O baleado no rosto que ficou em estado gravíssimo após fugir de dupla de assassinos na região das Moreninhas, em Campo Grande, no último dia 18 de janeiro, recebeu alta da Santa Casa 16 dias após os fatos. Paciente de 24 anos passou por procedimentos cirúrgicos de alta complexidade que, além de reverter as fraturas na mandíbula, envolveram uma operação em sua coluna espinhal – lugar onde, da boca à cabeça, o fragmento de bala havia se alojado.
A alta se deu na segunda-feira (1°) desta semana. De acordo com o boletim do hospital, o jovem teve atendimento inicial pela equipe do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que o encaminhou a unidade de pronto-socorro. Após estabilização da vítima na UTI (unidade de terapia intensiva), uma equipe do serviço de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial avaliou o caso onde, nas primeiras horas, optaram a uma operação de emergência.
Wolnei Zeviani, médico neurocirurgião assistente, explica que o projétil de arma de fogo entrou pela boca e ficou alojado na coluna vertebral cervical. O especialista relembra que, à época, não havia conduta operatória e que no momento da chegada da vítima não havia como estimar sequelas ou, até mesmo, se sobreviveria. “O pedaço de bala poderia causar desde lesão térmica à espinha até uma importante artéria que irriga o cérebro”, justificou.
“Realizamos a cirurgia para retirada de fragmentos do projétil, contivemos o sangramento, reparamos os ferimentos da língua e mucosa, e também removemos fragmentos ósseos e dentários de forma rápida e segura”, descreve o cirurgião-dentista Lucas Meurer, que também esteve à frente do caso.
“Segunda vida”
O boletim da Santa Casa ressalta que aos poucos foram retirados os sedativos do paciente até o seu despertar. Porém, os especialistas viram que não seria possível a retirada da entubação, pois foi analisado um inchaço em parte da garganta – o que viria a dificultar sua respiração caso retirada do tubo. “Optou-se por uma traqueostomia para facilitar a chegada de ar até os pulmões”, diz a nota.
Após dias de acompanhamento, o quadro do jovem baleado melhorou “exponencialmente”. “Este paciente ganhou uma segunda vida, já que a trajetória do projétil poderia causar lesões de vasos sanguíneos, de esôfago, traqueia e até medular. Mesmo alojado em sua coluna, não causou problemas de mobilidade”, destacou Wolnei, que frisou o “milagre”.
Mesmo com a alta, ainda serão necessários exames seriados para descartar que o projétil não se deslocará com o passar do tempo.
O caso
No dia 18 de janeiro, um rapaz de 24 anos levou um tiro próximo da boca após ser perseguido por um veículo na avenida José Vilela Andrade Junior, no bairro Paraíso do Lageado, região sul de Campo Grande. O rapaz baleado possui passagem na polícia por furto.
O jovem desceu a rua correndo e gritando, desesperado, até chegar em frente a uma casa de reciclagem, onde um homem desceu do carro e disparou vários tiros – um deles contra o rosto da vítima. O outro integrante da dupla de assassinos ficou dentro do carro, atrás do volante.