Três-lagoense disputa os Jogos depois de superar períodos turbulentos e ter só 5 meses de treino
A sexta-feira do dia 27 deste mês será especial para Silvânia Costa. A sul-mato-grossense de 34 anos será um dos nomes do paratletismo brasileiro a competir no primeiro dia dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. A recordista mundial do salto em distância na categoria T 11 (para deficientes visuais) passou longe da vida fácil nos últimos anos. Pandemia, suspensão por doping (em que foi absolvida) foram alguns perrengues que a três-lagoense enfrentou neste ciclo rumo ao Japão, onde no começo do mês desembarcou com o primeiro grupo de paratletas do Brasil.
Há dois anos, Silvânia foi afastada das competições em razão de uma acusação de doping. A suspensão a tirou do Parapan de Lima. “Para mim foi o momento mais difícil da minha carreira. Fiquei sem a parte técnica, sem condições financeiras, sem conseguir treinar no alto rendimento, com os melhores profissionais. Mas a minha capacidade, força de vontade, foi muito maior do que as minhas condições”, fala a sul-mato-grossense.
Provada a sua inocência, a sua missão foi turbinar o pouco tempo de preparação até a Paralimpíada. “Esse ciclo de Tóquio, para mim, foi bastante complicado. impostas pela COVID. “A pandemia limitou bastante, mas não impediu a gente de conseguir fazer as atividades.
Embora estou treinando há cinco meses e vou competir com as meninas que estão se preparando há cinco anos”, argumenta. “Tive de adaptar os treinos, não tinha condições financeiras. Fui para fazenda, a gente amarrou um saco com areia dentro, com corda, amarrava na cintura, fazia todo trabalho de tração. Isso mostrou para mim que a pessoa não precisa ter condições, basta ter muita garra e força de vontade que as coisas acontecem. O resto, as coisas acontecem naturalmente”, receita Silvânia.
“A medalha de Tóquio vai vir com sabor de superação. Vou entrar com garra, fé e minha determinação, que é muito maior que a minha capacidade física. Competição para mim, nada mais é do que um dia de treinamento. Se esse dia eu estiver bem dedicada, bem concentrada, com certeza vocês vão conseguir ouvir o hino, levantar a bandeira no lugar mais alto do pódio”, garante. Além da defesa do ouro, no salto em distância, Silvânia disputa no mesmo dia os 400m. “Minha prova específica, que eu vim preparada, é o salto em distância, com certeza vou estar fazendo o meu melhor. Meu objetivo é repetir Rio 2016, conseguir trazer novamente a medalha para o meu país”, afirmou a três-lagoense à reportagem, já direto do país do sol nascente, no domingo (15), por mensagens de voz. Já nos 400m, admite que não nutre expectativa por pódio.
Silvânia foi a melhor em sua prova na última edição dos Jogos, com a marca de 4,98m, e confirmou seu favoritismo, ao superar no último salto a concorrente da Costa do Marfim, Brigitte Diasso, 4,89m. O bronze foi para outra brasileira, Lorena Spoladore, com 4,71m.
Paratleta comemora vaga do irmão em cima da hora
Ricardo Costa de Oliveira também foi ouro no salto em distância, na Rio 2016. Porém, sua classificação para Tóquio teve requintes de suspense. “Até a última hora, a gente não tinha certeza de que o Ricardo viria. Ele não conseguiu fazer o índice por conta de uma lesão no joelho”, relembra Silvânia, à reportagem.
O final feliz aos irmãos Costa veio na reta final de preparação até o embarque rumo à Ásia. “Eu estava fechando a mala quando ele me mandou uma mensagem falando que tinha acabado de receber um convite do Comitê Internacional para poder participar. Fiquei muito feliz porque a fé, a certeza de que ele viria, não tinham morrido dentro de meu coração.”
(Texto: Luciano Shakihama)