Quase 100 credores esperam receber de cerealista de MS, que está em recuperação judicial

Reprodução/Semadesc
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Quebra na safra de 2021 teria sido uma das motivações para as complicações financeiras da empresa 

A AGM Trade Cereais Ltda., empresa com matriz em São Gabriel do Oeste, acumula R$ 170 milhões em dívidas, firmadas com 98 credores. Com problemas financeiros, a empresa entrou com processo de recuperação judicial, em fevereiro. Um dos agravantes seria a quebra da safra de 2021, período em que ocorreram perdas nas lavouras, devido a condições climáticas adversas.

 Um dos credores, representante da empresa que presta consultoria de soja, milho e arroz, e preferiu não se identificar, disse à reportagem do jornal O Estado que o pedido de recuperação judicial, sem avisar ninguém, pegou todos de surpresa. “Ficamos sabendo quando saiu na mídia, não tivemos uma informação antes, para nos preparar, com a possibilidade de uma situação assim”, revelou.

 “A recuperação judicial é sempre complicada. Os planos de pagamento, o congelamento de juros, os prazos para os pagamentos são em 10 anos. Então, temos medo, sim, de não receber. Até porque, na maioria das vezes, o credor não consegue receber ou acaba recebendo de forma fracionada. Não é um cenário agradável para quem está esperando o dinheiro”. 

Complementando, o credor ressalta que nunca pensou que a cerealista poderia entrar com recuperação judicial. “Não estávamos preparados e não sabemos como irá prosseguir esse processo. Vamos ter que participar de assembleias para saber como tudo vai funcionar, ao nosso favor”, finalizou o responsável por uma das empresas que integram a lista de dívidas da AGM. 

Dentre os principais credores estão produtores de grãos, que utilizaram o serviço da empresa para intermediar a venda de sua produção agrícola, além de fornecedores e empresas de pequeno e médio porte. 

O processo tramita na Vara de Falências, Recuperações, Insolvência e Cartas Precatórias Cível, de Campo Grande. Ao jornal O Estado, representando a AGM Trade, o advogado Carlos Henrique Santana esclarece que a empresa, atualmente, atravessa uma crise econômica sem precedente em sua história.

Sobre a ação de recuperação, o profissional explica que o objetivo é garantir a preservação das atividades empresariais da empresa. “Esta medida foi imprescindível para que a empresa honrasse com seus compromissos, com fornecedores, funcionários, parceiros, clientes e credores, com o menor impacto possível, como sempre aconteceu, ao longo de sua história, de mais de 20 anos de atividades”, pontuou. 

Em complemento, o advogado destaca que, para a AGM, a concessão da recuperação judicial é o início de uma nova etapa, pois ela fornece as garantias e a segurança necessárias para uma negociação ampla e definitiva de todas as pendências, com seus credores. “A AGM está otimista com este passo dado, ciente das dificuldades, mas com o mesmo engajamento para superar a crise e voltar a sua estabilidade financeira, conquistada pela relação com todos seus clientes e fornecedores. Neste momento, a diretoria renova seu profundo respeito pela necessidade individual de cada credor”, disse o advogado Carlos Henrique. 

Conforme Santana, os autos estão na fase de impugnações e fechamento do quadro de credores pelo administrador judicial e aguardando o escoamento do prazo para apresentação do plano de recuperação judicial.

AGM Cereais 

A AGM Trade Cereais Ltda. tem sua matriz estabelecida na cidade São Gabriel do Oeste, contando com mais duas filiais, em Dourados e em Humaitá, no Rio Grande do Sul.

Atua na comercialização de commodities para o mercado interno de Mato Grosso do Sul, exportação e para o mercado tributado (vendas para outros Estados), sendo esse último o seu maior volume de negócios.

 Realiza intermediação de serviços e negócios agropecuários, com foco na comercialização atacadista de cereais. Por meio de corretores, executa a compra dos produtos (soja, milho, trigo, arroz e sorgo) de cooperativas, ou diretamente de produtores e cerealistas, fazendo a retirada dos armazéns para os destinos finais.

Recuperação judicial 

Conforme relatado pela AGM Cereais, no processo judicial, a situação atual do negócio estaria em xeque. 

De acordo com informações da própria corretora, no momento em que foi apresentado o pedido de recuperação judicial, a cerealista contava com montante de R$ 25 milhões, entre ativos e caixa. “Ativos de elevado valor e de uma posição de caixa, no montante superior a R$ 25 milhões, somada à reconhecida expertise e competência da empresa, além dos bons indicativos do mercado em que opera”, ressaltou a empresa, na justificativa para a suspensão da execução das dívidas ativas. 

Em determinação judicial, o juiz responsável, José Henrique Neiva de Carvalho, decidiu pela suspensão de ações de cobrança ajuizadas contra a empresa, bem como negativação em órgãos de proteção de crédito por 180 dias, podendo ser prorrogado por mais 180 dias. 

Sendo assim, a empresa frisa, no pedido, que a preservação de suas atividades empresariais é parte importante do processo, a qual encontra- -se ameaçada pela eminente possibilidade de vencimento antecipado das dívidas financeiras, o que inviabilizaria a continuação de suas operações, em virtude do ataque dos credores, expondo as requerentes a um cenário pré- -falimentar.

Por Evelyn Thamaris e Marina Romualdo  – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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