Preço dos alimentos ainda terão a influência do efeito El Niño em 2024

agricultura
Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Economistas alertam para outros fatores que
devem elevar a inflação nos supermercados

El Niño se tornou um dos assuntos mais comentados no ano passado, isso porque seus efeitos climáticos mexem diretamente no bolso dos consumidores. Atingindo, primeiramente, o setor de agricultura e resultando no aumento de preços nos supermercados. E segundo especialistas, a previsão é que esses reflexos continuem a ser sentidos neste ano, conforme destacou o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

“O cenário de 2024 tende a ser mais desafiador, porque pintou o El Niño. Ele já vem provocando alterações de clima, e isso é ruim para a agricultura. O receio é que o fenômeno possa afetar as safras, atrasando o plantio ou a colheita. Este ano não vai refletir o cenário de 2023, e isso vai pesar mais para as famílias de baixa renda. Os alimentos voltam para a cena”, explica.

De uma outra perspectiva, o professor de ciências econômicas da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Odirlei Dal Moro, acrescenta novas interferências nos preços. “A variação nos preços dos alimentos depende de outras variáveis, mas, a princípio, não vejo no El Niño motivo suficiente para explicar uma alta ou baixa dos preços. O preço dos alimentos sempre estarão sujeitos a sazonalidades. O El Ninho existe há bastante tempo, então não vejo que será muito diferente dos últimos anos. Eventualmente alguma variação poderá ocorrer, mas dentro do intervalo geralmente esperado”, analisa.

As chuvas intensas, o tempo quente e seco, característicos do El Niño prejudicam principalmente lavouras de hortaliças (alface, agrião, cebolinha, couve, etc) conforme explica a pesquisadora e economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em Mato Grosso do Sul, Andreia Ferreira.

“O efeito é mais rápido, visivelmente, nos itens do campo, comercializados in natura e nos processados, também chega – e a depender do produto, pode se estender para além do período de colheita. Os hortifrútis, especialmente, têm produção local e estadual”, esclarece a economista.

Grãos

Além de afetar a produção de culturas de ciclo mais curto, como hortifrúti, a mudança na distribuição de chuvas causada pelo El Niño pode mexer com as cotações de commodities como soja e milho no mercado internacional.

Os grãos servem como base para a fabricação de rações, o que traz risco de reflexos nos preços das carnes. “Se o mercado entende que haverá atrasos nas safras, começa a alterar suas expectativas”, afirma o economista André Braz.

No acumulado de 12 meses até novembro de 2023, a alimentação no domicílio acumulou queda de 1,14%, conforme o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Os alimentos subiram nos anos seguintes no IPCA, com destaques para as variações registradas em 2020 (18,15%), 2021 (8,24%) e 2022 (13,23%).

Nesses três anos, a inflação da comida foi pressionada por uma combinação de fatores que incluiu problemas climáticos e encarecimento de insumos com a pandemia e a Guerra da Ucrânia.

Inflação

A inflação oficial do Brasil fechou 2023 a 4,62%, o menor nível anual desde 2020. A taxa é medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o resultado na quarta- feira (10). O Boletim Focus do BC (Banco Central) divulgado na última segunda-feira (8), com projeção para os principais indicadores econômicos, como a inflação, prevê que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2024 se mantenha em 3,9%. Para 2025 e 2026, a projeção da inflação também permaneceu no mesmo patamar, em 3,5% para os dois anos.

A estimativa para 2024 está acima do centro da metade inflação que deve ser perseguida pelo BC. Definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), a meta é de 3% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior 4,5%.

Para 2025 e 2026, as metas de inflação estão fixadas em 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Para o mercado financeiro, a inflação do ano passado deve ficar em 4,47%.

Motivos que elevam a Inflação

Um aumento nos índices de inflação pode ser influenciado por diferentes causas, uma delas é o aumento na demanda, cenário muito comum nas prateleiras dos supermercados. Quando há pouca quantidade de um determinado produto que muitas pessoas querem consumir, o preço do produto tende a subir para equilibrar a oferta com a procura.

Outro fator é pelo aumento ou pressões nos custos de produção, por exemplo, quando o preço da energia elétrica aumenta. Toda a indústria que precisa de eletricidade na sua produção passará a pagar mais caro por isso e, eventualmente, precisará repassar esse custo ao intermediador e ao consumidor final.

Já a inércia inflacionária e expectativas de inflação, é uma causa que está relacionada ao processo em que a inflação passada gera uma expectativa de inflação futura. Por exemplo, os reajustes de salários, aluguéis e outros serviços, podem levar a uma inércia inflacionária porque são baseados em um período anterior.

Preços globais

Os preços internacionais medidos pela FAO , agência da ONU para agricultura e alimentação, acumularam em 2023 uma queda de 13,7% em comparação ao ano anterior. Assim, a tendência de alta registrada desde o início da pandemia foi interrompida pela primeira vez.

A categoria de óleos vegetais foi a que mais contribuiu para a queda média dos alimentos no ano passado, recuando 32,7%. Na sequência aparecem os lácteos (-16,5%), cereais (-15,4%) e as carnes (-3,5%). O açúcar foi a única categoria que registrou valorização (26,7%) no ano passado.

Ainda que os preços internacionais dos alimentos tenham recuado em 2023, a FAO já identifica alguns movimentos que podem interromper essa tendência. Os cereais, por exemplo, começam a reagir aos efeitos climáticos provocados pelo El Niño no Brasil.

Em dezembro, os preços dos cereais interromperam dois meses consecutivos de queda e subiram 1,5%. Depois de quatro meses recuando, o trigo voltou a se valorizar.

Por Suzi Jarde.

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