Quando a agricultura enfraquece, todos os ramos da economia sofrem, afirma Aprosoja/MS
A safra de soja 2023/2024, cultivada em solo sul-mato-grossense apresentou queda de 21,8%, de acordo com levantamentos acompanhados pela Aprosoja-MS (Associação dos Produtores de Soja de MS). Os dados demonstram um spoiler do faturamento a menos que os produtores deixaram de ganhar (- R$ 11 milhões), a pesquisa foi realizada em 1.905 propriedades. Esse cenário de perda no campo é algo que reflete em outros setores da economia.
Para o presidente da Aprosoja/MS, Jorge Michelc, toda a sociedade perde quando a produção no campo cai. “Olhando pelo aspecto financeiro do produtor do nosso Estado, em comparação com a safra anterior, haverá uma diminuição aproximada em seu fluxo de caixa na ordem de 11 milhões de reais a menos, comprometendo sensivelmente sua capacidade de fazer frente a todos os seus compromissos, pois quando a agricultura enfraquece, todos os ramos da economia sofrem com a queda da colheita”, reflete.
As lavouras de soja ocupam 4,2 milhões de hectares de Mato Grosso Sul. Do total produzido, pouco mais de 70% vão para a exportação. Os principais mercados consumidores do grão são a China (68%) e a Argentina com (23%). O Estado ocupa a quarta posição no cenário nacional de produção da proteína. Na safra 2023/2024, Mato Grosso do Sul expandiu sua área de soja (4,2 milhões) em 5,2% em comparação com o ciclo anterior. No entanto, a produtividade foi de 48,84 sc/ha (sacas por hectares), considerada de queda. A produção resultante foi de 12,3 milhões de toneladas, uma retração de 17,7%.
A dúvida que surge é sobre qual motivo ocorre essa queda na agricultura. As mudanças climáticas, e a principal delas: a estiagem, é apontada por especialistas e pesquisadores no campo. Já que o primeiro impacto da seca na produção agrícola e pecuária é a redução da produtividade, realidade nas lavouras de soja.
“Este ano, a área de soja atingiu um novo recorde, continuando sua tendência de crescimento constante. No entanto, a seca deste ano prejudicou a produção, que poderia ter mantido a média de crescimento dos últimos 10 anos de 6,8%”, relata o coordenador técnico da Aprosoja MS, Gabriel Balta.
Em relação à produção total, houve uma redução na estimativa inicial de 1,47 milhão de toneladas, ou seja, uma queda de 10,6%. Ao analisar o histórico dos últimos 10 anos, fica evidente a perda na eficiência no cultivo da soja. De acordo com o analista econômico da Aprosoja/MS, Mateus Fernandes, para evitar perdas na comercialização dos grãos, devido a uma baixa nos preços, uma das estratégias que têm sido adotadas pelos agricultores é o carrego de estoques para comercialização futura.
“Essa prática visa tirar vantagem dos momentos mais favoráveis através da armazenagem do grão para ser comercializado em períodos mais propícios, quando os preços estiverem maiores. A tomada de decisão nessa estratégia requer uma análise cuidadosa das condições de mercado, incluindo preços futuros e prêmios oferecidos. Outra análise que deve ser feita também é a de capacidade estática de armazenagem, visto que existe um déficit na capacidade de armazenagem de grãos que pode, inclusive, impactar de forma negativa no preço, trazendo perdas ao invés de ganhos na comercialização”, alerta.
Ainda segundo o analista, é preciso estar atento também à situação climática do país, visto que catástrofes podem impactar na oferta de grãos. Essa análise deve sempre levar em consideração o efeito da demanda interna e externa, visto que elas podem influenciar no preço da soja.
Os cinco municípios que lideram o ranking de produtividade nesta safra são Alcinópolis (75,5 sc/ha); Costa Rica (74,53 sc/ha); Chapadão do Sul (71,81 sc/ha); São Gabriel do Oeste (64,57 sc/ha) e Sonora (59,79 sc/ha).
Brasil, produção de grãos
A safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas deve ser de 299,6 milhões de toneladas em 2024, segundo a estimativa de abril do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, divulgada neste mês pelo IBGE. Isso representa uma produção 5,0% menor do que a obtida no ano passado (315,4 milhões de toneladas). Na comparação com a estimativa de março, houve um aumento de 0,4% ou de 1,2 milhão de toneladas.
A produção de soja, principal commodity do país, cresceu 0,9% na comparação com o previsto em março e deve chegar a 148,3 milhões de toneladas. Essa quantidade equivale a uma retração de 2,4% na comparação com o total produzido no ano passado.
Os efeitos causados pelo fenômeno climático El Nino, caracterizado pelo excesso de chuvas nos estados da Região Sul e falta de chuvas regulares com elevadas temperaturas no Centro-Norte do Brasil, trouxeram, como consequência, uma limitação no potencial produtivo da leguminosa em boa parte das unidades da federação produtoras.
Na distribuição da produção de grãos pelas Unidades da Federação, o Mato Grosso lidera como o maior produtor nacional de grãos, com participação de 28,0%, seguido pelo Paraná (13,4%), Rio Grande do Sul (13,3%), Goiás (10,6%), Mato Grosso do Sul (8,3%) e Minas Gerais (5,6%), que, somados, representaram 79,2% do total. Regionalmente, o Centro-Oeste (47,2%) lidera esse ranking, enquanto as demais regiões têm as seguintes participações: Sul (28,9%), Sudeste (9,2%), Nordeste (8,7%) e Norte (6,0%).
Por Suzi Jarde
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