Brasil defenderá diálogo com Putin no G20, após Rússia pedir apoio em carta

Palácio do Supremo Tribunal Federal na Praça dos Três poderes em Brasília

Fabrício de Castro, Brasília, DF (UOL/FOLHAPRESS)

O Ministério da Economia vai defender uma posição de diálogo com a Rússia nas discussões do G20 (grupo das 20 maiores economias globais), do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial. A postura será adotada pelo ministro Paulo Guedes nas reuniões das três organizações que acontecerão na próxima semana, em Washington, nos Estados Unidos. Guedes embarca para lá no domingo (17).

A Rússia tem sofrido sanções de diversos países após ter invadido a Ucrânia e começado uma guerra no país. Em carta enviada a Guedes nesta semana, o país pediu apoio do Brasil para evitar acusações políticas e supostas tentativas de discriminação em organismos multilaterais. A carta chegou justamente na semana que antecede os encontros do G20, do FMI e do Banco Mundial.

De acordo com o secretário de Assuntos Econômicos Internacionais do Ministério da Economia, Erivaldo Gomes, o entendimento no ministério é de que as “pontes” construídas entre os países na área econômica não podem ser destruídas. A visão é de que seria preciso evitar “atitudes emocionais” no atual momento.

“Romper canais de comunicação, a gente vê como uma maneira de você não ter como discutir o problema e buscar as soluções. Independentemente de quem seja, queremos que canais de comunicação estejam funcionando”, afirmou.

Desde o início das hostilidades no leste europeu, o governo brasileiro tem evitado confrontar o governo de Moscou. O presidente Jair Bolsonaro (PL) visitou o presidente russo, Vladimir Putin, em fevereiro, pouco antes do início da guerra. Na ocasião, sem citar a Ucrânia, Bolsonaro afirmou ser “solidário à Rússia”.

No Brasil, com o conflito já em andamento, Bolsonaro defendeu uma posição neutra em relação à Rússia. Ao mesmo tempo, o Itamaraty apoiou, no início de março, resolução contra a Rússia na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).

Mais recentemente, em votação que decidiu pela suspensão da Rússia do CDH (Conselho de Direitos Humanos) das Nações Unidas, o Brasil optou por se abster.

Guedes estará em Washington entre 17 e 23 de abril, para reuniões do G20, do FMI e do Banco Mundial. Ele e outros membros do ministério também se encontrarão com investidores e terão encontros bilaterais com representantes de outros países.

Nesse período, mesmo que a guerra entre Rússia e Ucrânia permeie as conversas, a equipe econômica diz que não tratará especificamente das sanções impostas à Rússia pelos Estados Unidos e por países europeus.

A avaliação é de que Guedes não deve entrar no assunto, que seria da alçada da política internacional, sob responsabilidade do Ministério das Relações Exteriores.

Em Washington, o ministério prevê discussões sobre o problema das cadeias globais de transporte e do custo dos fertilizantes, em função da guerra.

Haverá ainda debates sobre os efeitos econômicos da pandemia, o custo da energia e a segurança alimentar nos países. No Banco Mundial, um dos temas será a dívida pública nos países.

Guedes tentará posicionar o Brasil como uma “solução” e um “porto seguro” para investidores. O discurso é de que o país fez o “dever de casa” das reformas e, por isso, se tornou mais resistente a turbulências, como a atual.

A defesa do Brasil como um porto seguro para investimentos vem sendo feita pela equipe econômica desde o início da guerra. A intenção é mostrar que o Brasil estaria preparado para receber eventuais fluxos de recursos que, antes, estavam aplicados em outras regiões, inclusive na Rússia.

Os dados do Banco Central mostram que em 2021, apesar da pandemia do novo coronavírus, o Brasil recebeu US$ 46,4 bilhões em IDP (Investimento Direto no País) – investimentos considerados produtivos, feitos em novas fábricas ou em empresas já em funcionamento. A cifra, no entanto, ainda está abaixo do verificado antes da pandemia: em 2019, foram US$ 69,2 bilhões.

O Ministério da Economia também vai defender nos encontros em Washington que o Brasil é a solução para a segurança alimentar dos países.

Segundo o ministério, o país, que já é um grande fornecedor de alimentos para o mundo, pode se tornar ainda mais importante na área neste momento de turbulência global.

A guerra entre Rússia e Ucrânia tem elevado os preços de commodities exportadas pelo Brasil, como soja e milho. Neste aspecto, a balança comercial brasileira tem se beneficiado das cotações mais altas.

O problema é que, por outro lado, estes produtos também são consumidos no mercado interno. Isso se reflete em preços mais elevados nos supermercados.

Os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, nos 12 meses até março, o óleo de soja subiu 23,75% no mercado interno, o milho em grão teve alta de 23,36% e o frango inteiro (muito dependente do preço do milho) ficou 16,11% mais caro.

Com informações da Folhapress.

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