Após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos que foi detida pela polícia da moralidade por não estar usando o hijab, protestos tem se intensificado por todo o Irã. Como resultado, o regime do país intensificou ainda mais a repressão contra os manifestantes, inviabilizando a comunicação e acesso a informação restringindo a internet.
Desde a noite desta quarta-feira (21), a conexão de diversas redes sociais, como WhatsApp e Instagram, foram limitadas. De acordo com a agência Fars, próxima ao regime, o objetivo seria controlar aquilo que o Estado vem chamando de “ações contrarrevolucionárias que põem em risco a segurança nacional”.
Pela primeira vez desde a morte de Amini, o presidente Ebrahim Raisi comentou sobre o caso, alegando que uma investigação está em curso e condenando os protestos. “Existe liberdade de expressão no Irã, mas atos de caos são inaceitáveis”, afirmou em entrevista coletiva. “Devemos diferenciar manifestações de vandalismo.”
O político também criticou a cobertura que a mídia está fazendo sobre o caso, acusando a existência de um padrão. “Todos os dias, em diferentes países, incluindo os EUA, vemos homens e mulheres morrendo em confrontos policiais, mas não há a mesma comoção”, disse.
Além da restrição voltada para a internet, ainda ocorre o assédio judicial. A Guarda Revolucionária, força de segurança de elite do país, pediu à Justiça nesta quinta-feira (22) que aqueles que estão disseminando notícias falsas e boatos sobre o caso sejam processados.
Desde a morte de Mahsa, as ruas do Irã foram tomadas por protestos em pelo menos 50 cidades e vilas, espalhadas pelas 31 províncias do país. Manifestantes chegaram a incendiar delegacias de policias e carros, na capital de Teerã e em outras localidades. As mulheres tem exercido o papel principal durante os atos, agitando e queimando os hijabs, além de estarem cortando publicamente os próprios cabelos, um desafio direto aos líderes religiosos.
Os protestos estão sendo fortemente repreendidos pelas forças de segurança, que utilizam gás lacrimogênio e efetuam prisões. Até o momento, cerca de 31 mortes foram contabilizadas, de acordo com a ONG Direitos Humanos do Irã, com sede em Oslo. Números oficias falam de 17 óbitos, 5 deles sendo de agentes de forças de segurança. Os feridos alcançaram a marca de 733.
Somente em Curdistão, província onde Amini nasceu e os atos têm se concentrado, cerca de oito manifestantes teriam morrido, incluindo dois adolescentes de 15 e 16 anos, motivado pela repressão, segundo a organização local Hengaw.
Pai de Mahsa Amini
Nesta quinta-feira (22), o pai de Mahsa acusou as autoridades de mentirem sobre o contexto da morte da filha. Em entrevista, Amjad afirmou que não foi permitido o seu acesso ao relatório de autópsia da jovem e negou, mais uma vez, que ela teria algum tipo de doença cardíaca ou que estava doente no momento da prisão.
Ainda de acordo com o relato do homem, o irmão de Amini estava com ela no momento da detenção e soube por meio de testemunhas que ela teria sido espancada na van e na delegacia onde foi levada.
“Meu filho implorou para que não a levassem, mas ele também foi espancado, suas roupas foram arrancadas. Pedi a eles que me mostrassem as câmeras corporais dos seguranças, eles me disseram que elas estavam sem bateria”, disse o pai.
Já as autoridades negam a versão e afirmam que Mahsa não foi maltratada, mas que sofreu uma “insuficiência cardíaca súbita” enquanto estava sob custódia da polícia da moralidade. Na semana passada, os oficiais chamaram a morte dela de “incidente infeliz”.
Amjad ainda revelou que foi impedido pela equipe médica de ver o corpo da jovem após o óbito. “Eles não me deixaram entrar”, relatou.
Sobre o caso
Mahsa Amini faleceu dia 16 de setembro, depois de ser detida pela policia da moralidade por não estar usando o hijab, tradicional véu islâmico utilizado para cobrir o cabelo. Durante o período em que ficou detida, Masha precisou ser internada e veio a falecer, após ficar três dias em coma.
As autoridades afirmaram na época que a jovem teria tido um ataque cardíaco, após ser levada à delegacia para ser “convencida e educada”. Familiares da vítima negam que Amini sofria de algum problema cardíaco.
Após a divulgação da sua morte, manifestantes e a família de Mahsa acusaram a polícia de terem espancado a mulher e provocado a sua morte e com isso, começaram os protestos que estão sendo atualmente repreendidos.
A polícia da moralidade, responsável por fiscalizar o uso do véu por mulheres no Irã, que é obrigatório, já vem sendo criticada pelas suas intervenções violentas. O código de vestuário está em vigor no país desde a revolução islâmica, em 1979, onde as mulheres começaram a ser obrigadas a cobrir o cabelo com o véu e usar roupas largas para encobrir o formato de seus corpos. Aquelas que descumprirem a norma enfrentam repreensões públicas, multas e até mesmo a prisão.
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