Alta dos alimentos faz restaurantes reajustarem preços de marmitas

Marmitas, altas
Foto: Nilson Figueiredo
Inflação é o principal responsável pelo aumento dos produtos

Restaurantes e marmitarias de Campo Grande estão sendo obrigados a reajustar os valores que cobram por marmitas e pratos feitos, diante da disparada nos preços dos alimentos. O principal responsável por esse efeito é a inflação, que acumulou alta de 12,85% em 12 meses, na Capital.

O restaurante A Mineira, no bairro Tiradentes, comunicou aos clientes que a partir do dia 1° de junho vai aumentar o preço. Conforme explica a proprietária Marilene Souza, o reajuste será de apenas R$ 1 em cada tamanho de marmita para que os clientes não sintam tanta diferença. As embalagens com as comidas sairão de R$ 10, R$ 14 e R$ 17, para R$ 11, R$ 15 e R$ 18, respectivamente.

Além disso, a taxa de entrega também sera alterada, saindo dos atuais R$ 3 para R$ 4.

“Está tudo muito caro, se eu aumentar gradativamente, o cliente quase não vai sentir e se a qualidade for boa, o cliente não vai te deixar. Vou aumentar somente um real para as pessoas não sentirem”, disse.

A empresária conta que, para tentar driblar os aumentos constantes, vale até acordar de madrugada para ir à Ceasa, em busca de legumes e verduras.

Para a dona da marmitaria Vitão Assados, no bairro Estrela D’Alva, Elisângela Teodoro Serafim, a situação não tem sido diferente. Ela conta que os custos subiram 30%.

“Na média, meu custo subiu 30%. Carne, óleo, arroz e feijão e legumes que são praticamente a base da marmita. Batata subiu absurdamente. Trabalhávamos somente com um tamanho de marmitex que custava R$ 15 e colocamos outros tamanhos. A marmita pequena passou a custar R$ 15, a média R$ 18 e a grande R$ 20”, explicou.

Ela completa dizendo que reduziu a margem de lucro e dispensou alguns funcionários.

O dono da Marmitelli (bairro Tiradentes), Eduardo Saul Cleto Maldonado, também justifica o reajuste em razão da alta dos alimentos.

“Subiram o arroz, o feijão, a carne – não só bovina, mas suína, de frango –, tudo subiu. A pandemia deu o start para a disparada dos preços. Teve mês em que eu paguei R$ 100 em um saco de cenoura, hoje baixou para R$ 80, mas todos os itens básicos continuam muito caros.”

Ele conta que está buscando adaptar o cardápio para atender todas as rendas. “Hoje temos nosso cardápio tradicional com marmitex de 16, 20 e 22 reais, mas criamos um promocional, econômico, que hoje é bobó de galinha, arroz e batata palha, com marmitex de 13, 15 e 18 reais, para não perder clientes. Estou adaptando o cardápio para poder ajudar a todos”, desabafou.

Foto: Divulgação

Outro empresário do ramo, Márcio Vinícius da Silva Cerqueira, dono do restaurante Comitiva do Chopp, também no bairro Tiradentes, lembra que já chegou a pagar no óleo R$ 3, e agora paga R$ 10.

“Comprei óleo por R$ 3,17 antes da pandemia. Hoje custa R$ 10. Eu tinha três funcionários, hoje só tenho um. Tem que reduzir custos ou fecha. Com isso, a margem de lucro também fica muito pequena”, contou.

Ainda de acordo com ele, o movimento também deu uma esfriada.

“Caiu pelo menos 40% o movimento. A luta é pra sobreviver. Pesquisar preço. Encontrou uma promoção? Vai lá buscar onde for, de moto, para proteger a sua margem de lucro, senão você paga para trabalhar”, conclui.

Aumento

Levantamento realizado no mês de maio pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas, apontou que o preço de prato feito, marmita e marmitex teve alta média de 23,53% no ano passado, no país, mais do que o dobro da inflação registrada no período, que foi de 10,37%. O estudo apurou preços do arroz, feijão, bife e batata frita, salada de alface e tomate, temperos e gás de cozinha.

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) de maio chegou a 0,59%, conforme divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Essa é a maior variação para o mês desde 2016, quando o índice chegou a 0,86%.

Segundo o economista e consultor financeiro da Agricon Consultoria, no setor de alimentos, Lucas Felipe Anastácio Sobrinho, há uma quebra na cadeia de distribuição de diversos insumos para a agricultura, em especial de fertilizantes – em que a Rússia é um dos principais fornecedores mundiais –, o que eleva os preços de toda a cadeia produtiva, até o preço final dos consumidores.

O economista explica que o governo federal tem buscado alternativas para suprimir esses aumentos sucessivos nos preços dos alimentos, diminuindo alíquotas de importação de diversos produtos.

“Muitos donos de restaurantes estão sendo obrigados a repassar os aumentos dos preços dos alimentos para o cliente, que já está fragilizado pela perda do poder de compra que a população brasileira sofreu desde o início da pandemia. Ou estão sendo obrigados a reduzir a margem de lucro, para não perder clientes. Uma verdadeira sinuca de bico”, comparou.

Neste cenário, o profissional ressalta também a importância de que empresários tenham um controle financeiro rigoroso, para avaliar as melhores decisões para a saúde financeira da empresa. E ainda que, fiquem atentos às possibilidades de adequações no cardápio, trocando os produtos que tiveram alta muito acentuada, por produtos da estação, que tende a ter um valor de aquisição menor.

 

Texto: Silvio Ferreira (Colaborou Izabela Cavalcanti)  – Jornal O Estado MS

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