Carros populares e antigos viram ‘alvos’ de criminosos

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Segundo dados da Secretaria de Segurança, a Capital já registra neste ano mais de mil ocorrências de furto de veículos

Por Rafaela Alves e Kamila Alcântara [Jornal O Estado]

Os carros populares e antigos, como uno e o gol, são os novos ‘alvos’ dos criminosos. Eles estão furtando esses veículos em busca dos acessórios, retrovisor, roda, volante, alavanca de câmbio, entre outros itens. Inclusive, o delegado titular da Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos), Reginaldo Salomão, explicou que como não ocorre o furto dos veículos em si, muitos são recuperados.

“Muitas vezes o veículo é retirado do local, única e exclusivamente para isso, para retirada dos acessórios, tanto que a nossa média de é 140 veículos recuperados por mês. Para ter uma ideia da manhã do dia 20 até a madrugada de 21 de junho, nós tivemos 14 registros de furtos, conseguimos encontrar nove desses veículos”, disse em entrevista ao O Estado.

Salomão esclareceu ainda que, além da facilidade em abrir esses veículos, o momento econômico do país, depois da pandemia, também influi para este tipo de crime. “Os carros antigos apresentam maior quantidade de problemas mecânicos e esse extrato social mais vulnerável não tem recursos para adquiri essa peça no mercado formal e acaba comprando no mercado informal, normalmente, abastecido por criminosos e isso cria um círculo vicioso”, esclareceu.

O músico Elvis Corrêa, de 31 anos, era proprietário de um Fiat Uno Mille, ano 2000 e, nos quase dez anos que esteve com ele, o veículo foi furtado quatro vezes, duas delas os criminosos usaram para assaltos. Hoje, Elvis tem outro Uno, ainda mais antigo, ano 1993, segundo ele, esse ainda não foi furtado.

“Um misto de raiva e impotência de saber que até aquele momento não pode fazer nada. É muito desagradável e não desejo para ninguém! Meu maior medo era do carro ir para desmanche ou para assentamentos do interior, onde a fiscalização é bem menos, dificultando as chances de encontrar”, disse.

Para não ter mais o veículo roubado, Elvis o levou a uma mecânica, que instalou um botão conhecido como “corta corrente” ou “segredo”, normalmente colocado em um ponto do carro que só o proprietário sabe.

“Eu fui até uma auto elétrica e pedi para que se colocasse um “segredo” que, na verdade,e é um corta corrente na parte elétrica que faz com que o carro não ligue se estiver acionado. Desde então, nunca mais tive o carro levado. Já tentaram mesmo assim, empurrando por várias quadras, até desistir de funcionar e abandonar. Então, no meu caso, resolveu muito”.

Já Maximiliano Rodriguez, de 50 anos, é proprietário de um Ford Scort, teve o veículo violado dentro do quintal de casa e algumas peças levadas. Com isso, mudou hábitos para aumentar segurança. “Quem faz essas coisas deve usar ferramentas ou algo do tipo para agir tão rápido. Hoje aumentamos o muro da casa, tem cerca elétrica e, sempre que minha esposa ou filho estão saindo com o carro, um de nós fica cuidando”, relata Max.

Mesmo com seguro no veículo e utilizando um modelo mais novo, o motorista de aplicativo Makxander Garcia acredita que só a comunicação entre os profissionais é eficaz na proteção de quem utiliza o carro para trabalhar. “Nós temos os grupos de rastreio, onde todos se comunicam. Muitos casos de furtos e até assaltos já conseguimos ajudar na comunicação da polícia e recuperar. Para quem vive na rua, ganha a vida assim, acho que só assim para ficarmos mais seguros”, acredita.

Segundo dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), Campo Grande já registrou neste ano, até o último dia 22 de junho, 1.057 ocorrências de furto de veículos. Nesses mais de 20 dias de junho foram 116 ocorrências. Já em todo o ano de 2022, a Capital registrou 1.755 furtos de veículos.

“Nós tínhamos uma situação que muitos crimes eram tipificados como apropriação indébita [que consiste no apoderamento de coisa alheia móvel, sem o consentimento do proprietário]. Aprofundando algumas ações nós descobrimos algumas quadrilhas que na verdade, desde o primeiro momento, elas tem a intenção de ficar com o veículo. Então passamos a tipificar como furto qualificado”, assegurou.

Sobre elucidações, o delegado afirmou que não existe nenhum caso na Defurv de violência contra pessoa em que o objeto era o veículo que não foi elucidado.

“De novembro para cá, nos fizemos inúmeras operações, inúmeros mandados de prisão foram cumpridos. Então a Defurv abriu um leque no seguinte sentido: prioridade máxima para crimes com violência e grave ameaças e nesse caso a gente inclui os crimes de roubos e os roubos com violência a pessoa, como lesão grave ou morte, 100% elucidados”, declarou.

Em relação ao crime de roubo de veículo, conforme dados da secretaria estadual, a Capital registrou de 1º de janeiro a 22 de junho, 122 ocorrências. Neste mês foram10 boletins de ocorrências de roubo de veículos registrados na Polícia Civil. Em todo o ano passado foram 267 ocorrências em Campo Grande.

Pátio

O pátio da Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos) está cheio, com muitas motos e carros que foram recuperados e aguardam um destino. Segundo o delegado Reginaldo Salomão, os carros que não estão regular, após um prazo, são encaminhados para o Detran-MS (Departamento de Trânsito).

“Nós temos um rotatividade grande no pátio, porque se o veículo está regular, imediatamente, ele é devolvido, os que estão irregular é aberto um prazo para que o proprietário regularize a situação e retire aqui na delegacia. Caso passe esse prazo ele é encaminhado para o Detran”, explicou.

Estado

Ainda conforme os dados da Sejusp, em todo o estado neste ano, de 1º de janeiro a 22 de junho, foram registradas 1.555 ocorrências de furto de veículos. Durante todo o ano passado foram 2.803 ocorrências. Do crime de roubo de veículos, Mato Grosso do Sul registrou até a última quarta-feira, 232 ocorrências. Em 2021 foram 491 roubos de veículos.

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