Falta de capacitação pode estar impactado na baixa prescrição de remédio contra a COVID-19

Foto: reprodução Reuters
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Em MS, dos 18 mil comprimidos recebidos, apenas 2,7 mil foram utilizados nos tratamentos

Por Brenda Leitte e Michelly

O médico infectologista Júlio Croda informou ao Jornal O Estado, que mortes de pessoas, principalmente de idosos por COVID-19 poderiam ser evitadas caso a medicação aprovada pela Anvisa, Paxlovid (Nirmatrelvir/Ritonavir) fosse distribuída pela regulação. Segundo dados do boletim da SES (Secretaria de Estado de saúde), somente nos últimos sete dias, Mato Grosso do Sul contabilizou 16 óbitos em decorrência de complicações causadas pela doença, a maioria era pessoas entre 65 e 96 anos de idade.

Em novembro de 2022, o Ministério da Saúde doou para a Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul 18 mil comprimidos, suficientes para realizar até 600 tratamentos de Nirmatrelvir/ Ritonavir, que é o primeiro medicamento indicado para o tratamento de COVID-19. Atualmente, já foram utilizados 2.070 comprimidos, em 69 pacientes de diferentes cidades do Estado, o que corresponde a 11.50% de todo o estoque.

Segundo informações repassadas pela Secretaria de Estado de Saúde, dos 69 pacientes que já receberam o medicamento para o tratamento do novo coronavírus, estão moradores dos seguintes municípios: Campo Grande, Itaporã, Amambai, Eldorado, Três Lagoas, Porto Murtinho e Dourados. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou o uso emergencial do fármaco, em 30 de março de 2022 para pacientes que possam desenvolver as formas mais graves da doença.

Vale destacar, que o medicamento é recomendado para pacientes imunossuprimidos com 18 anos ou mais e idosos com 65 anos ou mais, desde que estejam com o diagnóstico confirmado para a doença por meio de teste rápido de antígeno ou por teste de biologia molecular. O uso do fármaco se dá mediante 300 mg de Nirmatrelvir (dois comprimidos de 150 mg) com 100 mg de Ritonavir (um comprimido de 100 mg), administrados simultaneamente por via oral, duas vezes ao dia (12 h/12 h), durante 5 dias.

Questionada pelo Jornal O Estado, a secretaria de Estado de Saúde destacou que o acesso ao tratamento se dá exclusivamente por meio de prescrição médica onde o paciente, independentemente do seu status vacinal, deve se enquadrar no grupo especificado e estar entre o 1º e 5º dia dos sintomas do novo coronavírus.

Para Júlio Croda, infectologista e pesquisador da Fiocruz Mato Grosso do Sul, é inadmissível que um número tão baixo de pacientes tenha tido acesso ao tratamento após quase dois meses da chegada dos fármacos ao Estado, ainda mais, levando em conta os números semanais de mortes e de novas infecções provocadas pela doença.

“É uma questão de acesso as pessoas, principalmente os idosos que precisam não estão tendo acesso, se não está sendo prescrito a SES é por que eventualmente a SES não deu treinamento para os médicos. Então é uma questão de treinamento e acesso, o medicamento está disponível fácil para os médicos prescreverem. Então de qualquer forma a responsabilidade é da SES e das secretarias municipais de saúde. É inadmissível que a gente tenha um tratamento e tenha toda semana 15 e 16 idosos morrendo sem ter tido acesso”, lamentou Júlio Croda.

Na Capital, os números de pacientes que fazem, ou fizeram uso do medicamento, também são reprimidos. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, até o momento foram dispensados tratamentos para 59 pacientes em Campo Grande, quase metade do que foi recebido pelo município.

“É importante ressaltar que poucos tratamentos foram repassados à Capital, não sendo possível atender a toda população que apresenta quadros leves ou moderados de covid. Outro fator que vale destacar, é que para a realização do tratamento, é necessário a prescrição médica, e o profissional tem autonomia para prescrever o tratamento que acreditar ser mais adequado para o paciente”, informou.

Em contrapartida, no município de Dourados, a 228 km de Campo Grande, desde o dia 19 de dezembro de 2022, apenas uma pessoa precisou do medicamento. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde da cidade, se trata de um paciente idoso com quadro leve de Covid.

Primeiro caso da variante XBB.1.5 no País

A Prefeitura de Campo Grande recebeu o primeiro alerta epidemiológico do ano do CIEVS (Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde) Nacional, do Ministério da Saúde. O documento confirma o primeiro caso da variante XBB.1.5 no Brasil.
O material para sequenciamento deste caso foi coletado em 9 de novembro do ano passado, contudo, o resultado submetido ao GISAID (Global Initiative on Sharing Avian Influenza Data) foi confirmado somente na última quarta-feira (4).

Até o momento, não houve informações a respeito da situação vacinal da paciente. Só se sabe que se tratava de uma mulher de 54 anos, moradora do município de Indaiatuba, no interior de São Paulo. Ainda não há nenhum caso registrado da variante XBB.1.5 em Campo Grande.

A XBB.1.5 é uma sublinhagem da linhagem SARS-CoV-2 XBB, que foi detectada pela primeira vez nos EUA (Estado Unidos), com datas de coleta de amostras em 22 de outubro de 2022 e, desde então, a linhagem vem aumentando.

Há ainda a possibilidade de que a sublinhagem possa ter um efeito crescente no número de casos da doença no Brasil. Diante disso, o Ministério da Saúde recomendou o uso de máscaras por sintomáticos respiratórios, indivíduos com fatores de risco, pessoas que tiveram contato com casos confirmados de COVID-19, pessoas em situações de maior risco de contaminação como em locais fechados, com aglomeração e serviços de saúde; completude do esquema vacinal; reforço das medidas não farmacológicas de prevenção e controle; realização de testagem e intensificação da vigilância genômica, com envio de amostragem dos exames com RT-PCR detectáveis para sequenciamento genômico.

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