Praga quarentenária da mandioca pode afetar MS e derivados da raiz

Foto: Divulgação/Abam
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Fungo atinge lavouras no Amapá e traz preocupação para o mercado de alimentos do Estado

O Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) confirmou a detecção do fungo Ceratobasidium theobromae (Rhizoctonia theobromae) em lavouras de mandioca no estado do Amapá. Também conhecida como “vassoura de bruxa”, esta é a primeira vez que a praga quarentenária é detectada e provoca grandes prejuízos nas plantações do Brasil. Embora longe da região centro-oeste e mesmo com uma possibilidade remota, especialista afirma que é possível que o fungo transite entre os estados e chegue até Mato Grosso do Sul.

O pesquisador em Fitopatologia na Embrapa Mandioca e Fruticultura, Saulo Alves Santos de Oliveira, explica que os riscos do fungo transitar de uma região a outra “sempre existem”. Embora neste primeiro momento esteja restrito apenas a região do Oiapoque, no Amapá, é preciso ter cuidado.

“Só foi detectado lá por enquanto essa doença, mas ele precisa de condições específicas para ocorrer. A gente ainda não entende muito o fungo, porque ele só foi relatado em mandioca no ano passado [2023] na Ásia, antes disso, não se sabia que ele poderia causar doenças em mandioca, mas acabou aparecendo no Brasil também”, explica o especialista.

“O ideal é que os produtores não adquiram materiais que venham da região do Amapá, principalmente da região do Oiapoque”. – Pesquisador em Fitopatologia na Embrapa Mandioca e Fruticultura, Saulo Alves Santos

Para MS, embora exista o risco, Santos tranquiliza os produtores. “Não é comum acontecer no caso de MS, porque as variedades são bem-adaptadas, existe um outro tipo de variedade e no primeiro momento não é comum ocorrer esse fluxo de material do norte para o centro-oeste e centro-sul, mas existe o risco, embora ele não seja tão grande, porque a doença ainda está contida em determinada área e o Mapa tem tomado algumas providências junto com a Diagro (Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária do Estado do Amapá)”, garante o pesquisador sobre a influência do fungo neste primeiro momento.

O principal problema dentro da temática de uma praga desconhecida, é a dificuldade de controlá-la. Afinal, para sanar as dificuldades, é preciso traçar estratégias de manejo para reduzir os efeitos, a severidade e garantir a produtividade, que tem sido altamente na região, já que o grande problema tem sido às populações indígenas do Amapá e populações vizinhas. “Ela está causando alguns problemas relativamente grandes nas aldeias indígenas, então diferentes aldeias têm tido problema, porque uma das principais fontes de alimentação para os povos indígenas na região, acaba sendo a mandioca e como a praga tem uma destruição muito grande das plantas, a colheita tem sido muito ruim, em alguns casos até eles não têm conseguido colher o material e o governo tem tentado ajudar com outras coisas, com recursos para que eles adquiram outros tipos de alimentos”, pontua Santos.

Entenda o caso

As PQA (pragas quarentenárias ausentes) são definidas como aquelas “de importância econômica potencial para determinada área em perigo e ainda não presentes”, conforme estabelecido pela NIMF (Normas Internacionais para Medidas Fitossanitárias) nº 5, da CIPV (Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais).

Os sintomas da doença caracterizam-se por ramos secos e deformados, nanismo e proliferação de brotos fracos e finos nos caules. A praga foi constatada pelos técnicos da Embrapa Amapá nos plantios de mandioca das terras indígenas de Oiapoque, município do estado do Amapá, localizado na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. Se encontra presente também nos municípios de Calçoene e Amapá, localizados imediatamente ao sul do município de Oiapoque.

A diretora do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas, Edilene Cambraia, argumenta que “a presença deste patógeno representa risco de redução significativa na produtividade das plantas de mandioca”.

Com a evolução da doença, é comum a ocorrência de clorose, murcha e seca das folhas, morte apical e morte descendente das plantas. A dispersão pode ocorrer por meio de material vegetal infectado, ferramentas de poda, além de possível movimentação de solo e água. Segundo Nota Técnica da Embrapa, a movimentação de plantas e produtos agrícolas entre regiões pode facilitar a dispersão do patógeno, aumentando o risco de infecção em novas áreas.

Com a confirmação oficial da presença da praga pelo Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Goiânia, técnicos do Mapa se dirigiram ao Amapá onde discutiram o problema e as ações de defesa fitossanitária com autoridades locais e especialistas da Embrapa local e da Embrapa Mandioca e Fruticultura.

Por Julisandy Ferreira

 

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