou o economista da Aprosoja/MS.

Mato Grosso do Sul exportou mais de 2 milhões de grãos de soja e milho no primeiro trimestre de 2024. O volume representa um montante de U$$ 760,9 milhões. O presidente da Aprosoja/MS, Jorge Michelc explicou que “o aumento da exportação se deve principalmente, ao grande estoque da safra 22/23, justificado pela espera por melhores preços de comercialização. Além disso, outro fator que contribuiu para o incremento das movimentações externas foi a demanda asiática, principalmente da China.”

Adeus EUA!

A China deixaria de comprar soja americana, podendo se voltar quase inteiramente para a brasileira. Foi o que concluiu, em tom de aviso, um relatório da consultoria americana AgResource, publicado pelo site da Bolsa de Mercadorias de Chicago. “Em meados de maio, a China já teria normalmente garantido pelo menos 1 milhão de toneladas de soja dos Estados Unidos para entrega no ano comercial seguinte”, afirma o texto. “Neste ano, os EUA não venderam uma tonelada à China para entrega no ano comercial 2024/25.”

Com isso, “é possível que a China, em 2025 e além, consiga obter quase toda a sua soja do Brasil”. O “white paper” da AgResource recorre a dados do Departamento de Agricultura dos EUA para sustentar sua avaliação.

De imediato, para este ano, o quadro dependeria da safra brasileira, se consegue ou não confirmar um volume capaz de suprir a demanda chinesa a ponto de Pequim prescindir da soja dos EUA. Seja como for, “não parece que a China vá importar uma tonelada sequer dos EUA acima do que absolutamente precisar”, diz o estudo.

Projeção

Para o ex-presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), hoje coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, Guilherme Bastos, a projeção da AgResource não é factível, sublinhando que a China evitaria depender tanto do Brasil. “Eles fazerem o suprimento de apenas uma fonte é muito pouco provável, eles não são loucos”, diz o engenheiro agrônomo. “Quando começou a primeira guerra comercial do Trump com a China, de fato, houve desaceleração nas compras, tanto que abriu oportunidades para o Brasil. Mas parar completamente, não.”

O VBP (Valor Bruto da Produção) que mostra o desempenho das lavouras ao longo do ano, revela que a produção sul-mato-grossense foi de 59,2 bilhões de reais, no mês de maio. Conforme o Boletim do VBP, divulgado pela Aprosoja/ MS, neste mês, quando comparado com o mesmo período do ano anterior, o montante é 18% inferior.

A lavoura é a principal atividade, sendo responsável por 66% do total do VBP mensal. As culturas da soja e do milho representaram 73% dos R$ 39,3 bilhões gerados pela atividade agrícola no quinto mês de 2024. Em relação ao mesmo período do ano anterior, as duas culturas tiveram redução de 34%, gerando uma queda de 25% no VBP geral da atividade. No Brasil, maio fechou com VBP de R$ 1,1 trilhão, com representatividade de 68% da lavoura. As culturas de soja e milho representam 50% do valor bruto da produção da atividade de lavoura a nível nacional.

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