Aos 80, karateca faz exame para faixa preta

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Auxiliadora lembra começo, aos 65, algumas paradas e cita tripé físico, mental e espiritual

“Comecei a treinar karatê com 65 anos, quando acompanhava meus netos Victor e Rafael, nos treinos. Meus netos eram pequenos, na faixa de 6 a 8 anos. Eu simplesmente apreciava as aulas e aos poucos, eu comecei a me interessar pela prática do karatê, como uma filosofia de vida.”

A fala é de Maria Auxiliadora Puccini, que, nesta terça-feira (12), em Campo Grande, encara o exame de faixa preta de 1º grau, aos 80 anos.

Corumbaense nascida em 24 de maio de 1943, Auxiliadora faz parte de grupo de seis pessoas acima dos 65 anos que frequentam a Academia Muryokan.

“Apesar de ter interrompido a prática do karatê algumas vezes, em função das limitações da idade (por exemplo, menisco rompido), e também por algumas viagens ou pelo período de pandemia, nunca deixei de considerar o karatê como parte do meu crescimento como ser humano, no seu tripé físico, mental e espiritual”, responde, por meio de mensagens, à reportagem, a experiente karateca.

Hélio Arakaki elenca os benefícios da arte marcial para a faixa etária. “A prática do karatê pela população idosa irá contribuir para o fortalecimento muscular, que tem grande contribuição para a prevenção da osteoporose, proporciona maior flexibilidade, diminuindo, assim, riscos de queda”, argumenta o professor. “[Ajuda] no bem estar geral e [dá] maior autonomia no dia a dia, proporcionado uma expectativa de vida longa, saudável e prazerosa”, prossegue ele, também em entrevista, por mensagens de texto, respondida no sábado (9).

Sua aluna endossa as palavras do treinador. “Pude continuar vivenciando a prática do karatê, enriquecendo minha vida, tendo a plena consciência da importância do equilíbrio mente, corpo e espírito, dentro da proposta do karatê tridimensional, na metodologia desenvolvida pelo sensei Hélio Arakaki”, conta Auxiliadora.

Superar desafios 

As aulas para karatecas acima dos 60 anos têm de ser ministradas em ritmo diferente. “[É necessário] ter a sensibilidade de promover um trabalho diferenciado, respeitando as limitações decorrentes da idade e, principalmente, estimular a capacidade deles superarem os desafios que a aprendizagem do karatê exige”, relata o sensei.

O exame de faixa está previsto para esta terça-feira, na própria academia, e, deve contar com a presença dos também senseis Antonio Moura e Cícero Muniz, assim como Arakaki, todos do 7º dan (na classificação de faixas pretas, dan significa grau). A avaliação tem aval da FKMS (Federação de Karatê de Mato Grosso do Sul), e é fechada ao público.

Mais atenção à população idosa 

Para Hélio Arakaki, atividades voltadas para a população idosa ainda engatinham. “Infelizmente, essa faixa etária ainda carece de atenção e disponibilização de espaço para a prática física especializada. No karatê, são poucos professores que se dedicam para a terceira idade. Quanto a competições, encaro o karatê não como modalidade desportiva, mas como uma filosofia de vida”, argumenta o sensei.

Ele atenta para a lacuna social a ser preenchida: “Sem dúvida nenhuma, é necessário, sim, olhar com atenção para essa população crescente de pessoas idosas, no sentido de promover um significado de vida, uma autoestima, além de proporcionar a prevenção de doenças diante de um quadro em que o sistema de saúde está em colapso”.

Por Luciano Shakihama.

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