O embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster, divulgou na noite desta sexta (8) uma foto ao lado do presidente Joe Biden. É a primeira vez que o líder americano, que tomou posse no começo do ano passado, aparece ao lado de uma autoridade brasileira na Casa Branca.
De acordo com a postagem de Forster, a visita ocorreu na última segunda-feira (4). “No dia 4 de abril, tive a honra de visitar o presidente Biden, na Casa Branca, e transmitir-lhe os melhores votos do presidente [Jair] Bolsonaro e seu apreço pela amizade entre nossos países”, escreveu o embaixador. “Fundada em visão de longo prazo, a parceria que une o Brasil e os EUA é benéfica para ambos.”
O texto não detalha o que foi tratado na conversa. Procurada pela reportagem para comentar a reunião, a embaixada brasileira em Washington respondeu que, por ora, não há outras informações disponíveis sobre o encontro. A Casa Branca também não divulgou informações. O encontro não constou da agenda pública de Biden do dia 4.
O americano assumiu o cargo em janeiro de 2021 e, desde então, não teve nenhuma conversa bilateral com Bolsonaro. Apesar disso, houve várias conversas entre ministros brasileiros e seus homólogos de Washington. O conselheiro de Segurança Nacional John Sullivan chegou a viajar a Brasília e se reunir com o presidente brasileiro no Palácio do Planalto.
Bolsonaro buscava se alinhar a Donald Trump, que buscou a reeleição e foi derrotado pelo democrata nas eleições de 2020. O brasileiro, aliás, demorou mais de um mês para reconhecer a vitória de Biden –que foi contestada pelo adversário, com a alegação de fraudes jamais comprovadas.
Desde então, a relação teve momentos de aproximação e trocas de farpas. O americano, por exemplo, convidou o Brasil para participar de cúpulas sobre meio ambiente –tema no qual o próprio Bolsonaro já manifestou publicamente ter diferenças em relação a Biden– e sobre democracia –assunto alvo de reiteradas críticas de congressistas em Washington em relação ao brasileiro.
Neste ano, um motivo de tensão foi a viagem de Bolsonaro à Rússia, que se deu em meio à tensão com a Ucrânia, que mais tarde desembocaria na guerra. Em 16 de fevereiro, o brasileiro esteve com Putin e se disse “solidário” a Moscou, sem especificar a que aspecto manifestava solidariedade.
No dia seguinte, o Departamento de Estado comentou a declaração com palavras duras. “O momento em que o presidente do Brasil expressou solidariedade com a Rússia, justo quando as forças russas estão se preparando para lançar ataques a cidades ucranianas, não poderia ser pior”, disse um porta-voz da pasta. “Isso mina a diplomacia internacional direcionada a evitar um desastre estratégico e humanitário.”
Logo depois foi a vez de a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, falar. “Eu diria que a vasta maioria da comunidade global está unida em sua visão de que outro país tomando parte de sua terra, aterrorizando seu povo, é certamente algo não alinhado aos valores globais. Então, penso que o Brasil pode estar do outro lado em que a maioria da comunidade global está.”
Algumas semanas depois, porém, o governo Biden ensaiou acenos ao Brasil, ao elogiar a postura do país no Conselho de Segurança e no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Diplomatas brasileiros votaram a favor de resoluções condenando a Rússia pela invasão da Ucrânia.
“Cada voto para responsabilizar o Kremlin por essas ações horríveis importa. Os EUA estão orgulhosos de ficar ao lado do Brasil para defender os direitos humanos de todos na Ucrânia”, postou Brian Nichols, secretário-assistente para o Hemisfério Ocidental no Departamento de Estado, no começo de março.
Dias antes de embarcar a Moscou, em encontro com o peruano Pedro Castillo, Bolsonaro se disse disposto a se reunir com Biden. “Brasil é Brasil, Rússia é Rússia. Faço relacionamento com o mundo todo. Assim como se Joe Biden me convidar, estarei nos EUA com o maior prazer”, afirmou.
Folhapress