‘Pessoal da cidade não entende que os recursos naturais são limitados’, diz pantaneiro

Pantaneiro

Em expedição, jornal O Estado conversou com famílias que moram às margens do Rio Paraguai

“Aqui nós estamos acostumados a conviver com o mínimo de recursos. Ou seja, não podemos desperdiçar nada, pois sabemos que amanhã poderá faltar.” É com esta frase, retirada da sabedoria popular, que Waldemar Magalhães, 78, dá uma aula de economia doméstica e coletiva para todos.

Ele mora sozinho, sem energia elétrica, ao pé da Serra do Amolar, no Pantanal sul-mato-grossense. O personagem ficou conhecido durante uma expedição de jornalistas a essa região, que é uma das mais afastadas do Estado de Mato Grosso do Sul.

Uma visão compartilhada por todos os integrantes do grupo é a sensação de ter voltado no tempo, ao menos 70 anos. Ao chegar à residência simples de Magalhães, logo nos deparamos com um fogão de lenha, que, além de servir para cozinhar alimento, ainda ajuda a aquecer o imóvel nos dias mais frios.

No entanto, o que mais chama a atenção é a alternativa encontrada por ele para gerar energia para sua geladeira. Ele usa um sistema com botijão de gás para que o equipamento funcione.

“Claro que dessa forma eu não consigo congelar meus alimentos. Ela apenas esfria eles, serve para beber uma água fria. Uma panela de arroz ou carne não pode ficar nela por mais de dois dias. Eu tenho gerador, mas o preço do combustível está muito alto.”

Custo alto

O Brasil atravessa uma crise hídrica. Com isso, a capacidade de geração das usinas hidrelétricas da Bacia do Rio Paraná, que abastece a Região Centro-Oeste, foi diminuída e, para não ocorrer um apagão no país, as usinas termelétricas tiveram de ser acionadas. A mudança fez a bandeira tarifária chegar ao nível vermelha 2, a mais cara desde a implantação do sistema em 2015.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, orientou a população a economizar água e energia, principalmente nos horários que vão das 18h às 21h.

Mas, antes mesmo da orientação governamental, Waldemar revelou a sabedoria popular que deveria ser aplicada. “Eu já morei na cidade, e observava o tanto que o pessoal de lá desperdiçava água e energia. Um banho, na água quente, tem gente que fica quase 1 hora. Isso é falta de juízo para mim. Aqui é diferente, a geladeira por exemplo, não pode ficar aberta, pois cada minuto que ela fica desse jeito, demora mais para conservar o alimento. Pegou o que precisa dentro dela, fecha, mas na cidade é diferente”, ensinou.

Apesar de morar às margens do Rio Paraguai, Waldemar diz que isso não garante a ele o benefício de desperdício de água. “Quando eu falo para um parente meu tomar um banho rápido, eles reclamam e falam: ‘Olha o monte de água que temos em volta’. Porém, para puxar a água do rio eu tenho uma bomba que utiliza gasolina, sendo que ela está muito cara. Eu falo para essas visitas: companheiro, quer ficar de molho, vai para o rio, o chuveiro não é lugar”, sorri, após relembrar a bronca.

“Eu tenho experiência em morar aqui. A vida sem muitos recursos não é fácil. O que é diferente em uma cidade, porque eles acham que têm água na torneira, pode desperdiçar, mas, quando acontece uma seca e falta água, reclamam”, complementa. Leia a reportagem completa na edição impressa do Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul

 

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