Governo iniciou busca ativa por novos beneficiários, mas mulheres relatam falta de resposta e cadastro sem previsão
Apesar do anúncio da força-tarefa do Governo do Estado para ampliar os serviços sociais e erradicar a extrema pobreza, famílias que aguardam há mais de dois anos pela liberação do cartão Mais Social relatam que continuam sem retorno. A mobilização começou ontem (17), com mais de 150 servidores percorrendo as 79 cidades de Mato Grosso do Sul para identificar famílias em situação de extrema pobreza que ainda não estão assistidas pelo programa. No entanto, para quem já está há anos na fila, a busca ativa não trouxe solução.

Foto: Divulgação
Entre os casos que continuam sem resposta está o de Yanka Santa Cruz de Melo, 28 anos, moradora do bairro Serra Azul, em Campo Grande. Yanka foi uma das chefes de família que denunciaram a demora na entrega dos cartões à reportagem do jornal O Estado, publicada em 28 de fevereiro. Na época, sua renda vinha de pequenos trabalhos como babá, com os quais recebia cerca de R$ 500 mensais.
Procurada novamente pela reportagem, Yanka contou que sua situação financeira pouco mudou. Atualmente, ela sustenta a casa e seus três filhos com o benefício do Bolsa Família, programa federal de inclusão social. O cartão do Mais Social, no entanto, ainda não chegou.
Para ela, o anúncio da busca ativa soa como mais uma promessa sem efeito. “No caso, é um engana-bobo que eles fazem com a gente. Tem milhares de pessoas esperando o cartão e eles só enganando. Falam que depois de 90 dias as famílias aprovadas vão receber, mas é pura mentira. Dia 24 de abril faz dois anos que estou que nem besta esperando esse cartão”, desabafa.
Outro caso semelhante é o de Viviane Tavares de Oliveira, de 35 anos, mãe solo de três filhos e moradora do distrito de Anhanduí. Viviane percorreu mais de 60 quilômetros até a sede do programa, em Campo Grande, na tentativa de obter informações sobre sua situação. Ela relata que recebeu visita técnica para cadastro em fevereiro de 2022, mas, até hoje, o cartão nunca foi entregue.
Na sede do programa, foi informada de que, com a mudança do sistema para um formato digitalizado, as famílias que receberam visita há mais de dois anos precisam refazer o cadastro. Viviane entregou novamente documentos e laudos médicos – ela enfrenta um quadro de depressão e aguarda afastamento pelo INSS – mas foi orientada de que não há previsão para liberação.
Rede de apoio e troca de informações
A angústia de quem está há anos na espera também motivou a criação de um grupo de WhatsApp intitulado “À espera do cartão Mais Social”, criado em agosto de 2023. O grupo reúne nove mulheres, além de Yanka e Viviane, todas chefes de família que vivem situação semelhante: aguardando há meses ou anos pelo benefício, sem informações oficiais claras.
No grupo, elas compartilham informações sobre possíveis atualizações no sistema, visitas técnicas, movimentações no programa e orientações obtidas por meio de atendimentos presenciais ou online. Cada nova mensagem ou orientação serve como tentativa de dar esperança a quem sente estar sem respostas pelo Governo Estadual.
Governo mobiliza servidores para ampliar cobertura
Do outro lado, o Governo do Estado defende que a nova força-tarefa irá acelerar a inclusão das famílias ainda não contempladas. O programa Mais Social oferece um crédito mensal de R$ 450 para a compra de alimentos e itens essenciais, destinado a famílias que vivem com menos de R$209 mensais per capita. O objetivo, segundo o Executivo, é transformar Mato Grosso do Sul no primeiro Estado brasileiro a erradicar a extrema pobreza.
Conforme explicou a secretária da Sead (Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos), Patrícia Cozzolino, um mapeamento foi realizado em parceria com a Segem/Segov (Secretaria-Executiva de Gestão Estratégica e Municipalismo) para localizar famílias em situação de vulnerabilidade que ainda não estão assistidas pelo programa.
“Quando assumimos a secretaria, encontramos 40 mil pessoas em extrema pobreza. Fomos incluindo essas pessoas nos programas sociais, mas ainda existem 17 mil nessa condição. Elas eram chamadas de ‘invisíveis’, mas agora já as localizamos. Vamos até as casas para dar essa oportunidade de mobilidade social”, declarou Cozzolino.
Porém, áudios enviados por um coordenador do programa, aos quais O Estado teve acesso, indicam que quem recebeu visita há mais de dois anos precisará refazer o cadastro na sede do Mais Social, sem previsão de quando será atendido. “Quem recebeu visita há mais de 2 anos precisa refazer o cadastro. Tem que ir lá na sede do Mais Social e fazer de novo, só que continua do mesmo jeito, sem previsão”.
Em reunião com os servidores que atuarão na força-tarefa, o governador Eduardo Riedel destacou a importância da ação para reduzir a vulnerabilidade social no Estado.
“Vocês vão ajudar a eliminar a extrema pobreza, retirando dessa situação as famílias que recebem menos de R$209 per capita. Estamos tendo uma conduta técnica. Vocês estão carregando uma das principais bandeiras do Governo, que é crescer sem deixar ninguém para trás”.
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