Campo Grande precisa da nova vacina contra a dengue no SUS até dezembro, afirma especialista

Fotos: Marcos Maluf
Fotos: Marcos Maluf

Para Júlio Croda, governo federal deve se preparar para a próxima onda, prevista para dezembro

A demora do Ministério da Saúde em disponibilizar a nova vacina contra a dengue no SUS (Sistema Único de Saúde), apenas no final de 2024, pode contribuir para um aumento significativo nos casos ainda esse ano, segundo o médico infectologista Júlio Croda. “É importante que Mato Grosso do Sul esteja preparado para a próxima sazonalidade do vírus  da dengue, que geralmente começa em dezembro, então precisamos de opções para controlar a doença, sendo a vacina uma ótima opção”, disse.

O possível aumento nos casos nos últimos meses do ano pode ser comprovado nos boletins epidemiológicos divulgados pela SES/MS (Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul). Conforme os documentos, em novembro de 2022, Mato Grosso do Sul registrou 2.636 novos casos de dengue e em dezembro, o número foi de 2.622, o que soma 5.258 casos, em dois meses.

Os números representam um aumento significativo, se comparados ao mês de outubro, quando foram 1.273 registros. Sobre a demora na aquisição dos imunizantes por parte do governo federal, Croda afirmou que a dengue não tem o número de óbitos elevado e ainda ressaltou que o município não se encontra em estado de emergência de saúde pública, como foi na época da pandemia de covid. “É claro que o processo de compra das vacinas da covid foi decorrente da situação de emergência em que o Brasil se encontrava, mas, com certeza, o valor elevado dificulta a compra”, salientou.

Em contrapartida, o infectologista, que foi porta-voz da covid durante o período pandêmico, explicou que o governo federal deve realizar uma negociação com as fabricantes para adquirir o imunizante com um valor menor. “Independentemente do valor, a Qdenga é uma vacina que pode e deve ser adquirida pelo governo federal com uma recomendação bastante elevada sobre sua real efetividade”, informou Croda.

Além disso, o médico infectologista Rivaldo Venâncio esclareceu que a eficácia da vacina ainda será avaliada pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), e também pelo Ministério da Saúde, que vai avaliar o custo-benefício. Na opinião do médico, o rito de avaliação causa ainda mais morosidade ao processo de compra, que já é difícil, levando em consideração os valores das doses. “Na redeprivada, cada dose da Qdenga está entre R$ 400 e R$ 600, o que torna praticamente impossível ser incorporada no SUS, mas, como o Sistema Único de Saúde é um grande comprador, ele vai impor negociações. Nesse momento, o valor é muito alto para ser comprado em larga escala, para distribuir milhões de doses”, explicou

O infectologista comparou ainda aos preços das vacinas contra covid, que segundo ele, a mais cara, que é a da Pfizer, custa em média 10 dólares. “A vacina da AstraZeneca cadadose está em torno de quatro dólares. Como que eu vou colocar em larga escala para um país que tem milhões de pessoas uma vacina que custa em média R$ 400 cada dose, 80 dólares cada dose e o esquema vacinal é composto por duas delas”, complementou. 

Ainda em comparação com a covid, Rivaldo enalteceu que a vacina ajudará principalmente na redução de casos graves e de hospitalização. “Ela tem duas grandes utilidades: a primeira é impedir que a pessoa tenha infecção por dengue e, nesse aspecto, ela é boa, mas a vacina é melhor ainda quando impede que a pessoa, mesmo infectada, não desenvolva formas graves da dengue e essa é a grande contribuição dela. Guardada as devidas proporções como nós estamos vendo, com a vacina da covid, pessoas vacinadas têm tido a doença, só que, na ampla maioria, na quase totalidade, é mínima a parte que tem desenvolvido formas graves, salvo raras exceções”, enalteceu.

 

Produção nacional

Conforme informações já noticiadas em edições anteriores, a expectativa é que o imunizante esteja disponível no SUS em até um ano e meio, ou seja, até o final de 2024. 

De acordo com a presidente da Cosems/MS (Conselho das Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso do Sul), Josiane de Oliveira, existe a intenção de trazer a tecnologia para que a Fiocruz produza a vacina no Brasil. “O Ministério da Saúde está em tratativas para a aquisição e, conforme o que nos informaram, a disponibilidade pelo SUS ocorreria em aproximadamente um ano e meio, devido aos trâmites de importação de um lote inicial, mas há a intenção de trazer essa tecnologia para Bio-manguinhos e a Fiocruz, o que trataria um enorme ganho para a saúde”, garantiu.

O Ministério da Saúde informou, em nota, que está acompanhando atentamente o avanço do setor de pesquisas e novas tecnologias que desenvolvem estudos relacionados ao imunizante contra a dengue. “Diante da aprovação do registro sanitário do imunizante pela Anvisa e da aprovação do teto de preço feito pela CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), o produto deve ser avaliado pela Conitec”, reiterou.

Em nota, a Sesau (Secretaria Municipal da Saúde) informou que segue “aguardando o estudo do Ministério da Saúde”, sobre futuros repasses do imunobiológico para a rede municipal de saúde.

O imunizante já está disponível, desde a semana passada, em algumas clínicas particulares da Capital. Nesse primeiro momento, a vacina está liberada nas clínicas Vaccine Care, Imunitá e nas unidades do Laboratório Sabin.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo jornal O Estado, os valores variam de R$ 535 a R$ 650, podendo ser pagos à vista, no cartão de débito ou crédito parcelado.

 

O imunizante

A vacina Qdenga foi produzida a partir do tipo 2, vírus mais grave da doença, e protege contra os quatro tipos de vírus – DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4. O novo imunizante tem  ndicação para pessoas de 4 a 60 anos de idade, previne cerca de 80% dos casos gerais de dengue, cerca de 15% a mais do que vacinas anteriores, e reduz, em mais de 90%, a hospitalização. O esquema vacinal necessita de duas doses, com intervalo de dois meses entre elas.

A sua produção foi realizada ao longo de quatro anos e meio, em mais de 20 mil crianças e adultos, em 13 países da Ásia e América Latina. Vale lembrar, também, que já existe uma vacina contra a dengue no Brasil, a Dengvaxia.

Contudo, esse imunizante é indicado somente para quem já teve a doença, protegendo apenas contra uma segunda infecção, que pode ser mais grave e até letal.

 

[Rafaela Alves e Tamires Santana – O ESTADO DE MS]
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