Festa do interior pode ser patrimônio cultural do Brasil

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Em processo de se tornar também patrimônio cultural brasileiro, o evento Banho de São João, celebrado em Corumbá e Ladário, teve o aviso de tramitação publicado no Diário Oficial da União pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A solicitação foi feita pela Fundação de Cultura do Pantanal e já se passaram mais de 30 dias. Agora o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural decide se a festa será reconhecida para todo o Brasil.

Para Sandro Asseff, assessor executivo da Fundação de Cultura de Corumbá, a ação faz parte de uma série de lutas da Prefeitura Municipal de Corumbá para salvaguardar as riquezas materiais e imateriais da cidade, o que acontece há anos. Corumbá tem uma pluralidade cultural rica, tanto nas manifestações imateriais como materiais. Exemplos disso são o Casario do Porto, obras de artes e praças.

único

“O Banho de São João é único, uma das representações mais importantes e é secular. Mais de 100 andores, mais de 100 festeiros participam e levam até o Rio Paraguai para a renovação do batismo e devoção. O Rio Paraguai se transforma, em metáfora, no Rio Jordão. O registro nacional está, se Deus quiser, em fase de conclusão, mas já é patrimônio imaterial do Estado desde a década passada”, explica Assef.

A festa não é a única a passar pelo registro, Sandro conta que a Festa da Nossa Senhora do Carmo está no mesmo processo. Ela é padroeira do Forte Coimbra. A sequência é o município reconhecer o patrimônio cultural, depois o estadual e agora acontece o processo de análise para se tornar nacional. Sem revelar dados, Sandro Asseff, ressalta que estavam confiantes sobre o Plano Nacional de Vacinação ser concluído nos primeiros quatro meses de 2021, mas pela demora de vacinas e insumos, deve ficar mais para frente.

“Vamos focar na responsabilidade de controlar o avanço da doença. É muito cedo para falar de eventos presenciais, voltar o Banho como era antigamente e voltar o carnaval, até que a vacinação nacional seja concluída. Esses assuntos não serão tratados agora. Vamos trabalhar na linha dos eventos virtuais e questões educativas neste primeiro semestre”, revela.

Asseff, diz que todo o fundo da Fundação de Cultura foi praticamente todo utilizado com os artistas locais e muitos projetos inovadores com a Lei Aldir Blanc. “Vamos prestar contas agora, entrei agora e não me recordo do valor exato, mas foram devolvidos no máximo 100 reais do fundo. O orçamento deste ano é algo em torno de 13 milhões de reais”, destaca.

Banho de São João

Esta manifestação cultural religiosa e festiva acontece na virada do dia 23 para o dia 24 de junho e seu auge é quando diversas procissões carregam andores até as margens do Rio Paraguai e banham a imagem de São João nas águas. A crença é que a ação transforma em águas milagrosas do Rio Jordão, onde o santo teria sido batizado. A época também marca o início de um novo ciclo da natureza no Pantanal, onde acontece o aumento dos pastos, abundância de peixes e algo divino lavando e purificando os pecados.

Os andores percorrem a Ladeira Cunha e Cruz até as margens do rio. É uma tradição viva oriunda de Portugal que “revive” o ritual do batismo de João Batista. Corumbá é a única cidade brasileira a manter esta tradição secular. Sua importância tamanha, não é das ruas para casa, mas ao contrário. Começa com os devotos preparando comidas típicas, rezando pelas graças alcançadas e pedidos de novas bençãos. Há agradecimento pelos pedidos respondidos e muitos cumprem as promessas já feitas.

Já os andores podem ser pequenos, médios ou grandes. Eles têm suas particularidades e os devotos os levam ao ponto de encontro na Ladeira Cunha e Cruz. Existem uma reverência a eles cultuada pelos chamados festeiros nos três momentos: descida, subida e nas margens do rio Paraguai. Como todo evento religioso massivo, os cortejos emanam cânticos direcionados à São João acompanhado por violões, sanfonas e bumbos.

Porém, não é só devoção, fé e louvor. Há cobrança de mulheres que querem se casar. Elas participam da festa com o intuito de fazer do santo católico João, casamenteiro. Mas, está tudo dentro da tradição. Esta afirma que se a pessoa ou pessoas interessadas passarem sete vezes debaixo dos andores, o casamento será realizado no próximo ano.

O cântico emitido em devoção é logo depois da louvação ao santo: “Deus te salve João/Batista sagrado/O teu nascimento/Nos tem alegrado”. Sincronizado na sequência a banda puxa o som de do carnaval. Em alegria, o povo pula, dança e canta: “Se São João soubesse que hoje era o seu dia/ Descia do céu à terra/Com prazer e alegria”. Já nas águas, o povo devoto grita “Viva São João”se banhando, tocando a imagem e exaltando a religiosidade. No sincretismo, a umbanda eleva um batuque às margens do rio como forma de anunciar entidades em um grande terreiro enquanto isso, os pagadores de promessa se prostram. No retorno, a tradição é o andor subir a ladeira e quem está junto cumprimenta quem desce.

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