Campo Grande é pioneira no método Wolbachia, que ganhará biofábrica até 2024

Wolbachia
Foto: Nilson Figueiredo

A expectativa é que a biofábrica produza até 100 milhões de mosquitos por semana

Pioneiro no método que reduz a incidência de dengue, chikungunya e zika, Campo Grande já liberou 70 milhões de mosquitos com Wolbachia, de 2023 até o dia 17 de março de 2023. A biofábrica na Capital foi implantada pelo WMP (World Mosquito Program), em parceria com a Fiocruz. Agora, o objetivo é expandir o projeto para todo o Brasil, que até 2024 terá nova biofábrica com capacidade para produzir 100 milhões de mosquitos, por semana. O local da implantação da biofábrica ainda não foi definido.

Ao jornal O Estado, o infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, enfatizou que Campo Grande foi a primeira Capital a propor a implantação de 100% de cobertura do mosquito Wolbachia, na cidade. “Essa implantação ainda está acontecendo, faltam algumas áreas para serem liberado esses mosquitos. Após toda a implantação, de toda a liberação e em todas as áreas da cidade de Campo Grande, teremos a avaliação de impacto deste método”, afirmou.

Sobre o novo projeto da Fiocruz, em conjunto com o WMP, Croda destacou que é uma estratégia em um momento muito oportuno, já que não só o Mato Grosso do Sul como outras regiões brasileiras vivem uma sindemia.

“É muito importante, para este momento de sindemia, em que há o aumento de doenças respiratórias e de dengue, principalmente nas crianças, o que superlota as emergências, as unidades de saúde e os leitos de terapia intensiva. A utilização dessa estratégia, de Wolbachia, pode reduzir principalmente a circulação do vírus da dengue e reduzir o número de casos. Também é importante que a gente adote medidas preventivas e a eliminação do mosquito”, reforçou o infectologista e pesquisador da Fiocruz.

Atualmente, constam 16.723 casos prováveis de dengue, 7.988 confirmados da doença e 7 mortes confirmadas em Mato Grosso do Sul. Campo Grande ocupa a 57º posição no ranking, com 1.579 casos prováveis, apresentando média incidência.

A Capital, Alcinopolis e Bodoquena comunicaram situação de epidemia de dengue. Os dados constam no último boletim da SES (Secretaria Estadual de Saúde) da semana epidemiológica, encerrada em 24 de março.

Mosquitos modificados

A tecnologia consiste em introduzir, nos mosquitos, uma bactéria – chamada Wolbachia – que os impede de transmitir a dengue e outras doenças disseminadas pelo Aedes aegypti. A Wolbachia é encontrada naturalmente em cerca de 50% de todas as diferentes espécies de insetos. O segredo do sucesso da Wolbachia consiste em como ela manipula a reprodução dos insetos em que está presente. Ao longo de algumas gerações, o número de mosquitos com Wolbachia aumenta rapidamente, até que a maioria dos insetos de uma população tenha a bactéria. Uma vez que os mosquitos já têm a Wolbachia, eles naturalmente a transmitem para seus descendentes.

A Fiocruz e o World Mosquito Program anunciaram, no dia 30 de março de 2023, expansão do método de mosquitos com Wolbachia, no Brasil. Os mosquitos com vírus modificado, ao serem soltos no meio ambiente, reduzem a incidência de dengue, chikungunya e zika. O investimento para a construção e operação da biofábrica será de R$ 100 milhões, com recursos do WMP e do Instituto de IBMP (Biologia Molecular do Paraná). De acordo com o programa, o método já teve eficácia comprovada na redução da incidência de arboviroses.

“A parceria entre WMP e Fiocruz nos permitirá construir uma grande biofábrica, que possa produzir até 100 milhões de mosquitos com Wolbachia por semana, para que a gente possa ampliar nossa atuação no Brasil e proteger muito mais pessoas nos próximos anos”, apontou o pesquisador da Fiocruz e líder do WMP Brasil, Luciano Moreira.

Expansão

O professor O’Neill acrescentou ainda que a liderança do Brasil, em escalonar o método Wolbachia, pode fornecer um modelo para os outros 129 países afetados pela dengue, no mundo, ajudando a expandir o acesso à tecnologia a aproximadamente quatro bilhões de pessoas em todo o mundo, que vivem em risco de dengue e outros vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti.

Também estiveram presentes no evento representantes do Conselho Nacional de Saúde, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e da embaixada da Austrália (sede do WMP).

O WMP já está presente em 12 países da Ásia, Oceania e nas Américas. No Brasil, o método Wolbachia tem apoio do Ministério da Saúde e é conduzido pela Fiocruz, em Campo Grande (MS), no Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE).

Já o método Wolbachia foi descoberto por cientistas da Monash University, em Melbourne, na Austrália, e pelo coordenador do programa no Brasil, Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz. Quase 11 milhões de pessoas foram alcançadas, até o momento.

As primeiras liberações de “Wolbitos” no Brasil, começaram em setembro de 2014, no Rio de Janeiro. Três anos depois, durante a emergência do vírus zika, houve uma expansão em larga escala, no Rio de Janeiro e em Niterói.

O método Wolbachia já protege mais de 3 milhões de pessoas. No ano passado, o WMP Brasil comemorou um marco importante: o engajamento de mais de um milhão de pessoas em todo o país. Pessoas que atuam no combate às arboviroses em território nacional. Os mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia não são modificados geneticamente.

Por Suelen Morales – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul

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